A sociedade vai registando visíveis mudanças em todos seus órgãos que preenchem a sua função. Não sendo ela estática, em bom rigor, é normal que ela seja mutável de acordo com o peso do tempo. Porém, nos últimos anos, impressiona a celeridade que ela se vai modificando. Seguramente, a revolução digital é responsável por essa galopante mudança da sociedade.
Essa revolução digital, indiscutivelmente, vai depondo práticas seculares em vários quadrantes da vida social. Há muito que se questiona sobre a existência da soberania do Estado na era digital.
Hoje, as fronteiras dos Estados tornaram-se mais imaginárias do que reais – no tocante às múltiplas relações que os cidadãos mantêm com o mundo à sua volta. Os limites territoriais contam apenas para os mapas da geografia.
Portanto, o Estado westfaliano funcionalmente está em apuros com esse crescente desenvolvimento da internet. Por tantas e mais mudanças que a internet tem causado, as relações de poder não ficam de fora. Com a era digital, o poder vai se apresentando mais volátil e esparso.
Foi nessa ótica que Moisés Naim, editor da renomada revista científica (Foreign Policy) fundada pelo cientista político Samuel Huntington, curou a sua obra “O fim do poder” – diga-se título apocalíptico, para nos pôr ao corrente de como o poder vai perdendo força e gás nas últimas décadas. Curiosamente, essa viragem de página tem moldado o poder em todas as formas que ele se manifesta.
Na esfera da política, o poder está perdendo aquela característica mais imperativa, coerciva e opressora. O smart power, que na visão de Joseph Nye é a combinação do [hard power e soft power], domina as relações de poder na conjuntura interna e externa.
O espaço digital está absorvendo quase todas actividades humanas. A economia, a política, a cultura, as relações de interesses, a religião e outras manifestações humanas vão-se condensando no digital. No entanto, até o crime vai ganhando mais aparição no espaço digital.
As redes sociais estão a dissolver o nevoeiro que encoberta as fraquezas do poder – e dos poderosos. O poder observa um quadro polarizado com um número crescente de actores novos e menores de múltiplas origens. E esses novos actores estão usando um roteiro muito diferente daquele que costumava ser o guia dos actores tradicionais, refere Moisés Naim.
O poder na actualidade não é fixo ou tão pouco quantificável. Na verdade, a dimensão do poder de qualquer pessoa varia de acordo com a situação e o contexto.
Vezes sem conta – indivíduos que acordam convictos do seu absoluto poder, mas perdem-no ao cair do dia. Os novos e pequenos actores conseguem operar acções nas redes sociais com repercussão global.
A perspectiva do poder não é simplesmente de manter a relação de vencedores e perdedores, pois nos tempos atuais surgiram novos espaços de contrapor, vetar e combater a característica esmagadora do poder.
Existe uma erosão nas malhas que segmentam o poder. Por isso, o poder vai ganhando o espectro de mais regulação social, gerando valores que possibilitam a satisfação mútua.
Com a era digital, o poder vai ganhando um novo formato. O poder hoje é mais fácil de ser conquistado, mais difícil de ser gerido e perde-se de forma instantânea.
O número de actores que disputam é maior, assim também são os métodos que contornam as variáveis tradicionais de proteção do poder. As barreiras de acesso ao poder do passado estão a enfraquecer com uma força lacerante.
Pelo mundo afora, Presidentes de Estado, Primeiros-ministros e outros altos responsáveis do Estado demitiram-se por um gesto ou conduta que foi considerado incúria nas redes sociais.
Contudo, o poder tornou-se difuso. Às vezes, custa identificar onde reside o poder real, uma vez que o mesmo pode estar centrado num indivíduo com um smartphone fora da burocracia estatal.
Por: BENJAMIM DUNDA
“Politólogo”