O relatório aponta que o governo chinês e os seus representantes estão entrincheirados em redes corruptas em África, ajudando a encorajar e capacitar os cleptocratas locais que procuram enriquecer à custa das suas populações O novo relatório do Fórum Internacional de Estudos Democráticos aponta que a Rússia e a China têm reforçado as redes cleptocráticas em África e minado a democracia nesse continente, com destaque para o papel do grupo Wagner nesse processo.
Num debate virtual organizado pelo Fundo Nacional para a Democracia, uma organização nãogovernamental norte-americana que visa promover a democracia noutros países, vários especialistas abordaram, ontem, as conclusões do relatório e apontaram como Pequim e Moscovo têm desempenhado “um papel crucial na viabilização da cleptocracia” em toda a África Subsahariana.
Para JR Mailey, especialista da Iniciativa Global Contra o Crime Organizado Transnacional, o grupo mercenário russo Wagner posicionou-se como “tudo aquilo o que um Governo cleptocrata poderia querer e precisar”.
“O Wagner é, de certa forma, um estudo de caso único porque tudo o que eles fornecem é uma espécie de kit de ferramentas rápido e sujo para se sobreviver como uma cleptocracia isolada(…).
Simplesmente foram enviados instrutores para ajudar a reforçar a capacidade de um Governo para a segurança orientada para o regime, é disso que se trata universalmente.
Eles ajudam a influenciar a opinião pública e não de forma a suavizar corações e mentes, mas, num sentido mais amplo, minam a capacidade dos adversários”, disse Mailey sobre a atuação do Wagner em África.
De acordo com o relatório do Fórum Internacional de Estudos Democráticos, o motim de curta duração levado a cabo pelo grupo Wagner em Junho na Rússia “colocou em evidência um dos obscuros tentáculos globais da influência da Rússia”.
“Numa altura em que Moscovo está cada vez mais isolado diplomaticamente e economicamente, os interesses comerciais corrosivos do grupo Wagner e as relações acolhedoras em partes de África – com alguns dos regimes mais diplomaticamente isolados do continente – revelam até que ponto uma rede global de apoio cleptocrático tomou forma”, diz o relatório.
Mailey frisou que o apoio militar oferecido pelo grupo paramilitar russo aos cleptocratas africanos tem pouco a ver com o fornecimento de segurança e estabilidade ao povo africano. Em vez disso, concentrase na extracção de recursos, na promoção de objectivos geopolíticos e em “servir como uma engrenagem brutal na máquina autoritária”.
“Mesmo que o destino final do Grupo Wagner permaneça incerto, é pouco provável que estas tendências diminuam. As relações económicas opacas que o grupo Wagner desenvolveu no continente são, sem dúvida, demasiado lucrativas para que o Kremlin se renda”, defendeu.
O relatório aponta também que o Governo Chinês e os seus representantes estão entrincheirados em redes corruptas em África, ajudando a encorajar e capacitar os cleptocratas locais que procuram enriquecer à custa das suas populações.
Além do envolvimento chinês de longa data nas indústrias madeireira e extractiva, Andrea Ngombet Malewa, fundador do Coletivo Sassoufit – organização que defende a democracia na República do Congo -, destacou a criação de um Banco Sino-Congolês para a África que permitiria aos cleptocratas contornar os requisitos de transparência dos bancos ligados ao ocidente, proporcionando assim oportunidades de branqueamento de capitais com impunidade.
De acordo com o relatório, a cleptocracia é uma das principais causas do subdesenvolvimento, de violações dos direitos humanos e das guerras no continente africano.