A ministra da Saúde de Angola e presidente do comité dos Ministros da Saúde da SADC, Sílvia Lutucuta, afirmou recentemente que, no contexto actual, os Estados membros devem aumentar o acesso equitativo aos serviços de saúde, à água potável em quantidade e qualidade, saneamento básico e higiene, no envolvimento e na participação comunitária visando comportamentos saudáveis, de modo a evitar mais mortes por cólera, que tem crescido nos últimos dois anos
Nos últimos dois anos tem-se registado surtos recorrentes de cólera na região africana, exacerbados pelas mudanças climáticas que afectam profundamente o território. Em 2023, registou-se a nível dos Estados membros da União Africana um número de mortes alarmante, comparativamente a 2022, já que três mil e 590 pacientes foram a óbitos, sendo o Malawi o epicentro da doença, agravado por um ciclone devastador. Segundo Sílvia Lutucuta, na região da SADC, os principais países de preocupação são a Zâmbia, o Zimbabué, Moçambique e a República Unida da Tanzânia.
Adicionalmente, na semana passada, a África do Sul notificou três casos importados do Zimbabué. O surto deste ano foi agravado pela época festiva, as chuvas e as inundações que serviram de rastilho para uma nova onda de casos, situação que poderá se agravar ainda mais em função da época de chuva mais intensa que se avizinha. Os surtos de cólera na região da SADC estão a ocorrer num contexto de catástrofes naturais como inundações, secas, crises humanitárias e múltiplos surtos de outras doenças, incluindo o Monkey Pox, o sarampo e a covid-19.
Sílvia Lutucuta referiu que os principais factores continuam a ser o acesso inadequando aos serviços de saúde, à água potável, o deficiente saneamento do meio ambiente e o financiamento sustentável para uma resposta eficaz. “É imperativo fortalecer a vigilância epidemiológica, laboratorial, ambiental, promover a vigilância de meios de transportes através dos pontos fronteiriços portuários, aeroportuários, rodoviários e ferroviários, assim como a vacinação e a promoção do CREC junto das comunidades, com informação e conhecimen- tos necessários sobre a prevenção e controlo da doença”, disse Lutucuta.
De acordo com Sílvia Lutucuta, deve-se reconhecer que a saúde influencia a produtividade de todos os sectores, pessoas e meios de subsistência, impacta tanto na macro como na microeconomia nacional e regional. Neste contexto, a resposta deve ser coordenada, abrangente e holística, envolvendo líderes e membros da comunidade para prevenir e controlar a propagação da cólera de país para país, assegurando o desenvolvimento sustentável dos Estados Membros da Região.
Mais de 16 mil casos de cólera em três semanas
A directora Regional da OMS para África, Matshidiso Moeti, disse que, em apenas três semanas deste ano (de 1 a 21 de Janeiro), em 10 países africanos, incluindo países da SADC (República Democrática do Congo, Moçambique, África do Sul, República Unida da Tanzânia, Zâmbia e Zimbabué), foram reportados 16 mil e 564 casos e 193 mortes (taxa de mortalidade de 1,17%). Dois dos cinco países testemunharam milhares de casos e um número preocupante de fatalidades, destacando a urgente necessidade de acção concertada.
Entre 2000 e 2022, a população de África aumentou de 812 milhões para 1,43 biliões. No final de 2022, 780 milhões de pessoas não tinham serviços básicos de saneamento, enquanto 418 milhões não tinham acesso a água potável. Matshidiso Moeti contou que, apesar destes desafios, as autoridades nacionais de saúde lideraram esforços concertados, com apoio da OMS e parceiros, para combater a propagação da cólera.
Dentre os quais campanhas de conscientização pública para promover boas práticas de higiene, campanhas de vacinação reactivas, com mais de 20 milhões de doses administradas em áreas de alto risco desde 2023 até à data, e fornecimento de água potável e iniciativas de purificação de água em áreas críticas, uma parte cara, mas importante das respostas.
A OMS defende incansavelmente a maior produção de vacinas, em parte através de contacto direto com Estados membros fabricantes de vacinas, reuniões bilaterais e multilaterais, conferências de imprensa, organização de dias científicos sobre vacinas contra a cólera, influenciando agendas de pesquisa, apoiando países no desenvolvimento dos seus planos de vacinação e muito mais.
“Infelizmente, este apelo ainda não produziu os resultados necessários”, lamentou a directora regional da OMS para África, Matshidiso Moeti. Disse ainda que, neste contexto difícil de escassez aguda de vacinas, instam a comunidade global e os parceiros, particularmente os países afectados pela cólera, a juntarem-se a este apelo para garantir que cada indivíduo em risco tenha acesso a esta ferramenta vital.
“A produção de vacinas contra a covid-19 mostrou que a implementação dessas medidas é possível”, lembrou. Em 26 de Janeiro de 2023, a OMS classificou a situação global da cólera como uma emergência de saúde pública de grau 3 multi-regional, após avaliar o risco como muito alto.