Jornalista, mestre em Comunicação Social, pelas Universidades de Oriente Santiago e de Havana, Cuba, Arlindo Isabel é o actual director-geral e editor da Mayamba Editora, a instituição que tem o compromisso de promover a produção e a difusão da ciência e do imaginário cultural do povo angolano, com mais de 300 títulos publicados em 12 colecções, em 156 meses
A pouco menos de dois meses da celebração dos seus 13 anos de actividade literária, e com o lema “Ler É Desvendar o Mundo”, o Editor Arlindo Isabel fala dos desafios no domínio literário, das suas publicações ocorridas neste percurso, e dos mais de 60 títulos em 2022, dos quais a Colecção Especial “O Centenário” é a mais recente que homenageou o Médico, o Poeta, o Intelectual e Fundador do Estado Angolano, Dr. António Agostinho Neto (1922-2022).
Que balanço faz do trabalho da Mayamba Editora, 10 anos após a sua criação?
Nos últimos 13 anos a completar no dia 8 de Março deste ano de 2023, a Mayamba, um projecto totalmente angolano, demonstrou que é possível manter uma actividade constante e de alta qualidade quer do ponto de vista estético como dos conteúdos seleccionados e publicados para consumo público.
Publicou mais de 350 títulos em 12 colecções.
Portanto, só posso afirmar que o balanço é positivo dentro dos condicionalismos do nosso país Como surge no Mercado Nacional e como está hoje em termos de produção literária?
A Mayamba Editora surge da necessidade de ocupar um espaço no mercado editorial de Angola, assumindo-se como um intermediário qualificado e válido entre os que produzem e reproduzem o imaginário cultural e a ciência do nosso país, e os consumidores, que somos todos nós que temos necessidades de nos ilustrarmos todos os dias, através da leitura, o mesmo que dizer para nos humanizarmos todos os dias.
Em termos de produção, com a prudência necessária, a Mayamba está bem, pelo menos tem cumprido com o seu plano editorial anual.
O que marcou a Editora neste percurso?
A ideia de que é possível manter de pé um projecto importante para a produção de bens simbólicos. A Editora preparou-se para enfrentar os desafios próprios da área e a realidade às vezes agreste do país.
Quais são as obras mais solicitadas?
As obras mais solicitadas são as científicas (ligadas às Ciências Sociais e Humanas, Economia, Direito, etc.), uma vez que são normalmente utilizadas como material de apoio no ensino universitário (docentes, investigadores e os estudantes).
Quantos livros a Editora publicou durante o recém-terminado ano 2022?
Em 2022 a editora publicou mais de 60 títulos.
Como está a Mayamba em termos de colecções e qual delas é a mais recente?
Sendo uma editora generalista, publica todos os géneros literários e obras de pesquisa e investigação científica.
A Mayamba Editora dispõe de 12 colecções, o que permite acomodar cada obra numa colecção em função da afinidade temática.
A colecção mais recente é a Colecção Especial “O Centenário”, que visou homenagear o médico, poeta, intelectual e fundador do Estado angolano – Dr. António Agostinho Neto (1922-2022).
Livros em destaque?
As obras em destaque são normalmente as mais recentes. Para além destas, a Editora criou o projecto “Autor do Mês”.
Em cada mês aprova-se um autor para celebrar e destacar as suas obras, numa iniciativa que inclui destaque das suas obras na livraria em todo o mês, venda e sessões de autógrafos (que se realiza no princípio e no fim do mês).
Como está também a Editora em relação ao material?
Questões relacionadas aos materiais de produção de livros afectam directamente as gráficas e posteriormente as editoras e os leitores.
As gráficas recorrem ao mercado externo (importação) para a compra de materiais, como os químicos e o papel, situação que torna os serviços de impressão mais caros para as editoras e, consequentemente, os livros acabam por ter um preço muito alto.
E quanto às temáticas?
Obviamente, as temáticas são diversas, porque diversos os autores e diversas as áreas de abordagem.
Sendo uma editora generalista, a diversidade e a pluralidade é a sua divisa.
Neste percurso de 13 anos, a Mayamba publicou livros de diversas áreas do saber da literatura à ciência, passando pela literatura infanto-juvenil.
Assuntos culturais, políticos, económicos, sociológicos, antropológicos, religiosos, financeiros, etc., são temas em obras literárias e não literárias que a editora tem publicado.
A Mayamba editou muito, recentemente, uma Colecção Especial dedicada ao Centenário de Agostinho Neto.
Quantos autores congregou e quantos exemplares disponibilizou?
Sim. Com a celebração do Centenário do Dr. António Agostinho Neto em 2022, a Mayamba Editora juntou-se à homenagem, concebendo e concretizando uma colecção especial designada “O Centenário” ao Primeiro Presidente da República de Angola, enquanto homem de cultura e político.
Nesta colecção, que é a mais recente, a editora editou sete obras de autores angolanos, que estudaram o legado político e cultural de Agostinho Neto em diferentes perspectivas.
A colecção é composta por seis (6) obras de autores individuais e uma (1) colectiva, coordenada e organizada pelo Professor Manuel Muanza. Os autores individuais são: professores Paulo de Carvalho, Manuel Muanza, António Quino, Bernardo Miguel, Mário Ferraz e João Papelo. Foram editados e disponibilizados no geral 7000 exemplares, a razão de 1000 exemplares de cada título.
Já agora, qual tem sido a qualidade das obras dos mais novos autores que chegam a Mayamba?
Na Mayamba, as obras não são avaliadas em função da idade do seu autor, mas sim pela qualidade intrínseca da própria obra. Quando recebemos uma proposta editorial não perguntamos a idade do seu autor.
Quando é que foram lançadas as Coleções Omõla-Umalehe e Kinkulu Kyetu e como têm sido distribuídas?
A colecção “Omõla-Umalehe” foi lançada em 2011 com a edição do livro Nsinga o Mar, no Signo do Laço, de Amélia Dalomba.
O que nos tem a dizer sobre a Mayamba Escolar/Educação?
A Mayamba Escolar/Educação é uma das colecções da editora que visa reunir manuais escolares, livros científicos de diversas áreas e outros textos complementares de apoio ao ensino geral e universitário.
E a Mayamba Bilingue?
A colecção Bilingue procura incentivar a produção e acolher obras escritas em línguas angolanas, valorizando um dos principais elementos da nossa identidade africana – as nossas línguas.
Como está a Mayamba em termos de concorrência?
Em termos de concorrência, podemos afirmar que existem as editoras que antecederam a criação da Mayamba e outras que vêm surgindo nos últimos anos.
É bom que surjam mais editoras, porque a demanda editorial é grande e não há capacidade de nenhuma Editora, individualmente, absorver essa procura, quer por razões de infra-estruturas, quem por razões financeiras, além de um mercado do livro ainda incipiente.
Como foi articulada a produção literária durante os dois anos de confinamento a que o País foi submetido por força da Covide-19 e que avaliação faz quanto aos prejuízos?
A Covid-19 afectou de modo sério a edição e limitou, obviamente, a promoção e a circulação do livro.
Os prejuízos podem ser avaliados nos quase um milhão e oitocentos mil exemplares acumulados no armazém.
Quais foram as obras que retomaram a produção após o confinamento?
Apesar do confinamento, não parámos. Houve sim um abrandamento do ritmo da edição, tendo sido publicados poucos títulos.
Qual é a percepção que tem do Mercado Livreiro angolano actualmente?
O mercado livreiro é muito desafiador, principalmente tratandose de um país em que poucas pessoas têm o hábito de leitura, onde os custos de impressão de uma obra são muito elevados e o tempo de venda de um título de 1000 exemplares pode levar muitos anos.
Que aspectos devem ser corrigidos ou melhorados no seu entender?
No meu entender devem ser desenvolvidas várias estratégias que visam fomentar o gosto pela leitura desde a infância.
As instituições de ensino (geral e universitário) e os encarregados de educação devem incentivar as crianças e os jovens a ler, demostrando a importância da leitura para o desenvolvimento pessoal, profissional e intelectual.
Qual é o lema da Mayamba Editora?
Ler é Desvendar o mundo. É um facto que “quem pouco lê, pouco se conhece a si mesmo e pouco conhece o mundo em que vive e pouco preparado estará para os desafios pessoais, profissionais e colectivos.
Outras considerações a acentuar?
Angola não conseguirá produzir profissionais e cidadãos que gostaria de ter sem proporcionar às crianças e aos jovens uma educação assente na leitura.
Preocuparse com a educação de um filho e de uma Nação é lhe disponibilizar livros. Livros em casa, nas bibliotecas das creches, das escolas e das universidades.
A Mayamba Editora tem este compromisso: promover a produção e a difusão da ciência e do imaginário cultural do povo angolano.
O editor Arlindo João Carlos Isabel é jornalista de profissão, licenciado e Mestre em Comunicação Social pelas Universidades de Oriente Santiago e de Havana, Cuba.
Especializou-se em Política Cultural, opção “Concepção, Decisão e Gestão Cultural” pela Universidade Paris 3, Sorbonne Nouvelle de Paris, França.
Foi director geral (1994-2000) do extinto Instituto Nacional do Livro e do Disco (INALD) do ex-Ministério da Cultura e, sucessivamente, director do Gabinete do ViceMinistro da Cultura para a Área da Cultura no ex-ministério da Educação e Cultura (1999-2000), director do Gabinete do SecretárioAdjunto do Conselho de Ministros (2000-2004) e Administrador Executivo da Imprensa Nacional– EP (2005-2009).
Criou e dirigiu a Editorial Nzila (1999-2009) e, é desde 2010, editor literário e director-geral da Mayamba Editora, de que é fundador.