A falta de emprego e o elevado custo de vida fazem com que muitos responsáveis de famílias procurem outras formas de subsistência, de modo a manter o “fogão aceso” em casa. Eis que, com a chuva que tem caído na cidade de Lunada, nos últimos tempos, muitas mulheres, no mercado do Kikolo, município de Cacuaco, identificaram uma oportunidade de negócio.
Uma vez que o acesso ao mercado fica impossibilitado, com muita água e lama, o aluguer de botas a 300 kz tornou-se num negócio lucrativo. Os clientes que não querem sujar os calçados, muito menos se sujeitar em apanhar alguma doença por pisar naquela lama preta, aceitam desembolsar aquele valor. “É uma forma honesta de ganhar o pão de cada dia e sustentar os pequenos”, dizem.
Deste modo, de um lado estão as que alugam um par de botas no valor de 300 kz, e, enquanto os clientes fazem as compras no mercado, estas mesmas pessoas cuidam dos calçados. Por outra, estão as que lavam os pés, a 50kz, àqueles clientes que não alugam botas.
Clementina António, vendedeira do mercado acima referido, disse que chega no local por volta das 7 horas. No tempo seco trabalha como zungueira de bolachas, mas quando vêm as chuvas, procura um ponto que lhe facilita alugar as botas, que lucra muito mais. É um aumentona arrecadação de receita que considera importante. A fonte fez saber que carrega na sua banheira dez pares de botas, e consegue levar para casa, diariamente, acima de cinco mil kwanzas.
“As sextas e sábados são os dias que o mercado tem mais clientes, pelo que conseguimos levar o dobro dos dias normais”, disse, com um sorriso no rosto. Para Carlos da Silva, um cliente, esta é uma actividade que tem ajudado bastante as pessoas como ele, que pretendem fazer as suas compras e encontram várias dificuldades de locomoção por falta de saneamento básico. “Eu cheguei desprevenido no mercado, e já estava a pensar em voltar para casa, por causa da lama e água paradas.Quando a senhora chamou por mim e disse que estão a alugar botas, fiquei mais aliviado”, disse.
Mulheres lavam os pés dos clientes
No mesmo mercado, um outro grupo de mulheres se dedica a retirar a sujeira de lama nos pés dos clientes. No mesmo grupo estão crianças com idade escolar, com 10 e 12 anos de idade, a exercerem a mesma actividade. A lavagem vai para além dos pés, pois alguns também aproveitam a oportunidade para lavarem os calçados. Cobram de 50 a 100 kz, de acordo com a disponibilidade financeira dos clientes.
“Madrinha vem vou dar um brilho nos seus pés podes me pagar 50 kz”, disse, Benvinda Miguel, que deixou de estudar por falta de condições financeiras da família e faz este trabalho com a mãe de modo a que tenham comida em casa. Por sua vez, Madalena Sampaio, uma viúva com quatro crianças sob a sua responsabilidade, também vê a lavagem de pés como fonte de sustento.
“A vida está difícil, eu sou mãe e pai daqueles filhos, não tenho ajuda de ninguém, por isso tenho de fazer qualquer coisa”, defende. A viúva disse que, com a lavagem de pés, consegue levar pelo menos 2000 kz diariamente em casa. “Pelo menos, os filhos não passam fome”, sustentou