Nenhuma sociedade está isenta desse fenómeno que, infelizmente, se normalizou e se insere cada vez mais nas relações sociais. Segundo Allport (1954), o preconceito representa um julgamento prévio, sem análise profunda, que muitas vezes leva a actos de intolerância e discriminação.
Em Angola, essa prática social gera divisões e reforça estereótipos, desvalorizando culturas e formas de expressão locais e acentuando desigualdades entre comunidades.
Parte I – OQue é Preconceito?
O preconceito, como se afirmou há instantes, é uma atitude hostil ou negativa dirigida a uma pessoa simplesmente porque ela pertence a um grupo ao qual atribuímos características indesejáveis. Essa prática envolve opiniões preconcebidas, desprovidas de uma análise crítica, que moldam comportamentos e fomentam a intolerância.
Em Angola, essas atitudes refletem uma sociedade marcada por um passado colonial que privilegiava certas línguas e práticas culturais enquanto desvalorizava as tradições locais.
Além disso, a perpetuação de ideologias, valores e crenças de certos grupos sobre outros tem contribuído para a criação de estereótipos que ignoram a diversidade cultural e linguística do país.
Essa dinâmica reforça uma visão limitada do mundo e promove comportamentos etnocêntricos, onde uma cultura considera-se superior às demais. Tipos de Preconceito O preconceito pode ser materializado de diversas maneiras, incluindo o preconceito racial, religioso, sexual, cultural, linguístico e social.
Parte II – O Preconceito Cultural em Angola
O preconceito cultural manifesta-se como o pré-julgamento em relação aos costumes e valores de outros grupos. Em Angola, isso é evidente nas divisões entre etnias, como as tensões entre Bacongos e Ovimbundos ou entre Nyanekas e Ambundos.
Para melhor nos aclararmos, o etnocentrismo pode ser definido como uma visão de mundo onde um grupo considera suas próprias práticas como “normais” e superiores, julgando as demais como erradas ou absurdas.
Esse comportamento é comum quando indivíduos ovimbundos, por exemplo, criticam os hábitos dos Bacongos, gerando conflitos e falta de entendimento. Como se inferiu, essa crítica se assenta na forma de vestir, sua língua, dançar etc.
Para reduzir tais conflitos, é fundamental que os angolanos valorizem as diferenças culturais como elementos que enriquecem a sociedade, em vez de as verem como ameaças à identidade.
Essa valorização da diversidade exige que os angolanos compreendam a história e a importância de cada grupo cultural, lembrando que cada uma das etnias e culturas do país é parte essencial de sua identidade nacional.
Parte III – O Preconceito Linguístico no Contexto Angolano
O preconceito linguístico, segundo Marcos Bagno (1999) é a discriminação baseada na maneira como as pessoas se expressam verbalmente. No contexto angolano, observa-se frequentemente que falantes de línguas nacionais são discriminados ou ridicularizados.
As línguas locais são muitas vezes vistas como “inferiores”, em comparação com o português, o que reflete uma herança colonial que persiste na mentalidade de algumas pessoas.
Recentemente observamos algo lamentável, uma situação em que um jovem do Bié foi criticado por seus amigos por dizer “ndinheiro” ([ⁿdi’eu]) e “mbanana” ([ⁿba’nɐnɐ]) em vez de “dinheiro” ([di’ ejru]) e “banana” ([ba’nɐnɐ]).
Esse comportamento representa um desprezo pela estrutura da língua Umbundo, que usa sons nasais para letras como B e D, ao contrário do português. Tal como observa Bourdieu (1991), as diferenças linguísticas muitas vezes são usadas para estabelecer fronteiras entre o que é considerado “correcto” e o que é “inferior”, criando exclusão e perpetuando desigualdades.
O Que Fazer para Extinguir o Preconceito?
Para reduzir e eventualmente eliminar o preconceito, é essencial que as instituições angolanas, desde escolas a igrejas e associações, promovam uma educação que valorize a diversidade cultural e linguística.
O ensino deve reforçar o respeito e a valorização de todas as variantes linguísticas, mostrando que a língua é uma expressão cultural e que cada dialecto carrega história e identidade próprias.
Além disso, as instituições de ensino angolanas devem incluir temas que incentivem uma sociedade mais justa e igualitária, abordando conceitos de cidadania e ética desde a educação básica.
Isso contribui para a formação de cidadãos conscientes da riqueza cultural de Angola e dispostos a contribuir para uma sociedade mais inclusiva e sem preconceitos.
Por: João Ngumbe