Em países multilingue, como Angola, por exemplo, o revisor, para mim, é imperioso que conheça o funcionamento rigoroso da língua oficial, por ser a língua de trabalho e a língua que, maioritariamente, se vai deparar durante o seu exercício como revisor, mas, claro, não pode deixar de lado as outras línguas que constituem o mosaico linguístico do país onde reside ou faz o seu trabalho.
Quero com isso dizer que os revisores não podem, unicamente, se preocuparem na revisão linguística do Português, devem também fazer a revisão em palavras de outras línguas que estiverem na obra para termos uma revisão com maior qualidade.
Só para constar, por exemplo, da nossa afirmação, vamos dar uma olhada às obras literárias construídas em Angola e perceberemos o conjunto de palavras não se configuram no padrão gráfico das línguas nacionais, como o Kimbundu, Umbundu, Cokwe, só para exemplificar.
É preciso, no não conhecimento do funcionamento destas línguas por parte do revisor, o órgão competente contratar ou consultar revisores formados nesta área. A obra “Rosas e Munhungo” do escritor João Tala pode ser um exemplo disso.
A palavra “Munhungo” apresenta uma grafia que não se enquadra no padrão gráfico das línguas Bantu, pois, de acordo à grafia das línguas nacionais, seria “munyungu”.
O mesmo podemos constatar na recente obra do do escritor angolano José Eduardo Agualusa, “Vidas e Mortes de Abel Chivukuku”, onde, por exemplo, verificamos vários antropónimos e alguns topónimos que se desvinculam do padrão gráfico das línguas nacionais. Fora das obras citadas como exemplo, existem várias e tantas outras nesta situação.
O estranho é que acertam tão bem na escrita de uma palavra inglesa, russa ou outra, por exemplo, e erram nas palavras escritas nas nossas próprias línguas, apresentando o aportuguesamento como defesa da péssima escrita das palavras nas línguas nacionais; se assim for, por que não aportuguesar também as palavras escritas em inglês, francês, russo ou outro idioma? Ou só as línguas nacionais devem ser aportuguesadas? Nota-se que as questões linguísticas em Angola é mais político em detrimento a académico, penso eu. Basta olhar por aquilo que as academias lutam para colocar as línguas nacionais no mesmo pé de igualdade com a língua portuguesa e ambas terem o mesmo prestígio.
Talvez os políticos acham que existe uma língua superior ou inferior a outra, o que do ponto de vista linguístico não há, é o mesmo que pensarmos que existe uma cultura superior ou inferior a outra, é mera utopia.
Vê-se a luta constante de revisões linguísticas quando há erros de escrita na língua portuguesa. São, várias vezes, convidados especialistas na matéria em programas televisivos para debates sobre assunto do género.
Olho para os programas em línguas nacionais ( e não só) da TPA e alguns programas da TV Zimbo e em jornais que circulam no país, percebo tantos erros de escrita nas línguas nacionais, mas nada se fala e tudo fica assim.
Será que não existe erros de escrita nas línguas nacionais? Ou só no português é que consta erro de escrita? Essa forma como romantizam a desvalorização das línguas nacionais é muito preocupante.
É mais fácil, fazer sair uma nota que fale sobre os erros gráficos no português cometidos por certas entidades, o difícil é fazer o mesmo com erros gráficos nas línguas nacionais.
Tanto os Bantus, os Lundas, o cuando cubango, o nhaneka, o topónimo cuanza e tantos outras escritas que circulam nas mídias, constituem erros gráficos nas línguas nacionais, mas passa com maior facilidade, já uma gralha do “s” na pluralização na escrita portuguesa, é motivo de reuniões, baixo-assinado e tantos decretos sobre isso. Portanto, é urgente pensarmos na política linguística do país, bem como na efectividade das línguas nacionais no sistema de ensino no país.
Por: Khilson Khalunga