Etimologicamente, a palavra Literatura remete para a arte de escrever que, aliada à preocupação de pendor estético, abarca um conjunto de diferentes saberes.
Na mesma senda, a Literatura vai, numa outra acepção, englobando um conjunto de obras literárias de reconhecido valor estético, pertencentes a um determinado país.
Conforme no Dicionário Houaiss Electrónico da Língua Portuguesa (DHELP, 2007), a aula consiste, em princípio, na prelecção sobre determinada área de conhecimento, feita por professor e dirigida a um ou mais alunos, geralmente em estabelecimento de ensino, por período de tempo específico.
Tendo em vista o conceito de aula supracitado, consideremos, para o caso da Língua Portuguesa, a existência das aulas de Exploração Vocabular, Exploração Gramatical, Produção Textual e de Leitura e Interpretação do Texto, na qual nos cingiremos.
Deste modo, em aulas de leitura e interpretação do texto, o objecto de estudo é, de facto, o texto, por meio do qual se realizam actividades didácticas inerentes à compreensão, análise, interpretação e ao comentário.
Se a Literatura consiste em transmitir a consciência de um determinado espaço sociocultural, seria incoerente, em sala de aulas, a exploração tão-somente de textos fora da realidade do aluno, pois estaria em contacto com o contexto cultura em que não está inserido.
Não é que se deve impedir o conhecimento que não esteja directamente ligado ao contexto sociocultural do aluno, mas é crucial, a prior, o contacto com textos característicos à sua realidade. Deve-se, em primeira instância, primar por textos de autores angolanos em salas de aulas, para que o aluno conheça a sua realidade cultural, social e histórica.
Do contrário, levar-se-á à compreensão de que os conhecimentos à sua volta não tenham utilidade e, cada vez mais, seria exposto a um leque de conhecimento que o afastaria daquilo que o representa enquanto ser com necessidades cultural e intelectual.
Suponhemos, a título exemplificativo, que o aluno nunca teve contacto com a realidade cultural, social e histórica de Portugal e o professor coloque, a seu dispor, uma obra de um autor português, e não só, para ser lida e explorada, decerto que apresentaria dificuldades em construir conteúdos ligados à realidade do povo luso.
Deve-se compreender que cada povo é um povo e cada cultura é uma cultura, porém, o contacto com outras realidades não pode contribuir para o desinteresse das que se está inserida, na medida em que o sentido maior da leitura é de garantir a escrita como um bem cultural no processo de ampliação e compreensão do mundo.
Parafraseando Tavares (2011), o professor deve criar situações que estimulem o indivíduo a pensar, analisar e relacionar os aspectos estudados com a realidade que vive, pois a realização consciente das tarefas de ensino e aprendizagem é uma fonte de convicções, princípios e acções que irão relacionar as práticas educativas do aluno.
No entanto, não estamos a insinuar que o estudo de obras de autores de outras civilizações não seja útil, mas que, em primeira instância, se deve estar exposto à Literatura correspondente às exigências do contexto sociocultural no qual o aluno está inserido, contribuindo para o desenvolvimento da sua personalidade.
Neste âmbito, há necessidade de se pensar nas obras literárias a serem trabalhadas em aulas de Leitura e Interpretação de Textos, a fim de que o aluno não se interesse mais com obras de autores que se distanciam da sua realidade; mas, sim, que o ajudariam na assimilação dos valores sociais, culturais e históricos que o rodeiam.
Por: FELICIANO ANTÓNIO DE CASTRO
Professor de Língua Portuguesa