Na sala de aula, o professor precisa propositadamente confrontar as crenças dos alunos em relação ao que está a ensinar.
Esse exercício fará com que eles busquem e interroguem tudo quanto julgarem verdadeiramente certo. Num desses dias, enquanto professor de língua portuguesa, numa aula sobre sujeitos, interpelou-me certo aluno: — Professor, dizem que considerar a definição de sujeito aquele que pratica acção está errado.
É certo? – calou-se de seguida, com o olhar seguro de que estaria a derrubar-me, caso não o convencesse. O Manuel é daqueles estudantes que não deixava nada passar.
Sempre atento. Porém, indaguei-o: — Onde ouviu ou leu isso, Manuel? Ficaram todos a olhar para ele, esperando que este reagisse, já que parecia muito convicto nas abordagens que apresentava.
Respondeu-me, seguidamente: — Li no facebook, numa página de língua portuguesa. — Será?! – Retorquiu um colega dele. — Sim. – Reforçando a afirmação. — Calma, turma! – Interviemos. Vamos construir frases no quadro e depois discutir se o que o Manuel afirma é verdade ou não, pode ser? — Sim! Unissonamente, responderam-me! Então, escrevi duas frases com os seguintes contextos: a) “O Jamile Bateu o irmão de propósito.” E b) “a Carla adoeceu muito, infelizmente.” — Agora me respondam, turma: se o conceito de que o sujeito já não executa acção alguma está em desuso, como classificar os dois sujeitos com base nos critérios funcionais? — Para mim, em A, quem bateu o irmão é o executor desta acção.
Diferentemente em B, em que a Carla é que está a sofrer por aquilo que lhe acometeu, infelizmente. – Explicou a Marlene, descontraidamente.
— Prestaram atenção à explicação, embora engraçada? – Interroguei-os? — Quer dizer, senhor professor, que o que determina, às vezes, o conceito de sujeito são os contextos de cada frase, permitindo assim que haja imperiosamente frases nas quais a acção é praticada por um agente e noutra não? — Sim, Manuel. É exactamente isso.
Se virmos bem, os contextos são elementos imprevisíveis e imprescindíveis para se estabelecer um conceito. Assim, não é abonatório dizermos que isto está em desuso ou que não se aplica mesmo diante de uma constância de ocorrências que comprovam o facto de o sujeito poder sim ou não praticar uma acção na frase.
Por conseguinte, essas situações só podem ser identificadas num olhar muito crítico, analisando milimetricamente enunciados sem nos apegaràs crenças que obscurecem a verdade comprovada com factos.
Por: GABRIEL TOMÁS CHINANGA