No estudo da semântica, ao consultar-se qualquer gramática de língua portuguesa, há um assunto que aborda as relações de sentido que as palavras têm uma com a outra.
Numa das aulas, enquanto professor de português, num dos colégios—algures da cidade do Lubango, o Nguende acenou-me a mão, perguntando: — Senhor professor, como posso entender as nuances entre as relações de sentido de hierarquia e de inclusão?
Depois dessa pergunta, dirigi-me à classe, com um olhar de quem quisesse indicar alguém, e questionei os alunos: — Alguém pode ajudar o vosso colega?
Ninguém queria arriscar-se a responder. Talvez fosse medo ou coisa igual. Entretanto, de tanto silêncio, senti-me na obrigação de falar e expliquei-lhes: — Classe, para entender um dado assunto, a primeira coisa que se deve fazer é compreendê-lo ou saber defini-lo.
E só se compreende sobre as relações de hierarquia e de inclusão se soubermos o que é uma hierarquia e uma inclusão. Então, até aqui, podemos avançar? — Sim… A turma respondeu-me unissonamente.
— A relação de hierarquia é um estudo da semântica que se circunscreve a duas noções importantíssimas, que são: hiperónimo e hipónimos.
A Mbendi Micaela interrompeu-me, indagando: — O que é um hiperónimo e hipónimo, senhor professor? — Calma aí, menina Mbendi. Respondi-lhe… — Sim, senhor professor! — Vamos aos passos. Podes ter a certeza de que chegaremos lá.
No estudo da relação de hierarquia, o hiperónimo designa o termo mais genérico no qual pode ser incluído ou identificado vários elementos específicos.
Vou explicar-vos melhor: o hiperónimo representa o geral, aquilo que é genérico.
No entanto, os hipónimos representam os termos mais específicos de um hiperónimo.
A seguir a explicação, o Katengue Martins interveio:
— Desculpe, senhor professor.
Pode dar alguns exemplos claros? — Sim, posso. Menina Ngueve, se eu disser animal, qual é a espécie que te viria à mente?
Perguntava à colega ao lado de Katengue.
— Posso imaginar um cão, senhor professor! — E tu, Kalupeteca? — Rato, professor. — E tu, Cangombe? — Cavalo, professor. — Muito bom, meninos.
Se repararem, a palavra ANIMAL designa um termo mais genérico, aquilo é geral, o que faz com que esta seja tida como um HIPERÓNIMO.
Contudo, dentre os animais, vocês citaram O CÃO, RATO E CAVALO, fazendo com que a cada uma dessas espécies, por serem específicas, no conjunto de várias outras, formem os hipónimos do hiperónimo ANIMAL.
Compreendido?
— Sim, senhor professor.
Balanciavam os pescoços como forma de satisfação. — Continuando, a relação de inclusão subordina-se ao estudo de dois termos também: o holónimo e os merónimos.
É HOLÓNIMO aquilo se refere a um todo independentemente de quaisquer das suas partes.
Ao passo que MERÓNIMOS será tudo aquilo que representa as partes do todo.
Seguiu-se uma certa calmaria após a minha explanação: — Menino Ngandu, se te perguntarem o conjunto (quarto, sala, cozinha, casa de banho, varanda, despensa) forma o quê, qual seria a imagem que te viria à mente?
— Seria a de uma casa, senhor professor! — Justifica ainda, menino! — Quando eu penso nessas palavras, imagino logo que são partes de um edifício qualquer. Então, por serem partes dele, dá-me a sensação de ser uma casa.
— Certo, menino. Enalteci-o pela resposta… — Sabem por que ele tem razão, classe? Continuei..! — Não, senhor professor. Responderam-me, com um toque de surpresa.
— É simples, porque uma varanda “sozinha” não pode formar um “todo”, que é a casa. O mesmo se dá às outras partes dela: quarto, casa de banho e cozinha.
— Senhor professor, então se eu disser, volante, motor, pneus, vidros, cadeiras, piscas, e alguém me dizer que me refiro a um automóvel, estes elementos serão tidos como “merónimos” do “holónimo” carro?
— Claramente, meu rapaz! Fiquei tão satisfeito com a questão do menino Kanguia que senti um certo interesse da parte deles.
— E, finalmente, alguém quer dizer-nos, afinal, quais seriam as diferenças entre as relações de sentido: hierarquia e inclusão? — Sim.
Levantou o braço a Katumbo Tcibalamdongo… — Podes falar, menina Catumbo. — Senhor professor, enquanto na hierarquia temos uma relação entre um termo mais “genérico” (o hiperónimo), onde há os específicos (hipónimos), na de inclusão, tem-se a relação entre o “todo” (holónimo) e as “partes” (merónimos).
— Excelente resposta! Pode dar alguns exemplos fora dos que já vimos acima, menina? — Claro que posso, senhor professor.
Quando digo cabeça, braços, pernas, barriga, orelhas, nariz, dedos e afins; serão partes do todo. Assim, essas partes formam os merónimos do holónimo corpo humano.
— Mais alguma dúvida, classe?
— Não, senhor professor.
— Assim, a aula de hoje terminou por aqui. Podem sair! E façam as tarefas de casa.
Por: GABRIEL TOMÁS CHINANGA