OPORTUGUÊS FALADO em Angola, não é o mesmo que o português falado em Portugal, o português de angola (VPA) coabita intriscecamente com todas as línguas nacionais, resultando num modelo de fala peculiar dos angolanos.
Vejamos o hibridismo do kimbundu-português nas frases abaixos:
1- Ngaile bu “merecado” ku banga ji “compra”. (KimbunduPortuguês)
2- Ngaile bu kitanda kusumba (Kimbundu original). – Fui ao mercado fazer compras (Tradução);
3- Ó ji “jove” jay ku “congresso”(kimbundu- português);
3- Mizangala yai ku kyongue. (Kimbundu original); – Os jovens foram ao congresso (tradução).
4- Eme ngi bana “graça” kwa “Jesus Cristo”.
4- Eme ngi bana kyadi kwa jezu kidixitu(kimbundu original). – Dou graças a Jesus Cristo. • Na verdade, onde há coabitação linguística são claras tais interferências, mas quanto ao fenómeno em análise, pelo que nos parece, os que assim falam aportuguesam o kimbundu, sem que haja necessidade de o fazer, pois só seria necessário para aqueles casos em que não existam correspondentes lexicais em kimbundu.
• Face às interferências linguísticas que se verificam no português angolano (Mingas: 2000), podemos constatar uma imensidão de léxicos kimbundu no nosso português, adotando uma nova caraterística sintática, morfológica, semântica, perfazendo uma língua portuguesa híbrida e própria dos angolanos, vejamos o exemplo de alguns léxicos kimbundu no português:
a) ALEMBAMENTO/ ALAMBAMENTO: dote, casamento africano; b) BENGALA: do substantivo kimbundu mbangala: bastão pequeno; c) BUNDA: do kimbundu “mbunda”, significa nádegas.
Deste vocábulo, que sofreu uma desnasalação do grupo consonântico inicial mb, deriva o termo desbundar ou “perder qualquer domínio sobre si mesmo; gastar somas avultadas em brincadeiras, sem medir as consequências”;
d) CACHAÇA: do kb kaxaxa ou kaxalamba, nome de bebida forte feita de raízes ou de milho germinado, que passa por um processo de fervura e por meio de uma canalização rudimentar, donde se extrai um vapor em espécie de aguardente;
e) CAFUNÉ (kifunate): entorse, torcedura;
f) CARIMBO: do kimbundu ka (prefixo diminutivo) + rimbo “marca” (Machado, 1967).
• No que se refere às influências linguísticas, em Angola, constata-se que não só as línguas bantu influenciam as estruturas frásicas do português, mas também a própria língua portuguesa tem deixado marcas indestrutíveis nas línguas bantu, sobretudo na língua Kimbundu, marcas essas que vão desde o léxico aos aspetos morfossintáticos e fonéticos, quer na escrita, quer na oralidade.
No tocante a estes aspetos, é constante ouvir um falante do kimbundu a construir estruturas frásicas híbridas, que consideramos como fenómeno de kimbunduguês, porquanto é formado por uma base lexical mista entre o kimbundu e o português.
Nestes termos, o kimbunduguês consiste na construção frásica híbrida, isto é, frases constituídas por elementos do kimbundu e do português. Fontes: Victoriano Armindo, Ph.D em Linguística.