Angola é um país com uma história marcada por profundas transformações políticas, sociais e culturais. Desde a sua independência, em 1975, o português assumiu a posição de língua oficial, desempenhando um papel fundamental na unificação nacional e na integração administrativa do país. Esse processo, no entanto, acabou por relegar as línguas nacionais a um papel secundário, ameaçando sua vitalidade e sobrevivência.
As línguas nacionais de Angola são expressões vivas da diversidade étnica e cultural do país. Elas não apenas servem como meio de comunicação, mas também carregam consigo uma riqueza de tradições, conhecimentos e formas de expressão únicas.
Essas línguas reflectem a identidade das comunidades que as falam, sendo parte integrante de sua herança cultural. Línguas como o Kimbundu, Umbundu, Kikongo, Nganguela, Nyaneka, entre outras, são testemunhos dessa diversidade linguística.
No entanto, diversos factores têm contribuído para o declínio das línguas nacionais angolanas. A urbanização acelerada, a migração rural-urbana e a predominância do português em esferas como a educação, a administração pública e os meios de comunicação são alguns dos principais desafios enfrentados.
À medida que a população se desloca para os centros urbanos, as línguas nacionais vão perdendo espaço, cedendo lugar ao português, que se torna a língua dominante.
Essa situação é agravada pela falta de políticas linguísticas efetivas que valorizem e promovam o uso das línguas nacionais em diferentes âmbitos da sociedade.
Além disso, a globalização e a expansão dos meios de comunicação de massa, muitas vezes em línguas estrangeiras, também contribuem para a erosão das línguas nacionais, especialmente entre as gerações mais jovens.
Essa ameaça à diversidade linguística implica não apenas a perda de um património cultural, mas também a fragilização da identidade e do sentimento de pertencimento das comunidades locais. Para reverter o cenário de declínio das línguas nacionais angolanas, é fundamental a adoção de políticas linguísticas assertivas e efetivas.
Essas políticas devem ir além do mero reconhecimento formal dessas línguas, envolvendo ações concretas e coordenadas em diferentes esferas da sociedade. Algumas estratégias importantes incluem a integração das línguas nacionais no sistema educacional, por meio da implementação de programas de educação bilíngue; o incentivo ao uso dessas línguas em espaços públicos, como a administração, a mídia e as instituições culturais; o apoio à pesquisa e documentação das línguas nacionais; e o engajamento activo das comunidades locais na preservação e revitalização de seu património linguístico.
Ao valorizar e promover as línguas nacionais, Angola não apenas preservará sua diversidade cultural, mas também fortalecerá a identidade e o sentimento de pertença de suas comunidades.
Essa acção é fundamental para a manutenção de um património em extensão, que reflete a riqueza e a pluralidade da nação angolana. A diversidade linguística é, a meu ver, um elemento-chave na preservação da riqueza cultural de um país.
Cada língua nacional representa uma janela para a compreensão de diferentes visões de mundo, formas de expressão e modos de vida. Essa diversidade linguística não apenas enriquece a cultura, mas também facilita a comunicação e a interação entre as diversas comunidades que compõem a nação angolana.
Além disso, as línguas nacionais desempenham um papel fundamental na transmissão e preservação dos conhecimentos tradicionais. Esses conhecimentos, muitas vezes codificados nas línguas nativas, abrangem desde técnicas agrícolas ancestrais até práticas de medicina tradicional e manifestações artísticas.
A perda dessas línguas implica, portanto, a erosão de um vasto património de saberes acumulados ao longo de gerações. Chama-se atenção ao esforço a serem empreendidos, tanto por parte do governo quanto de organizações da sociedade civil, para revitalizar e valorizar as línguas nacionais de Angola.
Projectos como a documentação e padronização dessas línguas, bem como a criação de materiais didácticos e programas de educação bilíngue para a sua preservação e fortalecimento.
Louvamos as iniciativas de promoção cultural que têm se realizado, como festivais, publicações e programas de rádio e televisão em línguas nacionais, têm ajudado a aumentar a visibilidade e o prestígio dessas línguas perante a população, em certa medida.
Essas acções visam não apenas preservar o património linguístico, mas também fortalecer os laços comunitários e a identidade cultural dos diversos grupos étnicos de Angola.
Portanto, as línguas nacionais de Angola representam um valioso património cultural que deve ser preservado e valorizado. Apesar das ameaças de declínio, é possível reverter esse cenário por meio da adoção de políticas linguísticas assertivas e do engajamento das comunidades locais.
Somente assim, Angola poderá garantir a sobrevivência e a vitalidade de suas línguas nacionais, preservando uma parte essencial de sua identidade e de sua herança cultural.
Por: AndréCurigiquila
*Professor