Hoje, 16 de Abril, é o dia Internacional da Voz, preferimos falar da voz para fazer jus à efeméride. O que particulariza o nosso trabalho deve-se à redução da voz a nível da flexão verbal, isto é, vamos estudar a respeito da voz na categoria verbal. Bagno há anos comparou a linguística (língua) como as águas do rio e a gramática como as águas da lagoa, justificando que as águas do rio escorrem e, da lagoa são presas, quer dizer, as regras gramaticais são presas, não alteram.
Porém, julgamos não ser verdade, as historiografias gramaticais e linguísticas não dizem isso, as regras gramaticais também podem ser alteradas pela influência geográfica, histórica e mais. Vejamos as proposições abaixo: Cardeira (1999) “caracteriza o português médio como proclisador”; já Martins (2002, p. 270) apresenta que nos anos 1250 a 1255 a ênclise era muito usual, 92.9%, diferente dos anos 1500 a 1549, a próclise era a posição mais presente nos falares, 98.8%.
Hoje, por exemplo, no português brasileiro há maior predominância de próclise e no português europeu a posição canónica é a ênclise, como nos faz saber (Soquessa, 2017, p. 03). Realidades diferentes de Angola, em que a colocação dos pronomes é livre (próclise e ênclise), as pessoas usam a seu belprazer, porém a posição mesoclítica sem expressividade no falar angolano, um ou outro que a utiliza.
Voltando ao assunto da voz, enquanto flexão verbal divide opiniões dos estudiosos em matéria da língua portuguesa: (i) uma concepção mais antiga conserva a ideia segundo a qual a voz faz parte da flexão verbal, a outra (ii), com a qual compactuamos, entende que a voz não faz parte da flexão verbal. Primeiro, para compreendermos esse assunto, devemos saber a fundamentação de uma flexão.
Para tal, atentemonos aos seguintes excertos: Cunha e Cintra (2014, p. 472) aclaram que a flexão se realiza através de processos morfológicos, isto é, através da afixação. Mais, Dias e Gomes (2008, p. 59) apresentam a diferença entre os sufixos derivacionais e sufixos flexionais ou desinências, segundo os autores, os primeiros são destinados a criar novos vocábulos e os últimos indicam variações ou modalidades específicas de uma mesma palavra.
Por conseguinte, podemos entender que a nível do verbo não ocorre a flexão em voz, à semelhança da conclusão que os estudiosos (professores) portugueses chegaram, aquando da constituição da Terminologia Linguística para os Ensinos Básico e Secundário (2004), com actualizações em 2009 e 2010, colocando a voz no nível sintáctico, aliás, faz parte das formas da frase.
Os estudiosos que defendem que a voz faz parte da flexão verbal acabam incorporando-a mais nas formas de frase (activa e passiva), quer dizer, Sintaxe.
A mudança da voz não é enraizada através da afixação, embora possa apresentar modalidades específicas. Por exemplo, Pinto (2006, p. 303) traz as presentes frases: “A Luísa viu o filme” – voz activa; “O filme foi visto pela Luísa” – voz passiva. Se olharmos bem, não há flexão morfológica, isto é, na estrutura da palavra, na estrutura verbal.
A forma verbal “viu” está conjugada numa pessoa (3ª), número (singular), tempo (pretérito perfeito) e modo (indicativo), nada na estrutura verbal indica voz; já a forma “foi visto”, que identifica a voz passiva, é um complexo verbal composto por um verbo auxiliar e um verbo principal no particípio, a forma verbal “foi” deve combinar em pessoa (3ª), número (singular), tempo (pretérito perfeito) e modo (indicativo) à semelhança da voz activa.
A respeito do particípio, ele em si já apresenta afixos (regulares (ido e ado) e irregulares) que o identificam. O que mudou, na realidade, é a estrutura frásica e não que o verbo flexionou em voz. O verbo flexiona apenas em pessoa, número, tempo e modo.