Obviamente, para o ensino da Língua Portuguesa, tal qual as demais disciplinas, há necessidade de se ter conhecimentos sistemático e metodológico suficiente para servir de guia na condução do processo ensino-aprendizagem.
No entanto, sendo uma língua transversal, a nosso ver, todos nós, quais professores, devemos contribuir para o acervo linguístico de nossos estudantes, independentemente da nossa área de formação e/ou a disciplina em que ministramos as aulas.
É comum, entre os professores, ouvir fugas de responsabilidades linguísticas – mesmo que mínimas, nas palavras como “eu não sou vosso professor de Língua Portuguesa”, “Falo e escrevo como bem entender, não ministro Português”.
É verdade que, dentro da grelha curricular, cada um tem responsabilidades específicas, em função da disciplina que orienta.
Contudo, pelo princípio da interdisciplinariedade, cada professor, ao seu nível, deve esforçar-se em escrever e falar com mínimo de correcção linguística possível, para que, como atesta Suelela et al.
(2020) o modo de escrever e falar de professores que não ministram aulas de língua portuguesa, não faça parte das várias situações “que contribuem para que o ensino dessa língua, no país, continue a revelar problemas científicometodológicos graves, tornando, assim, a actividade do professor de língua cada vez menos rentável e a aprendizagem do aluno cada vez mais estressante, menos significativa e menos transversal no currículo escolar”(p.15).
Percebe-se, a partir do supracitado, que os demais professores devem ajudar os estudantes, mesmo nas suas disciplinas como Biologia, Matemática, Sociologia ( só para dar alguns exemplos), a observarem, também, os aspectos linguísticos, mesmo que nos aspectos considerados, apenas, básicos.
Como se pode ler no artigo 16º da Lei de Bases do Sistema de Educação e Ensino ( Lei 17/16, alterada, nalguns artigos, pela 32/20), “o Ensino deve ser ministrado em português”, isto é, a língua portuguesa, em Angola, deve ser usada pelos professores, em particular, na condução do ensino-aprendizagem, o que, por sinal, só aumenta a responsabilidade de cada professor, pelo menos, em ter conhecimentos gerais de língua portuguesa, para que sirva de alavanca na aprendizagem significativa desta importante disciplina “para qualquer que se preze estudante e não só” (Cabalmente, 2022).
Para isso, os demais professores precisam de falar e escrever, quando lhes for possível, à luz da norma-padrão.
Pinto (2007), apresenta a noção de norma e língua padrão como sendo aquela que funcione, em cada país, como modelo linguístico a ser seguido.
Por outras palavras, cada professor deve falar e escrever correctamente.
Muitas vezes, aquilo que os estudantes aprendem como “o correcto” é visto, inicialmente, atropelado pelos professores das demais disciplinas.
Expressões como “ em que nal qual”, “sejem e estejem”, são usadas pelos demais professores.
Outros, ainda, escrevem muito mal, baralhando os estudantes sobre as formas correctas.
Longe desta aparente única realidade, há, também, os demais professores de outras disciplinas, mas que dão grandes contributos na solidificação e aprendizagem da língua portuguesa, quer por meio da fala e escrita correctas, bem como por corrigirem, por exemplo, os desvios linguísticos com os quais se deparam por meio dos estudantes.
Todos os professores deviam ter, não sendo pecado algum, um Dicionário ao lado ou, ainda, gramáticas que tratem dos aspectos gerais da língua.
No Prontuário “Erros Corrigidos de Português”, por exemplo, D´Silvas Filho traz uma espécie de VocabulárioDicionário na parte intitulada “Vocabulário de Dificuldades”, onde coloca o significado das palavras, a olhar para o contexto, evitanto, assim, a confusão de termos semelhantes.
Não estamos a dizer, necessariamente, que todos os professores devem ter domínio cabal da língua portuguesa e passarem a preocupar-se unicamente com estas questões.
Mas, também, seria bom que cometessem poucos erros/desvios linguísticos na sala de aula.
Repare que, em se tratando do uso da crase, não a podemos usar sem uma explicação lógica mínima, como disse a professora Piacentini (2017), “não faça como muitas de nossas autoridades, que enfeitam estradas, ruas e cidades com placas repletas de erros de crase”.
Uma regra básica, por exemplo, é a de não usar a crase diante de palavras masculinas.
Outra problemática com a qual nos temos deparado é sobre a acentuação de palavras.
Talvez seja por isso, também, que os nossos estudantes falham muito no que à acentuação de palavras diz respeito.
Matematica no lugar de Matemática.
Logíca, no lugar de lógica e a lista continua.
Portanto, a olhar para alguns motivos que elencámos dos vários existentes, percebe-se a necessidade de cada professor, independentemente da sua área de formação e/ou a disciplina que orienta, ter o mínimo de correcção linguística, expressar-se bem, à luz da norma-padrão e contribuir, como temos visto por parte de alguns, para a aprendizagem da língua portuguesa que se torna ferramenta de ensino usada por todos os professores em Angola, em particular.