Hoje eu tive um sonho. Era um sonho lindo, tão real, tão palpável, que parecia verdadeira realidade. Sonhei que a crise foi vencida, que a fome tinha terminado, que não havia crianças fora do sistema escolar e que em todos os lares as famílias viviam felizes e tinham todas as refeições. Os pais e os filhos viviam em plena harmonia e felicidade, a paz reinava.
A mortalidade infantil caiu para níveis próximos de zero, a comida era tão farta que ninguém passava fome. O desemprego era inexistente. Ao longo das ruas e dos shoppings, as placas de vaga de emprego demonstravam a prosperidade económica da sociedade e faziam entoar a enorme disponibilidade de emprego.
Os jovens eram fortes, saudáveis e sábios e, em média, liam mais de cinquenta livros por ano, eram criativos, investigadores, inventores, empreendedores, amantes do saber, da ordem e da disciplina. O consumo de álcool para os jovens era obsceno, as suas consciências recusavam tal dispêndio, primavam pelo desenvolvimento intelectual.
As conversas de bar eram em torno do progresso, ciência, arte, música, teatro, literatura, de ideias e pensamentos, sem álcool, sem drogas e sem promiscuidade. As jovens não precisavam de se prostituir ou de andar atrás dos papoites para receberem migalhas. Pelo contrário, elas enchiam e preenchiam as universidades, as áreas profissionais, a ciência, a técnica, sem necessitarem de fazer qualquer teste de sofá.
As jovens do meu sonho eram lindas, inteligentes, saudáveis, competitivas, poliglotas, viajadas, independentes e prósperas. A gravidez precoce era inexistente, a fuga à paternidade um crime de lesa-pátria, que ninguém ousava cometer
.As meninas,desde cedo, dedicavam-se à busca do conhecimento científico e religioso e eram protegidas afincadamente por toda a sociedade. Os abusos sexuais, sobretudo contra crianças, eram impensáveis de ocorrer, ninguém ousava sequer olhar para crianças com algum desejo malicioso, e os que tentassem eram castrados, para nunca mais molestarem ninguém.
Os debates políticos eram harmoniosos e a razão era atribuída àqueles que apresentavam as ideias que mais iam ao encontro da satisfação das necessidades do povo, para que o povo pudesse viver mais e melhor. Os impostos eram baixos, justos e todos pagavam conforme o seu rendimento.
Não existia a ideia de que um grupo pequeno levava nas costas o resto do todo, ou que o povo teria de ser sufocado pelo imposto, que, quando é mal doseado e distribuí- do, mata a economia. No meu sonho, a paz reinava e era tudo maravilhoso. Os preços dos bens e serviços eram extremamente baixos e acessíveis a todos.
A cesta básica era quase que gratuita. Existiam sopas públicas grátis, espalhadas por diversos bairros e aldeias, para quem não pudesse pagar uma refeição, mas os locais da sopa pública estavam sempre vazios e quase ninguém ia para lá, os que fossem, era apenas para doar enormes quantidades de alimentos que possuíam em excesso.
As receitas do petróleo, diamante e dos milhares de minerais existentes estavam a serviço da população, não havia corrupção,gasosa,micha, biolo, nem ideias gananciosas de que o cabrito come onde está amarrado.
As diferenças sociais eram inexistentes, ricos e pobres viviam e usufruíam de todas as benesses que a sociedade pudesse oferecer, comiam as mesmas comidas, bebiam da mesma água, usavam as mesmas roupas e faziam compras nos mesmos locais.
Os filhos dos ricos e dos pobres estudavam na mesma escola e usufruíam dos mesmos ensinamentos e das mesmas oportunidades. Ninguém enviava os filhos para estudar no exterior, pelo contrário, eram os do exterior que enviavam os filhos para estucar cá, onde o ensino era gratuito para todos e de alta qualidade.
O desporto escolar era activo e disponível para todas as crianças, a partir da iniciação, as escolas públicas eram excelentes, ofereciam merenda escolar a todas as crianças e o rendimento escolar era dos mais altos do mundo. As mortes, maioritariamente, ocorriam apenas por velhice, ou morte natural. A esperança e a qualidade de vida eram elevadas.
As cidades estavam rodeadas de jardins e espaços verdes, onde os mais-velhos podiam passear e usufruir da sua aposentadoria de forma pacífica, sem qualquer stresse.
Os reformados recebiam pensões elevadas que lhes permitiam viver confortavelmente e sem qualquer dificuldade. Ser mais-velho era uma honra e prestígio.
A saúde era impecável, possuíamos os melhores hospitais, os melhores médicos, os melhores equipamentos, a medicação era farta e barata. Nos hospitais nada faltava, pelo contrário,eram com os passos colónias de férias os internamentos, os pacientes eram paparicados e acarinhados, o humanismo era tão evidente, que a forma como eram tratados, por si só, afugentava as doenças. Ninguém emigrava por desespero, pelo contrário, os outros é que lutavam para vir à nossa casa, que kuiava bwé, por ser um autêntico paraíso.
A água era potável e poderíamos bebê-la a partir da torneira, não precisávamos de ferver ou pôr lixivia, era tão pura,cristalina e jorrava em todas as torneiras. Acarretar água tinha ficado para trás, a ideia de andar com bidões na cabeça era impensável.
A renda per capita era das mais altas que existia, e a população possuía os mais altos rendimentos. O salário mínimo era tão elevado, que permitia que os trabalhadores tivessem um alto padrão de vida.
Não havia zunga, roboteiros, kupapatas, cobradores ou trabalhos informais degradantes. As ruas eram limpas e belas, tudo era perfeito. Não existia gueto. As estradas secundárias e terciárias ligavam as zonas urbanas e atravessavam os bairros e ruas.
As auto-estradas estavam disponíveis para facilitar o trânsito, não existiam buracos nas estradas, que eram perfeitas e bem sinalizadas. As autoridades respeitavam o cidadão, e o cidadão respeitava as autoridades, e ambos coabitavam em perfeita harmonia. As leis eram justas e ajustavam-se à realidade social. Despertei suado e descobri que era apenas um sonho… Mas, e se o sonho se tornasse realidade?
POR:OSVALDO FUAKATINUA