Em diferentes geografias, os governos cessantes e os candidatos ao Poder Político, no período de campanhas eleitorais, prometem essencialmente duas coisas.
A redução da inflação e a criação de novos postos de trabalho. Ou seja, os políticos limitam-se exactamente a dizer aquilo que o eleitorado gosta(ria) de ouvir (…) Em qualquer país, a inflação e o desemprego fazem parte das preocupações prementes dos cidadãos, uma vez que o seu impacto na vida das pessoas é directo e imediato.
Os dois fenómenos, enquanto pedras basilares do equilíbrio das finanças públicas e do bem-estar social, há décadas que a relação entre estas duas variáveis e consequentemente o equilíbrio entre si mantêm-se no centro do debate macroeconómico.
Importa clarificar que a inflação se refere ao aumento de forma generalizada e persistente no tempo do preço de um determinado conjunto de bens e serviços procurados pela maior parte dos consumidores.
Assim, o seu aumento reduz o poder de compra das famílias e impacta negativamente sobre a qualidade de vida, uma vez que com o mesmo nível de rendimento se consegue adquirir uma quantidade, cada vez menor, de bens e serviços.
Atrelada a redução dos índices inflacionários, encontra-se sempre uma, de duas situações, a deflação ou a desinflação. Ambas funcionam como o outro lado da moeda, influenciando negativamente a sua evolução.
A deflação corresponde a uma queda dos preços de uma grande gama de produtos e serviços por um período razoavelmente longo, afectando negativamente o consumo e por sua vez o rendimento nacional, ao passo que a desinflação implica uma diminuição na taxa de inflação, ou seja, os preços ainda continuam a aumentar, mas a uma taxa menor.
Por isso, em bom rigor, os políticos deveriam prometer a desinflação e não a deflação. Ainda assim, a inflação é um assunto bastante presente tanto na agenda dos governantes quanto na dos governados, e não obstante as diversas causas comuns, em muitas economias, em Angola, o aumento dos níveis de inflação assentam essencialmente mais em questões estruturais do que conjunturais.
As preocupações relativas à redução da taxa de crescimento do nível de preços, bem como o aumento da taxa de emprego, muitas vezes leva as pessoas à euforia e a acreditarem piamente em promessas de políticos como se tivessem capacidade mágica, porém esses mesmos governados perdem a soberana oportunidade de apresentar uma série de questionamentos a quem governa ou a quem pretende ser governo, por exemplo: i) Como será feita a desinflação ou como se criará mais postos de emprego?
ii) Quantos novos postos de emprego serão criados e em que sectores, províncias ou regiões? iii) Quais sacrifícios terão de ser suportados e quanto tempo será necessário?
Desde os anos cinquenta, economistas de diferentes escolas de pensamento concordam que, pelo menos a curto prazo, exista um “trade-off” entre a taxa de inflação e a taxa de desemprego.
Ou seja, a Curva de Phillips expressa que, a curto prazo, para se alcançar uma redução da taxa de inflação tem de se estar necessariamente disposto a suportar um determinado aumento do nível de desemprego e vice-versa, sendo que é bastante importante recordar que um plano de desinflação rápido comporta sempre um conjunto de custos e benefícios.
Ao olharmos para o mercado de trabalho, de um lado estão as famílias a oferecerem mão-deobra e do outro encontramos os empregadores a procurarem a força de trabalho.
Assim sendo, as famílias ao venderem a sua força de trabalho aos empregadores negociam uma compensação salarial, tendo em consideração as suas expectativas relativamente a evolução dos preços.
No entanto, preocupam-se com o poder de compra, e por sua vez, os empregadores na formação do preço final dos bens e serviços, por si, produzidos acrescentam uma margem aos salários, mas estes encaram os salários nominais como custos e na sua determinação levam em consideração a produtividade média e marginal da mão-de-obra.
Dito de outro modo, quando os políticos prometem um aumento instantâneo do emprego ou uma rápida redução das taxas de inflação, é fundamental que a sociedade seja capaz de questionar e exigir que os mesmos apresentem propostas concretas que permitam compreender como, em quanto tempo e com que custos, será alcançada tal proeza.
Estranhamente, com maior preponderância nos países em estágios de desenvolvimento menos avançados, de forma gritante, a sociedade como um todo, e em particular tanto os entes políticos que não são governo e almejam ser, (ou pelo menos assim o dizem) quanto as demais forças sociais, parecem totalmente pávidas e incapazes de conduzir o debate para aquilo que deveria ser o verdadeiro cerne da “questão”, portanto, e assim continua-se a adiar permanentemente o desenvolvimento económico e social dessas nações.
Por: Wilson Neves
*Economista