O desenvolvimento de África, de um modo geral, é um desejo político antigo. Os africanos continuam a lutar no sentido de tornarem este desejo numa verdadeira realidade.
A contribuição da diáspora africana, neste desejo, não pode ser isolada e, muito menos, o papel que tem desempenhado neste sentido.
Quando nos propomos em avaliar a sua contribuição no continente duas perspetivas despertam atenção nomeadamente a perspetiva política e a económica.
A contribuição política continua a desafiar a participação de todos quer os que se encontram na diáspora quer aqueles que vivem, no seu dia-a-dia, as dificuldades que caracterizam a generalidade dos países africanos.
Tudo aponta que a contribução da diáspora tem vindo a ser,consideravelmente, significativo sobretudo no que toca a pressão política e/ou mobilização de acções que visem pressionar os poderes estabelecidos.
A diáspora africana tem estado a manifestar-se contra as políticas mal concebidas dos seus governantes, tem estado a exercer uma enormíssima pressão em prol da libertação de presos políticos e da liberdade imprensa e de expressão.
Tem, igualmente, lutado para que os seus governantes respeitem os Direitos Humanos e o ordenamento jurídico dos respectivos países.
Essa luta tem sido levado a cabo devido a clara impossibilidade, sobretudo em países onde se verificam claros sinais de autoritarismo, de os cidadãos, localmente, poderem ter intervençõs sem terem de enfrentar o peso do poder.
Infelizmente, muitos governos africanos continuam a oprimir e a violar, sistematicamente, os direitos dos seus cidadãos e adiar o futuro colectivo.
O caso particular das últimas eleições realizadas no Uganda, na Costa do Marfim, Guine Bissau, Guine Conacry, República Centro africana, República Democrática do Congo, Gabão, só para citar estas, deixaram sinais bastante evidentes da resistência que ainda persiste no respeito que se deve atribuir ao ordenamento jurídico como garante do equilíbrio e estabilidade socio-governativo.
O papel da diáspora, sobretudo em apelar intervenção das organizações internacionais e em manifestar-se, têm influenciado uma crescente redução da opressão e favorecido tendências muito timidas de abertura de um verdadeiro regime democrático.
Sem democracia «efectiva» não se consegue evoluir para um ambiente de estabilidade capaz de criar condições estruturantes para o desenvolvimento verdadeirmante sustentável.
Sem democracia não há grandes probabilidades de haver um verdadeiro combate à corrupção e muito menos possibilidades de os cidadãos participarem na vida pública sem receios de serem alvos de perseguição selectiva ou não.
A democracia é o exigénio político que facilita o normal funcionamento dos Órgãos que actuam em nome de uma determinada comunidade política e influencia o desenvolvimento de relações políticas mais seguras e comprometidas com os fins que o Estado se propõe alcançar.
E a diáspora africa tem, com efeito, desempenhado o papel de advocacia no sentido de forçar a abertura dos seus países para uma democracia mais real e menos formal.
Este papel tem surtido o seu efeito e produzido, em determinados países africanos, mesmo que de forma tímida, bons resultados.
É claro que pressão que a diáspora africana tem feito condiciona, automaticamente, a relação com os respetivos governos e é talvés por esta razão que determinados grupos que controlam o poder têm influenciado a permanente estratégia de limitação da participação eleitoral da sua diáspora.
Isto acontece, por exemplo, com a República Democrática do Congo, Gabão, Senegal, Guine – Conacry, Uganda, Burundi, Somália, Sudão, Tchad e tantos outros.
Há uma especié, portanto, de bloqueio à participação política destas comunidades no estrangeiro devido, sobretudo, a forte pressão que exercem aos poderes públicos.
O que se tem verficado, ultimamente e em alguns países africanos, talvés fruto dessa mesma pressão, é um quadro de transição política e alguns sinais de mudança quanto aos processos de governação.
Talvés seja uma abertura para se introduzir novas dinâmicas de convivência políticas – talvés com as devidas intorrogações.
No Congo Democrático, com a presidência de Felix Tshisekedi, que cumpre o seu primeiro mandato, havia, inicialmente, se alimentado a esperança de que poderia se ter um percurso político -social diferente do passado e que as mudanças se fariam, rapidamente, sentir sem as complexidades que sempre minaram o xadrez da política interna.
Infelizmente, O presidente Congolês tem sido, ultimamente, alvo de críticas pela diáspora congolesa que não o poupam com críticas duras e acusações de estar aprisionar o futuro dos congoleses.
O mesmo se pode dizer de outros tantos políticos africanos que poderiam ter um papel mais determinante na construção democrática e social dos respectivos países mas que perderam as consciências pela ganância de «ter mais e Ser mais» isolando a vontade colectiva para favorecer interesses particulares.
Em termos económicos, a contribuição da diáspora africana não é, seguramente, semelhante a outras diásporas com grandes capacidades de garantir fortes investimentos nos países de origem.
Como é evidente a contribuição desses agregados depende, sobretudo, da totalidade de (e)migrantes que têm e que formam as suas comunidades no estrangeiro.
Países como a República Democrática do Congo, Nigéria por serem grandes, em termos de extensão geográfica e de população, tendem a ter uma diáspora mais expressiva e espalhada em vários países europeus.
Países como Guina Bissau, Cabo-verde e outros tantos com uma população mais reduzida tendem, entretanto, a ter uma diáspora mais reduzida e com uma participação limitada.
Deste modo, a contribuição da díaspora vai, igualmente, ser avaliado em função do país de origem de cada imigrante.
Existem comunidades de imigrantes que mesmo tendo grandes possibilidades não conseguem ajudar as economias dos respectivos países.
Países como a República Centro africana controlado, consideravelmente, pelos rebeldes, dificulta a possibilidade de os cidadãos, aí residentes, recebam remessas dos seus familiares na diáspora ou um investimento directo daqueles.
É provável que mesmo com este quadro de insegurança alguns cheguem a receber mas admite-se que sejam raros os casos.
O mesmo se pode dizer em relação a países como Tchad, Somália, Sudão que têm populações condicionadas em termos de mobilidade.
Queremos com isto dizer que existem populações em África que estão localizados em regiões onde é difícil chegar ajuda e, em alguns casos, nem as agências humanitários conseguem aí chegar por razões de segurança.
De qualquer modo, o que se pode avançar é que a forma mais comum de contribuição da diáspora africana é aquela dominada, consideravelmente, pelo envio de remessas aos agregados familiares.
As remessas da diáspora acabam por ser uma forma de manter a subsistência dos agregados nos países de origem e garantir a possibilidade de manter a formação académica e suprir pequenas necessidades do dia-a-dia.
Em alguns casos, a remessas servem para garantir novos projetos de (e)migração. Muitos imigrantes africanos, na diáspora, pensam que mais um membro da família no estrangeiro é uma forma de aumentar a capacidade de ajuda ao passo que os que estão em África sentem-se mais seguros quando têm muitos membros na diáspora o que pressupõe, na sua visão, que mais ajuda, certarmente, chegará.
As remessas, em muitos países africanos, podem servir apenas como meios de subsistência dos agregados familiares e não têm um impacto imediato no desenvolvimento dos países e muito menos impactam nas economias por várias razões.
É importante perceber a dimensão do agregado familiar africano para, efectivamente, ter-se uma leitura mais compacta do volume de ajuda que deve ser disponibilizado pelos parentes na diáspora.
Os africanos têm agregados bastante vastos e manter a subsistência destes, através de remessas, em ambientes económicos adversos, é complexo, por um lado, e desafiante por outro devido, especialmente, das permanentes crises de governação.
As economias africanas, em virtude das crises de governação, não oferecem suficiente segurança sobretudo aos investidores estrangeiros daí a razão de os vários países africanos dependerem, exclusivamente, do mercado externo quando, curiosamente, têm potencial para desenvolverem agricultura e explorarem os recursos que dispõem à favor de um plano integral de desenvolvimento económico e humano.
Essa dependência ao mercado internacional – ou seja de países distanciados de áfrica – torna os preços dos produtos caros e a vida dos cidadãos mais encarecidos.
Apesar disso, temos, ainda, uma pequena parte da diáspora africana que investem em pequenos negócios e outros em médios ou mesmo em grandes negócios em África mesmo com todos os riscos associados.
É o caso, por exemplo, de jogadores de futebol e de outras modalidades de alto rendimento na Europa assim como de cantores africanos.
O caso de Sadio Mane, que actualmente joga na Alemanha, tem sido muito mediatizado. O jogador tem investimento de milhões de euros no seu país de origem.
Os antigos jogadores, como Samuel Etó e Didier Drogba, fizeram, nos respectivos países e enquanto jogadores, grandes investimentos.
Alguns destes investimentos têm ajudado na geração de novos empregos ao passo que outros são ou foram canalizados para programas específicos de ajuda aos projectos comunitários.
Alguns músicos africanos residentes na diáspora, sobretudo aqueles que dispõem de bons rendimentos, têm sido bastante uteis em termos de canalização de recursos financeiros para abraçar projectos sociais e empresariais.
Apesar de as contribuições não resolverem todos os problemas dos respectivos países, elas chegam, pelo menos, a ter um impacto fundamental na estruturação de projectos e/ou programas que minimizam os buracos sociais criados pelos políticos.
Permitem, em muitos casos, a construção de escolas e centros de formação profissionais que asseguram, de um modo geral, formação de jovens do futuro.
Contudo, se não fosse contribuição de uma parte da diáspora africana provavelmente muitos agregados familiares estariam em dificuldades e os níveis de pobreza estariam, seguramente, muito mais altos do que os indicadores que registamos actualmente.
Contudo acredita-se que a diáspora africana, pelo menos em termos económicos, pode contribuir muito mais sobretudo se as economias dos respectivos países deixarem de ser condicionados pelas ambições políticas.
O Exemplo da diáspora indiana no Reino Unido e na América, é um dos exemplos, de muitos que existem, de como a comunidade de cidadãos no estrangeiro, podem contribuir para ajudar o respectivo país.
Por: LUTINA SANTOS