No ano 2023 lemos várias produções textuais em que a palavra “homólogo” apareceu, erradamente, em lugar do adjetivo “análogo”, que não lhe é propriamente um sinónimo nem equivalente semântico.
E quando vimos uma pessoa usando repetidas vezes tal vocábulo, nas circunstâncias em que constitui um erro e não um mero lapso, duas conclusões nos parecem as mais lógicas, a saber; primeiro, que o usuário do dito termo nunca se predispôs a analisar o significado lexicalmente consagrado para os dois vocábulos, o que lhe permitiria o melhor enquadramento; segundo, que a utilização da palavra decorre de uma mera imitação do uso (considerando ser frequente alguém ouvir ou ler um discurso e encantar-se com determinada expressão, frase ou oração, decidindo passar a usála no dia-a-dia).
Em 2024 não ignoremos mais que é mesmo importante compreender a conotação e a denotação que as palavras encerram.
É isto que nos permite distinguir o Estado do Governo (que não são sinónimos), o Director do Chefe; e se dizemos “chefe da família” ou “chefe de família”, faz muita diferença, como é diferente estar à mesa ou estar na mesa.
Quando dominamos o significado das palavras compreendemos melhor que nem todo o trabalhador é funcionário, só a guisa de exemplo.
Destarte, não é aceitável usar uma palavra sem conhecer o seu significado ou valor semântico. Pena é que há centenas de palavras que usamos só por hábito, sem dominar o seu verdadeiro significado.
Julgamos ser este um caso recorrente dos adjectivos “análogo” e “homólogo”. E há muitos “comentadores” que imitam, de forma errada, o que têm lido ou escutado e dizem “período homólogo” querendo dizer “período análogo”. O adjectivo que se deve usar ao estabelecer comparação referencial não é “homólogo”.
É “análogo”. É verdade que o prefixo “homo” é um elemento que, na formação de palavras, exprime a ideia de “análogo”, igual, semelhante (como no original grego homos) e o adjectivo “homólogo” significa, literalmente, correspondente ou equivalente.
Ora, este termo pode entrar em harmonia com o significado de homologia, que é a propriedade das coisas homólogas (e não das análogas). É um recurso estilístico que consiste na repetição das mesmas palavras e/ou conceitos num mesmo discurso, enquanto que a “analogia” é, segundo se lê no dicionário da Porto Editora – Dep.Legal 371985/14, a relação de semelhança entre objectos diferentes, quer por motivos de semelhança, quer por motivo de dependência casual.
Em matérias de direito, segundo o aludido dicionário, dá-se a analogia quando há aplicação, a um caso não previsto na lei, de um preceito jurídico que regula casos semelhantes. Sabemos que em 2024 continuaremos a ter pessoas atentas às despesas das viagens dos líderes religiosos, para depois comparar se no ano transato houve algo semelhante.
Aí, analisaremos o período análogo. O vocábulo a usar não é o adjectivo “homólogo”. Se o Bispo dos Estados Unidos fizer um elogio ao Bispo de Angola, aí sim, será acertada a aplicação do adjectivo “homóloga” na frase ”o Bispo recebeu elogios do seu homólogo americano.”
Muitas vezes, o julgamento que fazemos das coisas, das pessoas e das circunstâncias, assenta na nossa compreensão limitada ou errônea. Muitas vezes, ousamos levar os outros a desacreditar nas instituições e nos seus lideres, pura e simplesmente porque não os compreendemos ou não concordamos com alguma coisa ou decisão.
É razoável pensar que toda a pessoa que produz um texto, mormente quem o faz para apontar erros alheios, sabe que todo o ser, coisa, objecto, lugar e até as circunstância, têm nome.
Dizer nome é o mesmo que Substantivo. Só que quando usamos o termo “substantivo” já nos lembramos que ele pode ser comum ou próprio, concreto ou abstrato, simples ou composto.
Em alguns casos usam-se palavras para caracterizar ou modificar a interpretação dos seres, dos objectos, etc. Nestes casos usam-se os adjectivos.
E não perceber a diferença semântica entre tais vocábulos, quer do ponto de vista do linguajar angolano quer do ponto de vista da constituição, é grave, pois, limita a nossa compreensão ou a do nosso receptor.
Por tanto, não se esqueça, caro leitor, que quando comparar factos ocorridos em período similar, por exemplo, entre férias gozadas em Dezembro de 2022, em comparação com o mesmo período de 2021, deve dizer “período análogo” e não “período homólogo”.
E se for falar de funções, diga: “a entidade tal cumprimentou a sua homóloga fulana” e não “…a sua análoga fulana”.
Por: MANUEL CABRAL
Não é bom criticar os outros cometendo montes de erros linguísticos. Feliz ano novo!