Com a implementação do decreto número 77, do antigo governador da colónia portuguesa Norton de Matos, em Angola, enquanto província de Portugal, se proibia o uso das línguas locais, as línguas começaram a perder o seu poder, consequentemente, a sua actuação.
A assimilação passou a ser um processo que muitos negros angolanos, naquele tempo, queriam atingir sem preterir, porque ser assimilado é ou foi: “O acto de assemelhar por um processo de apropriação das tradições, sentimentos ou modos de vida alheios.
Em (A) Ngola, o assimilado é um produto de aculturação, conhecido dentro de um processo de agressão colonial para auxiliar o colono na sua governação”.
(Nkuma, 2021, p. 54). Isto é, ser assimilado é ser um indivíduo com hábitos de português, como esclarece Elizabeth como citado por Nkuma (2021, p. 55) “[…] domínio da língua portuguesa […].
O domínio da língua portuguesa era um ente indispensável, porque era sobrevalorizar a língua dos portugueses em detrimento das línguas locais de Angola.
Falar português passou a ser fundamental e ter posição de prestígio, falar à semelhança dos portugueses era um dos grandes objectivos daqueles homens angolanos, daí, aos poucos, as línguas regionais começaram a perder os interesses de se falar, quem falasse as línguas regionais eram indivíduos vistos como atrasados, que estivessem envolto em línguas que não fossem utilizadas.
Como os indivíduos queriam integrar-se aos e com os portugueses, as línguas locais não tiveram abertura na política linguística colonial, sendo assim, as línguas locais tornaram-se desinteressantes para os angolanos assimilados.
Se “a língua é um instrumento de que fazemos uso para se nos comunicar” (Dias & Gomes, 2008, p. 53), se não serem usadas com fim comunicativo, para que seriam usadas as línguas locais de Angola?
Assim sendo, o número de falantes começou a minimizar, as gerações mais novas com pouca frequência ouviam os seus pais a falarem as línguas regionais, senão em suas casas.
A aprendizagem é motivadora quando há aplicação, as pessoas sentiam-se inibidas de falar, é que Goodman (1990) como citado por Azevedo (2010, p. 16) diz: [embora o autor cite doze pontos, prefere-se citar apenas quatro pontos, dado o tema da abordagem], o que faz com que a língua seja difícil de aprender é quando: (i) é irrelevante; (ii) não tem utilidade social; (iii) não serve para nada e (iv) a [pessoa] não tem poder de a utilizar.
Ademais, o autor acima prefere trazer o termo difícil, como não é confortável nem é uma expressão ideal do ponto de vista linguístico, porque se entende que não há razões, princípios fundamentados para se considerar uma língua difícil ou fácil, como enfatiza Possenti (2000) “todas as línguas são estruturas de igual complexidade.
Isto significa que não há línguas simples e línguas complexas, primitivas e desenvolvidas.
O que há são línguas diferentes (p. 18).” Por isso, preferese tratar por línguas interessantes e desinteressantes, porque tudo dependendo de algumas razões que as podem tornar interessantes ou desinteressantes.
Por exemplo, para o caso específico de Angola, as línguas locais passaram a ser desinteressantes, tal como autor acima, porque: (i) Tornaram-se irrelevantes — muitas pessoas até hoje não veem relevância em aprender as línguas de Angola; (ii) Não tiveram ou têm utilidade social — aprender as línguas locais de Angola para usar onde? Com quem? Quando? Não houve utilidade social para se usar as línguas de Angola, o imperialismo linguístico acabava de manchar as línguas locais, o preconceito, a percepção como línguas feias, etc.; (iii) O que serve para nada — pelo que, na véspera, com a proibição, os portugueses fizeram com que as línguas locais não servissem para nada mesmo; (iv) A pessoa não tem poder de utilizar — proibidas de se usar, as pessoas não tinham o poder de as utilizar. Aprender por quê?
Foi assim que as línguas Angolanas deixaram de ter interesse, porque a ideia segundo a qual os angolanos não poderiam utilizar as línguas regionais, as línguas regionais passaram a ser desinteressantes.
Porque, se tivessem impacto social, serviriam para alguma coisa, o cidadão tem o poder para a utilizar, as pessoas teriam interesse nas línguas.
Se a origem dos desinteresses das línguas locais foi a imposição colonial, hoje, qual é o estado das línguas de Angola? De pouco prestígio e desinteressante!
Por: ADILSON FERNANDO JOÃO