Movimentos sociais preparam-se para manifestações a favor e contra o expresidente
A data do julgamento do expresidente Luiz Inácio Lula da Silva, em segunda instância, marcará também o reencontro nas ruas das forças antagónicas que lideram a polarização política brasileira nos últimos anos. De um lado, militantes de movimentos como o MST (Movimento Sem- Terra), a central sindical CUT e estudantes, todos ligados ao PT, em defesa de Lula.
Do outro, grupos que se organizaram para pedir o impeachment de Dilma Rousseff e se identificam com a ala mais à direita no espectro político e, agora, pedem a condenação e prisão do petista. Ambos dividirão espaço em diferentes cidades do país, tendo Porto Alegre, local do julgamento desta Quarta-feira, e São Paulo como as prováveis maiores concentrações.
Na capital gaúcha, as manifestações contra Lula serão no Parque Moinhos de Vento enquanto a militância pró-Lula se concentrará nas proximidades do Anfiteatro Pôr do Sol. Cerca de seis quilómetros separam um local do outro. Em São Paulo, há disputa entre os grupos em torno do uso da av. Paulista.
O medo de confrontos tem sido debatido em ambos os lados. Carla Zambelli, líder do movimento Nas Ruas, anti-Lula, afirma que apoiará o acto de Porto Alegre, mas não o de São Paulo. “Recebi muitas ameaças e desisti de ir”, disse.
Zambelli afirma que recebeu mensagens abertas e fechadas no Facebook com xingamentos e ameaças como “se você for, não vai voltar”. Para ela, a adesão nas ruas às manifestações contra Lula será baixa, porque a população “sabe que Lula será condenado”. “O brasileiro considera isso um assunto superado e que se resolverá nas urnas”, referiu.
Actuar para conter a violência tem sido tema de debate também entre os petistas. Segundo Rodrigo Dilelio, presidente do PT de Porto Alegre, 20% dos manifestantes pró-Lula na capital serão pessoas preparadas para evitar possíveis confrontos. Eles estarão marcados com uma espécie de bracelete e estão autorizados a coibir acções de quem estiver com o rosto tapado ou encapuzado, em uma tentativa de banir adeptos da tática black bloc.
“Vamos afastar da caminhada essas pessoas”, diz Dilelio. “Acreditamos que isso pode potencializar a vontade de quem quer ir para a rua para, de facto, ir”. Ele espera entre 30.000 e 50.000 pessoas hoje Quarta-feira, 24, em Porto Alegre, “o que é um acto grande para os padrões daqui”. Também na capital gaúcha, a Frente Brasil Popular disponibilizou dois números de telefone para apoio jurídico e está fazendo circular nas redes sociais e pelo WhatsApp algumas “orientações legais de conduta em caso de prisão”.
Em São Paulo, a Justiça negou a autorização para que movimentos pró-Lula marchassem na av. Paulista, argumentando que as forças contrárias já haviam solicitado uma autorização semelhante. Seja como for, os grupos ligados ao PT anunciaram em nota que “não abrirão mão da caminhada democrática na tradicional avenida” à tarde. De maneira geral, nas ruas, o julgamento de Lula pode ser dividido em três actos.
Antes
Em Porto Alegre, as manifestações começaram nesta Segundafeira, com uma caminhada liderada pela Via Campesina até o acampamento montado pela militância pró-Lula no parque Anfiteatro Pôr do Sol. “Esperamos 3.000 pessoas para começar o acampamento”, afirma Cedenir de Oliveira, da coordenação do MST no Rio Grande do Sul. O acampamento foi autorizado pela Secretaria de Segurança Pública para ocorrer entre os dias 22 e 24 de janeiro.
Na Terça-feira de manhã, outra marcha está marcada em Porto Alegre, das Mulheres pela Democracia, com a presença da expresidenta Dilma Rousseff. No final da tarde, a partir das 18h, um acto contará com a presença de Lula, com concentração na Esquina Democrática, no centro. Segundo Alexandre Padilha, vice-presidente do PT, mais de 500 caravanas de todo o Brasil confirmaram presença para acompanhar as manifestações na cidade.
Na mesma data, o movimento Vem Pra Rua convoca um acto “em defesa da Justiça” – e contra o ex-presidente Lula. A concentração será às 18h, no Parque Moinhos de Vento. Além de Porto Alegre, os organizadores prometem protestos no mesmo horário em mais de 40 cidades, incluindo São Paulo, onde a concentração ocorre na avenida Paulista, em frente ao TRF-3.
Durante
Apesar da programação pré-julgamento, na Quarta-feira, 24 também haverá actos de ambos os lados políticos. Em Porto Alegre, três frentes pró-Lula sairão marchando de locais diferentes da cidade em direção ao TRF-4 a partir das cinco horas da manhã. Haverá um cordão isolando o prédio e os atos serão no entorno. Do outro lado, o MBL e o Vem Pra Rua convocam sua militância para o Carnalulae a Festa da Condenação, no Parque Moinhos de Vento. Os actos estão marcados para as 18h.
A previsão é que a sessão na corte se encerre por volta das 15h30. Ainda não está confirmado onde o ex-presidente assistirá ao julgamento, que será transmitido ao vivo no canal no Youtube do TRF- 4. Ele estuda ir à avenida Paulista e juntar-se à militância petista, mas também existe a chance de que permaneça em Porto Alegre após o acto no dia anterior.
O próprio acto na Paulista em defesa de Lula, porém, está em xeque, já que a avenida também foi requisitada pelo Movimento Brasil Livre e Nas Ruas, ambos contra o petista. Na Quarta-feira da semana passada, houve uma reunião com as entidades e a Polícia Militar, mas não houve acordo.
Os movimentos Brasil Popular e Frente Povo sem Medo, ligados ao PT, pediram a autorização para realizar um acto na avenida, a partir das 14h, mas o pedido foi negado pela Justiça. Na decisão, o juiz Antonio Augusto Galvão de França, do Tribunal de Justiça de São Paulo, justifica que “há notícia de que outra entidade indicou intuito em promover manifestação de ideal antagónico no mesmo dia e local”.
Mas afirma, porém, que não está claro quem protocolou primeiro o pedido. “Contudo, analisando a acta da reunião realizada junto à Polícia Militar, tudo indica que a preferência é da outra manifestação”. Após a decisão decretada na última Sexta-feira, os movimentos ligados ao PT divulgaram uma nota convocando a concentração às 17h na Praça da República, encerrando com uma caminhada até à avenida Paulista, a três quilómetros de distância.
“As entidades reforçam que não desistirão da caminhada democrática na tradicional avenida, principalmente depois de terem sido barradas após inúmeros diálogos”, diz a nota. Os movimentos alegam que tentaram dialogar mudando o horário e o ponto de concentração do ato na Paulista. “Não adianta vir a polícia do (Geraldo) Alckmin dizer que a gente não pode fazer manifestação, porque nós vamos”, disse Guilherme Boulos, líder do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto), em acto de intelectuais e artistas pela defesa de Lula na última Quinta-feira em São Paulo. “A rua não é só deles, dos que vestem a camisa da CBF. Nós vamos para a Paulista.
O povo da Ocupação Povo sem Medo, em São Bernardo, virá para o centro”. De qualquer modo, os movimentos pela prisão do petista prometem ir à avenida também, com caminhão de som e levarão o Pixuleco. O boneco foi montado na última sexta, em frente à casa do ex-presidente em São Bernardo.
Houve bate-boca entre militantes anti e pró-Lula, mas não houve confronto físico. Depois No dia seguinte ao julgamento, haverá uma reunião do diretório nacional do PT, em São Paulo, que simbolizará extraoficialmente, o lançamento da candidatura de Lula à presidência. Na pauta estará o encaminhamento da candidatura de 2018, mas não haverá um anúncio oficial ainda, devido aos prazos estabelecidos pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que estipula que as convenções partidárias para escolher os candidatos devem ocorrer somente entre 20 de julho a 5 de agosto. De qualquer modo, deputados e dirigentes de todo o país estão a ser convocados para a reunião, cujo horário e local ainda não foram confirmados.