A pesar de uma aparente tendência de ser “invisível” a economia digital, aquela actividade que se refere às actividades económicas que usam tecnologias de computação digital já é uma realidade em Angola. Há cada vez mais troca de produtos e serviços baseados no ambiente digital e cada vez mais as interações e o trabalho migram para este ambiente. Como e quantas andamos no país é o pano de fundo para uma entrevista a Fátima Almeida, Chief Executive Officer (CEO) da empresa BayQi, pioneira no ramo
Fala-se tanto de “economia digital” no mundo que para alguns países o resultado é mensurável e com perspetivas de desenvolvimento, a tal ponto que é considerada a “economia do futuro”. A quantas e como andamos em Angola?
A economia digital está em crescimento em todo o mundo. Muitos países estão a empenhar-se para tirar proveito do potencial das tecnologias digitais para impulsionar o desenvolvimento económico. Em Angola, há avanços significativos, mas temos também desafios a enfrentar. Um exemplo promissor de economia digital em Angola é o sector de comércio electrónico e fintech. Empresas como a BayQi, uma plataforma angola- na de comércio eletrônico, estão a ganhar destaque ao oferecerem produtos e serviços online para os consumidores locais. Essa é uma tendência crescente, com mais empresas angolanas a procurar estabelecer presença online e adotar estratégias de comércio electrónico para expandir seus negócios.
O crescimento da internet em Angola também tem sido uma par- te importante do desenvolvimento da economia digital. Com 10,36 milhões de internautas em Janeiro de 2021 e uma penetração da internet de 31,0% da população, há um aumento significativo no acesso à internet no país. Isso tem impul- sionado a demanda por serviços digitais, como aplicativos móveis, plataformas de pagamento online e outras soluções tecnológicas. O know-how no mercado tecnológico em Angola está em crescimento e investir em start-ups avançadas pode ser crucial para impulsionar a economia digital no país.
Start-ups que já existe há 7 anos e conectam clientes e negócios são exemplos de empresas que estão a avançar nesse cenário. É importante investir agora para o futuro da economia digital em Angola, especialmente considerando que muitas start-ups levam mais de cinco anos para amadurecer. É necessário melhorar a infraestrutura de TIC, a alfabetização digital e as regulamentações adequadas para promover um ambiente de negócios digital favorável. Com um investimento estratégico e políticas adequadas, Angola pode aproveitar o potencial da economia digital e impulsionar ainda mais o seu desenvolvimento económico.
há esforços para esta esta direcção, ou seja, desenvolvimento da economia digital?
Apesar desses desafios, o Governo de Angola tem tomado medidas importantes para promover a economia digital no país. Por exemplo, a assinatura do Memorando de Entendimento com a Estônia para cooperação em governação digital e modernização administrativa é um passo positivo, sendo a Estônia o país mais digital do mundo. As políticas e regulamentos em desenvolvimento para promover o uso de tecnologias digitais em sectores-chave da economia, a criação do “Parque de Ciência e Tecnologia de Luanda” são um compromisso do Governo angolano com o avanço da ciência e tecnologia, com o objectivo de impulsionar a economia e melhorar a qualidade de vida da população por meio da inovação e do desenvolvimento tecnológico, são também fundamentais.
Há uma “real economia digital” em curso no país? Se sim onde e como? Se não, quais as razões? A economia digital é real em Angola e ela está a crescer. Temos como exemplos concretos o comércio electrónico com plataformas diversas como a nossa; o surgimento do social commerce nas Redes Sociais; o avanço das soluções financeiras digitais como a Multi- caixa Express; o apoio de incubadoras e aceleradoras como a LISPA, Acelera Angola, Founder Institute, entre outras para startups e empreendedores e a implementação de iniciativas do Governo electrónico, como o ‘Simplifica’, para modernização dos serviços públicos. Esses avanços têm o potencial de impulsionar o crescimento económico, criar empregos e melhorar a vida dos cidadãos, estimulando a inovação tecnológica e digital em Angola.
Disse recentemente em entrevista a ANGP que “Angola precisa apostar mais na educação digital para consumidores e na criação de infraestruturas sólidas para ter melhores rendimentos”. o que está a faltar para que isso aconteça?
É necessário investir ainda mais em educação digital nas escolas e centros de formação a todos os níveis, criar políticas e programas públicos facilitadores de expansão, de serviços e da cultura digital; promover o potencial comercial/económico do AngoSat II; aumentar o número de incubadoras e aceleradoras de startups digitais; desenvolver parcerias com programas internacionais; promover financiamentos para iniciativas digitais; expandir o acesso à Internet e computação para toda população, etc. A educação digital é fundamental para a literacia digital e fomentar o mercado digital porque haveriam consumidores capazes de usar e solicitar a criação de diversos e novos serviços digitais.
Treinamentos e capa- citações específicas podem ser oferecidos para a população em geral, com foco em habilidades digitais relevantes para o mercado de trabalho e serviços, para o uso quotidiano de tecnologias digitais, bem como em práticas de segurança online. O acesso à internet e computação é um pré-requisito básico para a digitalização de serviços. É importante realçar que programas, políticas e intervenções de- vem ser acessíveis e inclusivos, levando em consideração a diversidade de perfis em termos de áreas urbanas e rurais. Financiamento para iniciativas digitais é extremamente importante.
As empresas tecnológicas são cruciais para impulsionar o sector de tecnologia em Angola. O governo pode direccionar quotas ou mesmo criar novas linhas de financiamento somente para startups e empresas de tecnologia. Isso pode incluir a criação de fundos de investimento voltados para tecnologia, programas de aceleração e incubação de startups, e apoio à pesquisa e desenvolvimento em tecnologia. Essas iniciativas e/ou programas podem ajudar a atrair investimentos para o sector tecnológico angolano, estimular a inovação, promover a criação de emprego e impulsionar o crescimento económico. É importante que o Governo adote políticas e regulamentações favoráveis ao desenvolvimento de em- presas de tecnologia, promovendo um ambiente propício para o surgimento e crescimento dessas em- presas no país.
Para as questões das TICs, parece que temos dois países. Há um ambiente para Luanda (mais avançado) e outro totalmente retarda- do para o resto do país. Assim, estão criadas as condições objectivas para que este conceito de “economia digital” não seja adoptado como a alternativa para um território tão vasto como nosso. Concorda? Antídotos?
Para promover a ‘Economia Digital’ de forma mais ampla em todo o território angolano, seria necessário adoptar medidas específicas para promover o desenvolvimento digital em áreas fora de Luanda. Deixa-me informar-te que as províncias fazem uso das tecnologias e estão a acompanhar as tendências. A nossa empresa entrega nas 18 províncias de Angola. O top das províncias que mais compra mostra-nos isso. Temos Moxico que é muito forte em aquisição de produtos online. Cabinda antes da COVID estava muito activa, todas as semanas enviávamos encomendas. Temos a Huila e Benguela que nunca saem do top. O valor médio das províncias é superior a província de Luanda. O potencial é grande. Alguns possíveis antídotos para trazermos uma inclusão digital para todo território inclui: investimento em infraestrutura de conectividade.
É fundamental expandir a infraestrutura de conectividade em todo o país, incluindo áreas rurais e remotas, para garantir acesso à internet de qualidade e em velocidades adequadas. Isso pode envolver a implantação de redes de fibra óptica, o uso de tecnologias móveis e o desenvolvimento de projectos de inclusão digital em áreas carentes. É importante promover programas de capacitação digital em áreas fora de Luanda, incluindo treinamentos, cursos e programas educacionais voltados a literacia digital, habilidades tecnológicas e empreende- dorismo digital. Isso pode ser feito em parceria com instituições de educação, organizações da sociedade civil e empresas de tecnologia.
É fundamental o incentivo à criação de ecossistemas digitais regionais. É possível estimular a criação de ecossistemas digitais regionais em outras partes do país, semelhantes aos que existem em Luanda, incentivando o surgimento de startups, incubadoras, aceleradoras e outras iniciativas voltadas para o desenvolvimento da economia digital em diferentes regiões de Angola. Um exemplo de um país em desenvolvimento que enfrentou desafios semelhantes na adopção de tecnologias digitais em todo o seu território é a Índia. A Índia é um país com uma vasta geografia e uma população diversificada e numeroso, com diferenças significativas em termos de desenvolvimento económico e acesso à tecnologia. No entanto, o Governo indiano implementou uma série de medidas para promover a adopção de tecnologias digitais em to- do o país, incluindo áreas rurais e remotas. Podemos aprender dessa experiência.
Como aumentar o número de clientes activos neste segmento da vida económica?
Para aumentar o número de clientes activos é necessário um investimento significativo, uma vez que o custo de aquisição de um cliente digital é alto, devido ao facto de que eles estão activos diariamente em plataformas internacionais e é necessário investir fora do país para chamar a atenção da marca, uma vez que o consumidor está em Angola. A BayQi tem como meta atingir 1 milhão de usuários em toda Angola até 2026, e para isso acontecer é preciso estabelecer parcerias e colaborações a níveis público e privado. Será necessário que a BayQi aceda ao financiamento, que pode vir de um invetidor, de uma linha de crédito público ou de um programa de apoio a empresas de tecnologia, que nesta fase precisam de investimentos para crescer e expandir. Com a capitalização, serão criadas estratégias de marketing (educação digital) e melhorias na experiência do cliente, como fornecer um atendimento ao cliente eficiente, supor- te técnico ágil, facilidade de uso da plataforma e soluções personalizadas de acordo com as necessidades dos clientes.
As questões de segurança e a protecção no processo de compra por parte de qualquer utilizador do mercado digital ainda é problemática. uma verdadeira economia digital depende de uma alta literacia dos utentes (fornecedores e consumidores). como andamos neste quesito?
A segurança e a protecção no processo de compra online são questões importantes para garantir a confiança dos usuários e promover uma economia digital saudável. A literacia digital (tanto dos fornecedores quanto dos consumidores) é fundamental para um mercado digital seguro. A conscientização sobre a importância da segurança digital tem aumentado nos últimos anos, com muitas em- presas e organizações a promover campanhas de sensibilização para educar os usuários sobre as melhores práticas de segurança online.
Isso inclui a importância de proteger senhas, evitar clicar em links suspeitos, manter o software actualizado e tomar outras medidas para proteger informações pessoais e financeiras. Temos como exemplo a campanha que o Banco Nacional lançou para chamar a atenção do consumidor sobre vá- rios tipos de fraude existentes no mercado financeiro actual em Angola. A BayQi tem um programa de educação digital e financeira chamado “BayQi Confio”, que conscientiza sobre a importância da segurança digital. Deve-se também adoptar medidas de segurança em plataformas digitais.m A nossa empresa irá lançar um novo aplicativo que classificamos como uma super App por incluir comércio electrónico e uma carteira digital.
Neste novo modelo, adaptamos medidas de segurança muito fortes, como o uso de criptografia de dados para proteger as informações dos usuários durante a transmissão e armazenamento. Isso envolve a codificação dos dados para que só possam ser lidos por pessoas autorizadas. Incluímos também a opção de autenticação de dois factores para os usuários, adicionando uma camada adicional de segurança. Criamos um departamento de reclamações que irá monitorar actividades suspeitas ou outras actividades potencialmente fraudulentas. Em resumo, o mercado digital em Angola está bem ciente dos riscos e perigos, e existem várias acções e actividades no país para mitigar essas situações. Estamos todos engajados em criar um mercado digital forte e seguro para todos.
“A digitalização do sector bancário em Angola tem avançado gradualmente”
Diz-se a todo momento que a banca angolana está cada vez mais digitalizada, oferecendo mais soluções de pagamentos via internet. o próprio banco central tem sido como que o motor a liderar este processo. entretanto, passos consumados em outras realidades, como a cripto moeda e similares, aqui ainda são uma utopia. Acha que assim chega- mos no patamar que se pretende e ambicionamos?
A digitalização do sector bancário em Angola tem avançado gradualmente e a adopção de soluções de pagamento online está também a expandir. É verdade que o Banco Nacional de Angola (BNA), como órgão regulador do sector bancário, tem desempenhado um papel importante ao incentivar e liderar esse processo de digitalização. No entanto, a adopção de cripto moedas e outras tecnologias financeiras inovadoras ainda pode ser considerada incipiente em Angola. Embora essas tecnologias tenham ganhado destaque em algumas partes do mundo, a sua adopção em Angola pode enfrentar desafios específicos, como a falta de infraestrutura tecnológica e regulamentação clara.
É importante notar que a adopção de cripto moedas e outras tecnologias financeiras inovadoras requer uma regulamentação adequada, uma infraestrutura tecnológica robusta, a confiança dos usuários e uma compreensão completa dos riscos e benefícios associados a essas tecnologias. A transição para uma economia digitalizada e a adopção de tecnologias financeiras inovadoras podem levar tempo e exigir a colaboração entre o sector bancário, o governo, os reguladores e outras partes interessadas. É possível que Angola alcance o patamar desejado de digitalização financeira e adopção de tecnologias inovadoras, mas isso pode exigir uma abordagem estratégica e um plano abrangente que aborde os desafios específicos do país. É importante promover a educação financeira e digital dos usuários, criar um ambiente regulatório adequa- do, incentivar a inovação e investir na infraestrutura tecnológica necessária para suportar a adopção dessas tecnologias. A colaboração entre o sector público, o sector privado e a sociedade civil pode desempenhar um papel fundamental no avanço desse processo.
Fale-nos das propostas e soluções trazidas ao mercado angolano pela bayqi, sendo um operador neste segmento?
BayQi é uma empresa inovadora no mercado angolano que tem contribuído para impulsionar a adopção de soluções digitais e o desenvolvimento do mercado local. Desde a sua criação em 2016, tem lidera- do o sector de comércio electrónico e meios de pagamento em Angola, sendo pioneira na criação da primeira carteira digital com sistema de pagamento em forma de carregamento. A empresa está actualmente na recta final para lançar a BayQi e Wallet, que irá proporcionar uma maior segurança digital aos seus usuários. A cultura da BayQi é focada no cliente, garantindo uma experiência única aos seus usuários, que poderão fazer pagamentos com a BayQi Wallet em estabelecimentos físicos através de QR Code. Além disso, a empresa está a investir em segurança e protecção de dados dos clientes, implementando programas para aumentar a inclusão financeira e digital dos consumidores e compradores.