Nas escolas, nos hospitais, em casa, nas creches ou nas igrejas, o chumbo invade o nosso organismo por meio das tintas usadas nas paredes, por inalação ou ingestão, causando silenciosamente problemas irreversíveis. A preocupação maior é com as crianças, mas os adultos não estão imunes, porque andaram expostos até dez vezes mais de PPM (partes por milhão) recomendados mundialmente. Angola tenta acelerar a criação de uma legislação para impedir a entrada de tintas com chumbo ou que, pelo menos, tenham até 90 PPM
Abaixa capacidade de assimilação, a osteoporose, problemas no pulmão, pré- eclâmpsia, entre outros, são algumas das consequências da exposição ao chumbo para o ser humano.
A preocupação com a criança é maior pelo facto de estas absorverem em maior quantidade o chumbo em relação aos adultos. A exposição ao chumbo pode também resultar num risco acrescido de comportamento antissocial, doenças cardiovasculares e redução da fertilidade.
Nas crianças, o chumbo pode danificar o cérebro e o sistema nervoso, abrandando o crescimento e o desenvolvimento. Todos os anos, estima-se que 900.000 pessoas morram devido à exposição ao chumbo, sendo que só a exposição infantil resulta em perdas económicas de 977 mil milhões de dólares por ano, de acordo com os dados disponibilizados no relatório de 2023 do Programa das Nações Unidas para o Ambiente (PNUA).
Com a missão de reduzir o envenenamento por chumbo, principalmente em crianças, o LEEP (Projecto para Eliminar a Exposição do Chumbo), uma organização internacional sem fins lucrativos, está a trabalhar com o nosso governo para ajudar a implementar a regulamentação que coloca um limite no chumbo das tintas.
O LEEP é um parceiro da Aliança Global para Eliminar o Chumbo nas Tintas, que é uma iniciativa conjunta da Organização Mundial da Saúde e do PNUA, e trabalha com 25 países em África, para além da América Latina e Sul da Ásia.
Em entrevista ao jornal OPAÍS, Victória Krauss, gestora de programas do LEEP, explicou que estão concentrados nestes continentes, porque o chumbo nas tintas é um problema que aparece em países de desenvolvimento baixo e médio. “Isso é um problema grande para as crianças, porque elas acabam com deficiência na aprendizagem, ou com desenvolvimento atrasado por conta do alto nível de chumbo no sangue.
O chumbo causa danos irreversíveis no cérebro e uma vez no sangue, ele não é eliminado. E em Angola, a UNICEF estima que existam cerca de 4,7 milhões de crianças com níveis elevados de chumbo no sangue”, sustenta. Considera que a tinta de parede com chumbo se torna uma fonte de envenenamento por longos anos, tendo exemplificado que quando começa a descascar, deita um pó, e neste caso quando a criança inala ou ingere é envenenada.