Os diferentes especialistas dos países-membros da CPLP, que se encontram a participar da conferência que encerra hoje, na capital angolana, entendem que a aposta na digitalização documental dos arquivos históricos dos Estados daquela organização lusófona vai permitir maior preservação, divulgação e acessibilidade do acervo documental, que é um elemento indispensável na conservação da identidade histórica dos povos.
Tornar o acervo documental cada vez mais acessível, compreensível e próximo das comunidades, especialmente dos estudantes, historiadores e académicos, é apontada como uma das melhores maneiras de se preservar a identidade histórica destes países que têm em comum não apenas a língua oficial, mas um passado que reflecte a comunhão entre as suas raízes históricas e culturais.
Segundo a directora-geral do Arquivo Nacional de Angola, Constância Ceita, a conferência internacional sobre os arquivos históricos dos Estadosmembros da CPLP, que decorre sob lema “Arquivos Históricos e Sustentabilidade: Políticas Públicas na CPLP”, tem por objectivo promover a partilha de ideias e práticas mais viáveis para dar resposta às necessidades de melhor protecção, preservação, divulgação e distribuição dos acervos documentais dos países da comunidade.
A responsável entende que há muita documentação herdada do período colonial, que diz respeito a cada um dos Estados-membros da CPLP, daí que a aposta na digitalização documental dos arquivos é um caminho necessário para melhor conservação destes acervos, assim como de tornálos acessíveis a todos os cidadãos de cada país pertencente à organização e não só.
“Há que se criar mecanismos de protecção, classificação e inventariação desta documentação e, por fim, encontrar meios de levarmos a bom porto o grande processo de digitalização destes arquivos que dizem respeito a cada um dos integrantes desta grande comunidade que é a CPLP”, disse Constância Ceita, em declarações à imprensa.
Espaço de diálogo multicultural
A conferência, que junta especialistas, governantes, estudiosos e académicos de países como Angola, Portugal, São Tomé e Príncipe, Cabo-Verde, Brasil, Moçambique, Guiné-Equatorial e Timor-Leste, tem ainda como objectivo principal promover um espaço de diálogo multilateral permanente entre os arquivos históricos dos Estados-membros da CPLP.
Na sua intervenção, Silvestre Lacerda, director-geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas de Portugal, defendeu que o Festival da Canção de Luandamas também é uma parte importante a ser levada em conta nas tomadas de decisões por parte dos governos dos países da CPLP.
Sublinhando que “o conhecimento é parte integrante da nossa vivência enquanto sociedade” e os arquivos “são uma fonte indispensável deste conhecimento, por isso devem ser tratados com o respeito, responsabilidade e comprometimento”.
Preservação da história
Ana Flávia Magalhães Pinto, directora-geral do Arquivo Nacional do Brasil, ao debruçar-se sobre o tema “Arquivos, Direitos Humanos e Reparação: caminhos para a cooperação internacional” sublinhou que é preciso olhar para o investimento no conhecimento como a maior aposta que um país pode fazer para melhorar a qualidade de vida e o futuro dos seus cidadãos e, por isso, a situação dos arquivos é um assunto que diz respeito não apenas aos historiadores e pesquisadores, mas à sociedade em geral, porque tem a ver com a preservação da sua história.
A mesma frisou, por outro lado, que os arquivos históricos são elementos indispensáveis na promoção de cidadania e espírito de patriotismo nas sociedades e, portanto, as questões relacionadas devem ser discutidas, analisadas e reflctidas com profundida e exaustão, visando a busca de soluções concretas e exequíveis.
Já Iaguba Djaló, investigador e arquivista da Guiné-Bissau, que falou sobre “Desafios de políticas de preservação do património histórico-documental na GuinéBissau”, defendeu a criação de infra-estruturas de raiz capazes de conservar os arquivos e permitir que estes jamais percam a sua identidade originária. Referiu que preservar os arquivos, sejam eles documentais ou materiais, é conservar a história, a raiz e a cultura de um povo. “Esta é uma acção de manter viva e acesa a nossa história”, realçou.
Além dos já mencionados na conferência que junta dezenas de académicos no Arquivo Nacional de Angola, situado na zona da Camama-1, município de Talatona, em Luanda, estão em discussão diversas temáticas, entre as quais “Velhos arquivos, novos problemas na infindável luta contra o esquecimento”, “Arquivo Histórico de São Tomé e Príncipe: Intercâmbio e a Sustentabilidade documental”, “Os Projectos de Cooperação entre o IANCV e os Arquivos da CPLP”, “Uma Reflexão sobre o Novo Arquivo Nacional de Angola”, “Rede de Arquivos Históricos da CPLP”, entre outros.