É comum em determinadas épocas do ano os mais altos responsáveis indultarem os presos que tenham cometido delitos comuns, sobretudo os não associados a sangue ou acções que tenham posto em causa os interesses mais nobres do país.
Vamos levar uma ficha?
Quando há alguns meses vi a imagem de uma mulher, quase anciã, estacionada num dos pontos de venda dos chamados jogos de sorte e azar, mexeu comigo o facto de não conseguir compreender se a jogadora estava aí por necessidade ou se na verdade era uma habitué.
É provável que conheça alguma coisa sobre as apostas em que se iria inscrever. Mas tenho dúvidas até agora. Saberá ela quem será o Tiago Azulão, Neblu, Cirilo Depu ou Kaporal?
Também não creio que a quase anciã estivesse nos últimos tempos de olhos na tela apoiando uma selecção ou informada sobre quem são Leonel Messi, Neymar, Enzo Fernandes, Modric, Abobakar ou até Ronaldo.
Sou forçado a concordar que, inconformado com alguma situação social que estivesse ou ainda esteja a viver, ela tentasse a sorte para angariar alguma coisa para poder adquirir o que comer, vestir e até beber.
Este exemplo que a nossa sociedade apresentou, que poderia ser melhor compreendido num país europeu ou americano, daqueles mais desenvolvidos, pode não ter tido o mesmo significado em Angola. Ainda hoje, apesar de a senhora ter sido acudida por um kudurista com 100 mil kwanzas, demonstrou uma nova faceta que esconde muitos problemas e incertezas que poderemos estar a viver.
Um pouco por todos os cantos da cidade de Luanda, em postos móveis ou fixos, acorrem com regularidade centenas de jovens à procura de um milagre nos jogos de sorte e do azar de várias empresas que se foram fixando nos últimos tempos no país. É provável que alguns acertem. Mas um grande número de apostadores não têm tido a mesma sorte o que lhes pode levar ainda mais a uma situação de frustração, alimentadas também pelas expectativas goradas quanto a um posto de trabalho e melhoria das condições de vida das famílias.
Infelizmente, aos poucos, vai-se criando uma sensação no seio destes jovens que se consegue singrar mais esperando por uma aposta acertada do que dando outros passos mais convincentes e consistentes. É só vermos a forma como se acorre aos postos, sobretudo quando existem os grandes jogos de futebol e outras contendas noutras modalidades desportivas.
É preciso que se leve os jovens a acreditarem mais nas políticas para a juventude, a busca de oportunidades nos postos de emprego do Ministério da Administração Pública, Trabalho e Segurança Social e não numa maquineta que pode apenas oferecer prazer social e económico para poucos dias. Pena é que muitos hoje vão depositando toda a confiança nas fichas que acabam por enriquecer muito mais os donos das empresas de apostas desportivas.