Novembro deverá fechar com pompa. e que pompa. Acontece hoje, em Luanda, o lançamento das festividades alusivas aos 50 anos de independência, por sinal no mesmo espaço em que há quase cinco décadas o malogrado presidente e fundador da Nação, António Agostinho Neto, proclamou para o mundo que Angola estava livre do jugo colonial.
independentemente do que se possa dizer, enquanto angolano, a independência vale sempre a pena, contrariando assim as suposições daqueles que, devido a problemas conjunturais, acreditam que fosse preferível regressar aos tempos em que alguns eram controlados à base do acoite ou reconhecidos com um pseudocartão de assimilado.
A comemoração de cinquenta anos, por sinal meio século, exige sempre, sobretudo para os mais rigorosos, uma celebração à altura, assim como uma importante reflexão sobre o que se fez ao longo do tempo, deveria ser feita ou, por fim, o que é importante fazer nos anos subsequentes.
embora fosse visto pelo mundo como um país independente, Angola viveu os seus primeiros 15 anos mergulhado numa das guerras mais violentas do mundo, beneficiando de uma treguazinha em 1991, mas que veio a reacender com maior ferocidade nos anos que se seguiram.
foram períodos em que a destruição a todos os níveis emperrava qualquer plano governativo, até mesmo nas cidades que se supunham distantes dos canhões e ataques militares das forças então beligerantes, por terem sido transformadas em placas de acolhimento dos milhares de cidadãos que fugiam das suas áreas de origem.
Na prática, só depois de 2002, altura em que a guerra termina finalmente, isto é, quase 11 anos mais desde os acordos de bicesse, é que o relógio cronológico da vi- da de Angola verdadeiramente começou a contar para os seus ainda preservados 1. 246.700 quilómetros quadrados.
Se da então potência colonial se havia herdado fábricas, campos de cultivo e outras unidades de referência, entre o campo e as cidades, as várias refregas militares acabaram por coarctar também este ímpeto, embora em alguns casos a inércia e a insensibilidade governativa de outra época tenham contribuído para o desaparecimento destes activos.
Nesta fase, claro, muitas serão as avaliações do que terá sido feito ao longo destas cinco décadas. Como tudo, haverá os que dirão que é positivo, apesar das vicissitudes que se passam hoje, assim como outros paladinos de que pouco ou quase nada foi feito desde que o país se tornou livre.
A verdade é que, de um país com pouco mais de 7 milhões de habitantes, na época, vivemos num momento em que os dados do novo censo poderão apontar para muito mais do que 30 milhões de pessoas. onde cada um deles teve a proeza de saborear ao longo dos anos os momentos bons e maus.
E por isso, há condimentos sim para que todos nos envolvamos nas celebrações do 50.º aniversário, independentemente das cores políticas, credo e raça. Afinal, mesmo que se discorde de algo, é possível participar com pompa e circunstância, jogando sob protesto, como acontece no futebol, por exemplo.