A leptospirose é uma doença infecciosa causada pelo contacto com urina de animais, como ratos, principalmente, bem como cães e gatos que estejam infectados pela bactéria leptospira, sendo uma preocupação crescente para a médica veterinária, uma vez que as comunidades ainda estão muito expostas ao risco de infecção.
Em Luanda, as amostras saíram dos municípios de Cacuaco, Viana, Belas, e Luanda. Já no Huambo, o estudo foi realizado no Bailundo, Caála, Londuimbale e Huambo.
A investigação conduzida por Elsa Fortes focou-se em amostras de sangue de pessoas que procuraram serviços médicos com suspeita de malária.
“Confunde-se a leptospirose com a malária. As pessoas estão mais habituados a lidar com o plasmódio, quando na verdade o indivíduo está com bactérias de leptospirose, que são pouco perceptíveis e carecem de outras técnicas de testagem”, disse.
O resultado foi surpreendente. Cerca de 20% das amostras indicaram infecção por leptospirose. Assim, pensa a médica que “há a necessidade de se integrar testagens diferentes, já que os sintomas da leptospirose são muito semelhantes aos da malária e pouco se fala dela, mas vivemos numa realidade muito propensa a adquirir a leptospirose”, explicou a veterinária.
O estudo, que envolveu cerca de 700 amostras de sangue, também analisou animais, especialmente os ratos, que são conhecidos como hospedeiros de bactérias causadoras da leptospirose. Estes roedores transmitem a doença por meio da sua urina, que contamina o solo e a água.
“A transmissão acontece quando a pessoa com mínima ferida, entra em contacto com a urina infectada, especialmente em ambientes insalubres”, disse Elsa.
A leptospirose é uma doença que afecta mais de 1 milhão de pessoas por ano em todo o mundo, e provoca cerca de 60 mil mortes por ano.
De acordo com a veterinária, a infecção pode levar a complicações graves, como insuficiência renal, hepática e hemorragias. Já nos animais, pode causar aborto, infertilidade e outros problemas de saúde.
Sendo que as situações de maior exposição, disse a médica, passam pelo vínculo ocupacional, como cuidar de animais, matadouros, manipulação de produtos de origem animal e ainda estar a exposto a inundações que arrastam a urina infectada.
A proximidade de ratos nas habitações e nos estábulos e também andar descalço em superfícies contaminadas.
O problema da falta de testagem para o diagnóstico específico da leptospirose
Um dos maiores desafios identificados pela pesquisa é a falta de diagnóstico adequado para a leptospirose em Angola.
Elsa Fortes ressalta que, embora o país tenha condições para realizar exames laboratoriais, a falta de equipamentos e reagentes específicos dificulta a detecção da doença.
“O Ministério da Saúde adquiriu testes rápidos para leptospirose, porém, estes testes não são tão confiáveis, porque eles deveriam levar um componente das espécies de bactérias que circulam no nosso país, como a leptospira interrogans, borgpetersenii, icterohaemorragiae, ballum e a pomona”.
De acordo com a médica, nos testes que são fabricados noutros países, as estripes usadas nem sempre condizem com as que circulam em Angola.
O que faz com que muitas vezes o teste não dá negativo quando tem que dar positivo. “Quando se faz os testes de laboratório, convém que haja material próprio da realidade populacional”.
Além disso, a veterinária destacou a importância de técnicas especializadas, como a biologia molecular e o teste de aglutinação microscópica, que podem identificar a presença da bactéria de forma mais precisa, disse a profissional, que precisou recorrer a um laboratório em Portugal para realizar a análise das amostras.
Ratos: os principais transmissores da leptospirose
O estudo também revelou dados preocupantes sobre os ratos, que são identificados como os principais reservatórios da bactéria leptospira.
Durante a pesquisa, 80 ratos foram capturados e todos apresentaram resultado positivo para a doença. “Os ratos transportam mais de 1 milhão de bactérias em seu organismo e podem transmitir a doença por meio da urina, que muitas vezes entra em contacto com a água ou o solo, colocando em risco a saúde humana”, explicou Elsa Fortes.
Alguns dos ratos, disse a médica, foram conservados vivos, sendo que tiraram a amostra do rim, o órgão de eleição das leptospiras, e, a partir daí, colocaram em meio de cultura e isolaram as bactérias, ou seja, as bactérias cresceram fora do organismo do animal.
“Assim, conseguimos estudar a bactéria e saber a forma como ela se comporta. Analisamos as suas subespécies e caracterizamos a estripes de bactérias que estão entre nós”.
Posteriormente, relata, compararam as bactérias com aquelas que estavam a infectar as pessoas e eram exactamente da mesma espécie, ou seja, “não há dúvidas que os ratos estão a transmitir bactérias do género leptospiras à população”.
Por: Stélvia Faria