A família acusa a direcção do Hospital Geral de Benguela de insensibilidade, não entendendo, por isso, as razões da não aplicação da vacina anti-rábica para salvar a pequena. Os familiares dão conta que ela foi vítima de mordida de um cão de casa vizinha.
O pai da criança, Vado Albano, reporta que, no dia em que ela foi mordida, a sua esposa, mãe da criança, em companhia da dona do animal doméstico, correu logo para o hospital. Posta na unidade sanitária, a equipa médica informou-lhe de que, antes de vacinar a criança, tinha de se administrar, em primeiro, uma vacina ao cão, para aferir qual seria reacção do animal.
Aplicada a pica, o cão morreu, levando a família a concluir de que se tratava de caso de raiva. E, acrescenta o pai da criança, são informados de que “não podiam abrir uma ampola para vacinar uma única criança, só tinham de ser dez crianças.
E já tinham mandado voltar três crianças para casa”, ressalta. Tendo ouvido essa orientação médica, a mãe decidiu, assim sendo, regressar com a criança à casa e, acto contínuo, informar para o esposo que, na altura, se encontrava em um dos municípios do interior da província de Benguela, em missão de serviço.
Depois de ter ouvido a esposa, Vado Albano chegou à conclusão de que o técnico não devia ter tomado aquela posição e havia necessidade de se administrar urgentemente a vacina à criança. “Pedi para ela ir para lá de novo (num sábado).
Na segunda-feira, eu fui para lá e me disseram ‘é o pai da menina Eduarda?’ Eu disse ‘é sim, senhor’. ‘Olha, nós já falamos com a sua mulher para ir para casa, porque nós só podemos vacinar na sexta-feira. Temos que ter dez crianças aqui’ “, terá sido informado.
Como qualquer pai aflito, Albano ficou aborrecido e diz ter levantado a voz para o técnico em serviço, chegando a ameaçá-lo, a fim de que ele revertesse a decisão de dispensar a família. Em função do comportamento manifestado pelo progenitor da pequena Eduarda Elisa, o técnico em serviço decidiu, então, administrar a vacina.
“Inclusive lá dentro, onde estava a minha esposa, ele disse: ‘esse teu marido é muito mau, até parece que se droga. Tens de ter cuidado com ele’ “, explicou. Familiares da vítima denunciam a existência de vários casos de morte, por falta de soros e apelam à sensibilidade institucional. Contactado por vários órgãos de comunicação social, o sector da Saúde em Benguela não se pronunciou ainda sobre o caso e a direcção confirma a abertura de um inquérito para se determinar o que, efectivamente, teria acontecido à menina Eduarda Elisa.
Entretanto, um responsável li- gado ao Gabinete Provincial da Saúde, que, entretanto, pediu para não ser identificado, explicou que “a equipa está, desde manhã, na Pediatria a pegar o processo clínico para a avaliação. Porque a criança fez quatro doses da vacina e já tinha cumprido 15 dias”, salienta a fonte, ao acrescentar que, aos sete dias de administração, a vacina cria anti-corpos no organismo de um indivíduo.
“As pessoas estão de ânimos muito alterados, a falar coisas que não têm nada a ver, mas é algo que tem que ser muito bem avaliado”, considera o especialista. Uma outra fonte ligada ao Gabinete Provincial da Saúde admitiu o registo de mortes por raiva, mas não confirma as 5 mortes por raiva de que tanto se fala, nos últimos dias.
Voltando ao caso da menina, a fonte defende um trabalho tecnicamente apurado, porque, às vezes, fecha-se casos de morte por raiva, quando, na verdade, se está diante de um caso de «malária cerebral ». “Nós temos de trabalhar bem o caso, porque informações temos é que, quando essa miúda chegou na Pediatria, anda esteve na área da malária.
Muitas das vezes, o caso chega ao hospital, não se descarta outras possibilidades e fica-se apenas pela raiva e isso, claro, tem um desfecho negativo. Se tratando de um caso de raiva, não era o soro que podia trazer a criança de volta”, sentencia.
POR:Constantino Eduardo, em Benguela