Manos e manas do jornal oPAíS, recebam com a devida estima e consideração as minhas saudações, de acordo com o período. “temos hospitais, mas ainda está a faltar saúde” é o título que escolhi para esta carta, por vários motivos, e que abarca uma série de interpretações, mas vou tentar ser mais concisa possível.
Levanto esta questão porque temos visto, e muito bem, o investimento feito pelo governo de João Lourenço no sector da saúde, consubstancia- do com inaugurações e mais inaugurações de hospitais, centros de saúde, apetrechamento de unidades sanitárias de especialidade, etc. é realmente de se parabenizar este esforço, ao ponto de me arriscar a dizer que nunca nenhum Presidente da República de Angola se preocupou tanto em investir neste sector como o actual.
A questão é: com este investimento todo, o que o pacato cidadão tem visto nas comunidades é mesmo só hospitais ou vê também saúde? ter infra- estruturas em condições, mas sem os profissionais, sem capacidade para assistência médica e medicamentosa, sem um sistema integrado ou multidisciplinar de acção para os que buscam soluções dos seus problemas nestas unidades, é o mesmo que não ter saúde.
Um exemplo básico de falta de saúde é a ausência de confiança, por parte do cidadão ou utente, nas unidades primárias que se encontram nos bairros ou municípios, ao ponto de este, mesmo depois de ter ouvido da boca do técnico de saúde ou “médico” que não tem nada, prefira ir a um hospital de referência para ter a certeza de que está bem de saúde. é assim que continuamos a ver cheios os hospitais Maria Pia, geral de Luanda, Pediátrico, por exemplo, apesar dos investimentos feitos em centros comunitários, hospitais municipais, etc.
Era suposto o cidadão não ter mais a necessidade de procurar “saúde” distante do seu município, mas parece que o investimento apenas está a ser feito com “tanta intensidade” no betão. Estamos ainda com pouca confiança nos médicos ou técnicos de saúde dos nossos municípios, não só pelo histórico pouco abonatório de atendimento, mas também pelas humilhações por que passam os utentes nestas unidades.
E como todos temos me- do de morrer, tentamos pelo menos “morrer numa unidade de referência” (já que não podemos morrer em Espanha), também para que a pessoa que nos acompanhou até ao hospital não seja culpada injustamente da nossa morte só porque acreditou que nos salvaria numa unidade sanitária primária. vamos investir em saúde também, vamos melhorar a qualidade de for- mação dos quadros de saúde, vamos potencializar estes profissionais, vamos criar condições, vamos acabar com os “negócios nos (e fora dos) hospitais”.
vou abrir um parenteses para explicar isso: existem “negócios” para ser bem atendido nos hospitais e existem negócios dos médicos ao redor dos hospitais, como laboratórios e farmácias, por exemplo. Exames que dentro do hospital não são feitos ou devem ser marcados, com uma lista de espera que leva o paciente a ficar impaciente, mas o médico conhece (e indica) um sítio lá fora onde é feito, e paga- se, caro é claro. é normal?
Não acho. também não acho normal, e isso de- monstra a tal falta de saúde que me fez destacar no título, que num hospital não tenha um medicamento e o médico conhece uma farmácia, junto ao hospital, que tenha o tal medicamento por si prescrito.
Por fim, quando falei sobre o sistema integrado ou multidisciplinar de acção tem a ver com a necessidade de abraçarmos outros profissionais, outras entidades, para a melhoria da saúde comunitária. os professores, as igrejas, os nutricionistas, os veterinários, os agricultores, os economistas e os fitoterapeutas, para não pensarmos que a saúde é apenas trabalho do médico de medicina convencional.
Este é um outro assunto que, caso publiquem esta carta, numa outra ocasião volto a escrever para o vosso jornal.
POR:Suzana Jorgina Manuel
mamã gorda – Viana