A multiplicação dos pães e peixes por Jesus Cristo, narrada na Bíblia, é uma história que transcende o milagre religioso e ensina lições profundas sobre solidariedade, equidade e eficiência na distribuição de recursos.
Esta passagem, além de ser uma demonstração de fé e compaixão, revela uma “logística divina” que, quando analisada no contexto angolano, levanta questões relevantes sobre a nossa própria gestão de recursos e as profundas desigualdades que enfrentamos.
Jesus, ao confrontar uma multidão faminta, não se limitou a fornecer alimentos de forma desordenada. Ele pediu que a população se organizasse em grupos, uma acção que, à primeira vista, pode parecer simples, mas que reflecte um princípio fundamental de logística: a organização precede a distribuição eficiente.
Este detalhe da narrativa bíblica torna-se crucial quando olhamos para Angola, onde a riqueza natural do país, muitas vezes, não chega de forma justa às comunidades mais necessitadas.
Apesar dos vastos recursos em petróleo, minerais e terras férteis, a população angolana continua a enfrentar sérias dificuldades em termos de acesso a bens essenciais, como alimentos e água potável, devido à ausência de um sistema de distribuição eficaz.
Num país como Angola, com desafios logísticos imensos, o exemplo de organização de Jesus destaca a necessidade urgente de planificação e infra-estrutura adequadas.
Muitos dos problemas que enfrentamos hoje, desde o acesso desigual a produtos de primeira necessidade até à má distribuição dos recursos de saúde e educação, podem ser atribuídos a uma falha sistémica na forma como o país está estruturado para fazer chegar o que é necessário a quem mais precisa.
No milagre dos pães e peixes, a multiplicação dos poucos alimentos disponíveis pode ser entendida, à luz do nosso contexto, como uma metáfora para a capacidade de transformação.
Angola tem potencial para multiplicar o seu próprio “pão” – seja através do petróleo, da agricultura ou do turismo –, mas a realidade mostra-nos que, em vez de multiplicarmos, muitas vezes desperdiçamos ou concentramos os recursos nas mãos de poucos.
O verdadeiro milagre que Angola precisa é uma mudança estrutural na forma como os seus recursos são geridos, de modo a que as riquezas possam, de facto, beneficiar toda a população Um dos aspectos mais inspiradores da passagem bíblica é o princípio da partilha.
O milagre de Jesus não foi apenas sobre a multiplicação de alimentos, mas também sobre a distribuição equitativa: cada pessoa teve o que necessitava. Num país onde a pobreza e a marginalização continuam a ser realidades para milhões, a ideia de partilha equitativa é mais relevante do que nunca. Angola precisa de um sistema económico e social que coloque a justiça no centro da distribuição de recursos, e não o lucro ou a influência política.
A multiplicação dos pães ensinanos que, mesmo com poucos recursos, é possível fazer muito, desde que a solidariedade e a justiça sejam os pilares dessa acção. Porém, o maior ensinamento que podemos retirar desta história é que o milagre não é apenas um acto divino, mas também humano. Jesus contou com a ajuda dos discípulos para distribuir os alimentos, numa clara demonstração de que a colaboração é essencial.
Em Angola, o desenvolvimento sustentável só será possível se houver uma cooperação efectiva entre o governo, a sociedade civil e o sector privado. Precisamos de um esforço conjunto para implementar políticas que promovam o crescimento inclusivo, onde todos possam beneficiar das riquezas do país. Em suma, a logística divina da multiplicação dos pães e peixes traz ensinamentos fundamentais para a realidade angolana.
A organização, o planeamento e a equidade na distribuição de recursos são princípios que devemos adoptar para enfrentar os desafios que nos cercam. O potencial de Angola para “multiplicar” os seus recursos existe, mas sem uma mudança na forma como gerimos e distribuímos essa abundância, o verdadeiro milagre continuará por acontecer.
Afinal, tal como na narrativa bíblica, talvez o milagre que Angola mais precise não seja de carácter sobrenatural, mas sim de justiça social e de um compromisso inabalável com o bem comum.
Por: RIBAPTISTA