“Não é fácil ter filhos nesta condição, primeiro porque o nosso país está muito atrasado em relação aos cuidados, pois, se olharmos para os outros países, há crianças que apresentam alguma evolução”, disse Félix Abias, pai de duas crianças autistas.
Nas instituições por onde passou, constatou que o serviço prestado é básico, não permite a evolução satisfatória da criança, situação que o levou a concluir que, em Angola, o desafio ainda é muito grande, e ser pai de criança autista significa que financeiramente deve estar preparado para desembolsar somas avultadas em dinheiro.
O filho de Félix Abias inicialmente frequentava uma escola onde lhe foi dito que teria várias actividades e terapias que o ajudariam a progredir, mas, com o passar do tempo, não constatou o prometido. Só de propinas, para cada criança, pagava 85 mil kwanzas, porém tinha de ter permanentemente alguém disponível para o levar.
“Ser pai nesta condição é ser uma pessoa diferente, nalgumas coisas limitar a rotina, tendo em conta que são crianças diferentes das outras, pelo facto, nem sempre são entendidas por outras pessoas”, sustenta. De acordo com o progenitor, as visitas em casa de familiares são limitadas, em função da complexidade que apresentam, isto porque algumas pessoas tratam como normais e ao apresentarem um comportamento diferente das demais crianças são repreendidas.
Os pais devem desenvolver capacidade de lidar com a criança autista, transformá-las em crianças autónomas, como conseguir pedir um copo de água e beber sem ajuda de outrem, assim como comer, atender um chamado e orientação, etc.
Félix Abias é de opinião que o país deva dar passos significativos e buscar experiências de países como Brasil ou Portugal, onde a questão de autismo já consta da agenda do Estado, diferente de Angola, onde ainda se registam dificuldades de encontrar escolas ou outro local onde as crianças possam frequentar e desenvolver.
Os poucos locais que apresentam alguma confiança ou credibilidade onde os pais podem levar os seus filhos autistas os preços são avultados. Félix Abias tem dois filhos nesta condição e quase que anualmente se debate com a questão de onde colocar as crianças. Recentemente visitou um local que apresenta alguma credibilidade, mas o valor que deve pagar mensalmente ronda os 800 a um milhão de kwanzas.
A situação não é nada fácil, é necessário ter força mental, motivação, para lidar com a realidade, pelo que Félix Abias apela ao Governo, em particular o Ministério da Saúde em conexão com o da Educação, a reflectirem sobre as condições para albergar pessoas autistas.
Os espaços que estão disponíveis são apenas particulares e os que apresentam algumas condições adequadas os preços são avultados e nem todos os pais estão preparados financeiramente para custear as despesas destas crianças. Pelo que apela ao Estado que olhe para esta situação como um problema que carece de resolução, que passa em disponibilizar centros com melhores condições, ainda que sejam subvencionados.