Narcís Pallarès-Domènech, Valerio Mancini, e Alessio Postiglione lançaram a obra “Futebol, Política e Poder: Como e Porquê os Países e as Potências Utilizam o Futebol para os Seus Interesses Geopolíticos”, onde analisam o impacto global do desporto mais popular e o papel do poder, da economia e da propaganda nas suas dinâmicas.
Foi com esta brilhante obra literária que o meu Olhar inspirouse a compreender e escrever este artigo, com uma adaptação ao contexto angolano e africano deste estudo.
O futebol, em Angola e em muitos países africanos, é muito mais do que um simples desporto. Tornase um instrumento de soft power (poder brando), utilizado por Estados e grupos de interesse para projectar influência interna e externa.
O futebol, de facto, tem-se mostrado um actor fundamental na geopolítica global. Tal como em outras nações, em Angola, o futebol é um dos negócios mais lucrativos e uma plataforma de projecção cultural e política.
O Impacto Económico do Futebol
A nível global, o futebol gera um volume de negócios impressionante, estimado em 28,4 mil milhões de euros. Ligas como a Premier League, a Bundesliga e La Liga espanhola dominam o cenário, mas o futebol africano também está a emergir como um mercado promissor. No contexto angolano, o futebol movimenta economias locais, cria empregos e tem um impacto social significativo.
Embora não alcance as cifras dos grandes mercados europeus, a importância do futebol em Angola está relacionada com o seu papel no reforço da identidade nacional e na promoção da estabilidade social.
Desde as equipas locais até à Selecção Nacional, o desporto une as pessoas em torno de objectivos comuns, algo que foi evidente durante eventos como a Taça de África das Nações (CAN), realizada em Angola em 2010. Além disso, o desporto oferece uma válvula de escape em tempos de dificuldades económicas, reforçando o moral colectivo.
Futebol, Política e Identidade
Nacional Os Estados africanos, como Angola, utilizam o futebol para reforçar a sua identidade e, muitas vezes, para projectar poder geopolítico. Um exemplo emblemático disso foi a organização da CAN 2010 por Angola, numa altura em que o País procurava destacar-se como uma potência em ascensão na África subsaariana, após o fim da guerra civil.
O evento foi uma montra para a nova Angola, rica em recursos petrolíferos e em rápido desenvolvimento. A nível internacional, eventos desportivos, como a CAN ou o Campeonato do Mundo, têm sido utilizados como ferramentas de soft power por países africanos que procuram afirmar a sua posição no cenário global. Isto é semelhante ao que se passa em outros continentes, como quando o Brasil organizou a Copa do Mundo em 2014 para mostrar o seu desenvolvimento e estabilidade política, ou quando a África do Sul utilizou a organização do Mundial de 2010 para celebrar o pósApartheid.
O Futebol como Ferramenta Geopolítica
Tal como aconteceu em outros contextos históricos, o futebol é utilizado como um veículo para os Estados se projectaram geopoliticamente. O Mundial de 2002, organizado conjuntamente pela Coreia do Sul e Japão, simbolizou a importância crescente da região do Pacífico. Em África, o Campeonato do Mundo de 2010, na África do Sul, foi mais do que um evento desportivo; foi uma afirmação da capacidade do continente africano em organizar eventos de grande escala e um símbolo da sua crescente relevância no cenário global.
No caso de Angola, o futebol tem desempenhado um papel semelhante, ajudando a posicionar o País no palco internacional e a unir a Nação em torno de uma identidade comum.
Os clubes locais, como o 1º de Agosto e o Petro de Luanda, têm sido uma parte fundamental da história do futebol angolano, representando mais do que apenas desportos — são símbolos de resiliência e de um futuro promissor.
Descolonização do Futebol Africano No contexto africano, há também uma luta contínua pela descolonização do futebol. Desde a era colonial, as competições de futebol serviram muitas vezes para reforçar as hierarquias coloniais, com os países europeus a dominarem o desporto em termos globais.
Hoje, no entanto, o futebol africano está a ressurgir com novas potências emergentes, como Marrocos e Senegal, a destacarem-se no cenário internacional. Em Angola, o futebol desempenha um papel importante na redefinição da identidade pós-colonial.
Tal como os movimentos de independência redefiniram as fronteiras políticas do continente, o futebol está a ajudar a redefinir as fronteiras culturais e sociais, criando uma nova narrativa de sucesso africano.
Esta dinâmica é visível nas competições internacionais, onde as selecções africanas estão a ganhar mais respeito e notoriedade. Em Angola, tal como em muitos outros países africanos, o futebol é um microcosmo das dinâmicas políticas, sociais e económicas que moldam a Nação. Vai muito além do campo, sendo uma ferramenta de unificação, propaganda e projecção de poder.
O futebol, enquanto desporto, serve também como um veículo de mudança social e um reflexo das aspirações de uma Nação em constante evolução. Esta análise não só ilustra a ligação profunda entre o futebol e o poder, mas também destaca o papel do futebol na construção da identidade nacional e na geopolítica global, com exemplos práticos que revelam o impacto deste fenómeno em Angola e em todo o continente africano.
Por: EDGAR LEANDRO