Sem dúvida, o diálogo é muito importante nas relações humanas, pois, é o meio pelo qual se pode chegar às conclusões plausíveis em diferentes assuntos. Na relação professor-aluno, por exemplo, Freire (2002) mostra a sua importância ao dizer que “testemunhar a abertura aos outros, à disponibilidade curiosa, à vida, a seus desafios, são saberes necessários à prática educativa. Viver a abertura respeitosa aos outros e, de quando em vez, de acordo com o momento, tomar a própria prática de abertura ao outro como objectivo da reflexão crítica deveria fazer parte da aventura docente.
Tendo a razão ética da abertura, seu fundamento político, sua referência pedagógica e a boniteza que há nela como viabilidade do diálogo”. Esta visão, da prática educativa, faz sublinhar a importância do diálogo na relação professor-aluno.
Certamente, os estudantes precisam de ter voz e vez na sala de aula. No entanto, este problema é ainda mais visível no contexto do Ensino Superior, onde, por exemplo, os professores têm controlo “total” sobre a sua disciplina e a maneira de ministrar as suas aulas.
A relação professor-aluno não é unilateral, pois, não é só o estudante que constrói o seu conhecimento, mesmo no Ensino Superior. Admite-se, naturalmente, que o estudante adquire conhecimentos, valores, crenças, formas de expressar, sentir e ver o mundo, desenvolve e assume atitudes modificando e ampliando suas estruturas mentais.
No entanto, o professor é também atingido nessa relação e que, de certa forma, ele aprende com os seus estudantes, enquanto passa a compreender como os conhecimentos e valores que os estudantes já trazem de seu ambiente familiar e de seu grupo social, bem como dos ciclos formativos anteriores e de suas próprias pesquisas, são levados para o Ensino Superior, ajudando-os na construção de uma aprendizagem significativa.
Assim, a partir dessa relação, o professor pode passar a conhecer novas formas de se ver os mundos, que são diferentes da sua. Pode também rever comportamentos, aprovar ou reprovar opiniões, desfazer preconceitos, mudar atitudes, alterar posturas (Haydt, 2011). Logo, é falsa a ideia de que, no Ensino Superior, somente o estudante aprende.
Pelo contrário, é uma oportunidade de debates mais profundos sobre a ciência, baseados no diálogo. Talvez seja por isso que, Rosa, citado por Haydt (2011), afirma que “’mestre não é quem sempre ensina, mas quem de repente aprende’”.
Ao falar-se do processo de ensino-aprendizagem, nota-se, obviamente, que tanto o professor quanto o estudante, mesmo no Ensino Superior, aprendem muito na sua interacção, razão pela qual se terá justa posto os dois processos em um. Ou seja, não se trata de processo de ensino e de aprendizagem, contudo, de um único denominado ensino-aprendizagem.
Não é à toa que Libâneo (2016) já chama atenção aos professores, destacando a diferença entre autoridade e autoritarismo, isto é, não exagerar no exercício da sua autoridade. Quando se fecha o diálogo, facilmente se pode abrir a discussão descontrolada.
Na relação professor-aluno, Haydt (2011) sublinha a importância do diálogo, atestando que, “para haver um processo de intercâmbio que propicie a construção colectiva do conhecimento, é preciso que a relação professor-aluno tenha como base o diálogo.
É por meio do diálogo que professor e aluno juntos constroem o conhecimento, chegando a uma síntese do saber de cada um. Nisto, percebe-se que, mesmo no Ensino Superior, o professor tem de estar aberto ao diálogo, permitindo que os estudantes possam sugerir sobre os tipos de aulas, ministrar as suas aulas sem passar ideias absolutas, isto é, que o professor precisa não só de falar, mas ouvir e deixar que os estudantes exprimam as suas opiniões, contrariando-as quando se provar necessário.
Esta ideia mostra que o estudante deixará de ser considerado um simples objecto e passará a ser sujeito da sua história; e o professor não será mais considerado o centro deste processo, mas aquele que propõe actividades criadoras que contribuirão para a formação do estudante. Por isso, saber escutar é uma virtude que contribui muito na relação professor-aluno, sobretudo no Ensino Superior, onde se confunde a posição orientadora do professor.
Por: *PEDRO JUSTINO “CABALMENTE”
*Professor e Académico