Lopes, carinhosamente tratado por Louco, estacionava-se algures, numa dessas avenidas da cidade capital aguardando o candongueiro que lhe vai levar ao tão esperado destino que, se prestarmos atenção, ele mesmo desconhece.
Passam-se quatro, dez, vinte minutos e nada de táxi. Joga-se aos interrogatórios afim de saber o que se passa, e então dá-se conta de que está numa zona nobre onde os azuis e branco não se atrevem a passar.
Olha para o relógio invisível no braço e dá-se conta de que o dia caminha para o meio e percebe que o sol virá, com mais força, aquecer-lhe o franzino esqueleto coberto de pele. Põemse andar até encontrar uma rua que lho dá acesso a outra avenida, maior do que a outra.
Caminha às pressas e encontra, finalmente, a avenida cujo nome é uma homenagem ao partido que lhe oferece casos e motivos para continuar conforme é. Vê ao longe um aglomerado de gente e aproxima-se questionando o que se passa.
– Não há táxi – responde um dos transientes. – Há táxi, sim, mas estão a fazer vias curtas – reponde o outro. – E onde prendes ir? – Pergunta o outro. – Vou ao encontro da felicidade – responde Lopes.
– Estás na paragem errada, amigo. Volte por onde vieste e pergunte-os porquê fazem de tudo para apagar o itinerário da tão procurada felicidade. – Perguntar à quem? – Questiona Lopes.
– Achei que estivesses louco, afinal não estás, pois só os loucos desconhecem as causas de suas loucuras. – Então estou curado? – Não estás, a cada dia pioras e nem te dás conta disso. “Zamba 2, Zamba 2”, ouve-se o cobrador de táxi.
– Assim Zamba 2 também é 200? – Ah, tudo subiu, querida! – Tudo não, o meu salário continua uma miséria, mas agora tenho de pagar o triplo daquilo que pagava para uma viagem até ao meu destino. – Qual é o teu destino? Também vais a procura da felicidade? – Questiona Lopes, o Louco. – Senhor, vai à merda.
– Eu já aqui estou. Existe lugar pior do que este? – Pensando bem não sei se existe. Mas sei que existe, dentro do nosso mundo, um mundo com pessoas que não pensam duas vezes se o assunto for nos fazer reféns dos seus caprichos.
Fazem as coisas a favor dos seus interesses sem se importar com o bem-estar dos que neles confiaram. – Dona, chamo-me Lopes, mas chamam-me Louco e prefiro continuar louco do que refletir em tudo que disseste, pois, conforme disse Platão, a loucura é uma embriaguez necessária, e acrescento que, em terras onde os tais não prestam contas dos seus atos, não se baseiam numa ideologia de referência, e optam por fazer qualquer coisa que lhes atravessa a mente, mas vale ser louco do que buscar a sanidade.
– Então, achas que este é o único caminho? – pergunta a senhora. – Não, existem vários caminhos. Tu é que escolhes que caminho seguir. Eu, por exemplo, vou agora seguir outro caminho, ou seja, outro caso para a minha coleção.
– És um louco colecionador? – Tu é que dizes! Mas olha, sobre o que vos deixa aqui aos montes, penso que os tais deveriam criar uma comissão para fiscalizar a ação desses que ontem foram vossos parceiros e hoje agem como se nunca conhecessem as vossas dores. – Mas os tais não nos ouvem! – Encontrem novas e melhores formas de comunicar! Talvez esteja aí o problema.
Por: DITO BENEDITO