Em 2022, o INAC recebeu 62 denúncias desta natureza, ao passo que no ano seguinte, em 2023, o número subiu para 114. No ano em curso, de Janeiro a Maio, os dados já somam 62 denúncias. As províncias do Bengo, Benguela, Cabinda, Lunda Norte, Uíge, Zaire e Luanda são as que se apresentam com maior número de casos.
Mas as do Cuanza Norte, Cuanza Sul, Cunene, Huambo, Huíla, Lunda Sul, Malanje e Moxico, embora com menos casos, também entram na lista, indicando ser uma prática que se está a generalizar.
A questão das crianças acusa- das de práticas de feitiçaria em Angola começou a ser construída enquanto problema social a partir do ano de 2000, em Mbanza Congo, onde foram identifica- das centenas de crianças a viver nas ruas, aparentemente foragidas de casa na sequência de acusações de feitiçaria.
De acordo com Paulo Kalas- se, director do INAC, comparativamente, há dez anos, os casos reduziram consideravelmente, mas como os números acima apontam, a acção continua a proliferar. Se no passado, as acusações eram mais verificadas, particularmente, entre o grupo étnico Bakongo, hoje os dados mostram que, apesar dos números reduzidos, outros grupos também já vão aderindo a esta injúria contra as crianças.
“As crianças acusadas cumprem certos rituais, inclusive em igrejas que perpetuam a crença no ocultismo. As crianças na flor da inocência são torturadas em jejum, durante muito tempo, algumas são expulsas de casa e muitas são mortas e atiradas ao rio”, sustenta. No seio familiar, onde deveria preponderar a protecção e o respeito, é ali onde as crianças começam a viver, desde muito novas, histórias tristes e comprometedoras.
Comportamentos de crianças e adolescentes considerados desviantes, deficiência física ou mental por parte da criança, inquietude, sonambulismo, sono agitado, muitas vezes, podem justificar a acusação, disse Paulo Kalesse, director do Instituto Nacional da Criança.
Não sendo suficiente, o fracasso financeiro e maus sonhos por parte dos membros da família, conflitos entre o casal, no caso os pais ou cuidadores, e a falta de emprego também estão entre os motivos para se atribuir o nome de bruxo ou feiticeiro ao menor.