Em média, vinte pessoas por mês são diagnosticadas com epilepsia, no Hospital Josina Machel. O director do serviço de neurologia, Guilherme Lázaro Miguel, diz ser urgente que a família identifique os sinais da doença para que o doente seja assistido com antecedência
Assinala-se, hoje, o Dia Internacional de Combate à Epilepsia, uma doença crónica não transmissível que não tem cura, e os pacientes devem tomar a medicação de modo a diminuir a frequência das crises no paciente.
A crise epiléptica é uma descarga excessiva anormal e síncrona de um grupo de neurónios. Os neurónios produzem energia que conduzem esta energia para ajudar no funcionamento dos músculos, e outros órgãos.
Segundo o director do Serviço de Neurologia, Guilherme Miguel, a medicação ajuda o paciente a dar cinco a três recaídas por ano, e a meta é diminuir os sintomas de modo que apareçam pelo menos uma vez por ano.
O especialista fez saber que o Hospital Josina Machel tem realizado as consultas externas especiais de epilepsia, as sextas-feiras, com o registo de cinco a sete pacientes, que perfazem um total de vinte pacientes por mês.
Os doentes apresentam repetições de crises, sem causa aparente, porque, quando há uma crise epiléptica, morrem muitos neurónios e se forem muito frequentes podem prejudicar o doente.
“Não tem cura mas temos uma série de medicamentos para tratar estas crises. Já estamos na quarta geração de medicamentos”, disse, tendo admitido que o doente epiléptico é uma pessoa normal fora das crises, na medida em que existem médicos epilépticos, engenheiros, políticos, que continuam a realizar as suas actividades normais.
As consultas direccionadas têm como objectivo estudar os doentes, quais as crises que predominam para encontrar um medicamento barato e adequado para o tratamento de cada pessoa. “Nem todas as famílias têm condições financeiras para comprar medicamento todos os dias”, reconheceu.
Possibilidade de ajuda nos medicamentos
O entrevistado disse que num futuro próximo poderão solicitar ajuda para apoio de medicamentos aos pacientes, uma vez que estes, se não tomarem a medicação, acabam por ter a situação complicada.
Recomenda que, logo após a primeira crise, devem procurar um médico, um especialista para começar a fazer o acompanhamento. No futuro, a pessoa pode perder a memória, ficar retardado, e fica quase que uma pessoa inválida.
75 por cento das causas da doença são desconhecidas e estão relacionadas com a genética de cada pessoa e 25 por cento são chamadas de epilepsia assintomática, que têm alguma causa.
“As infecções no cérebro podem dar também epilepsia. Doentes que tiveram um AVC podem evoluir para uma epilepsia. O doente que teve um trauma, uma cirurgia na cabeça, a posterior pode desenvolver uma epilepsia”, esclareceu o neurologista.
Vista como “doença dos demónios”
Nos tempos passados, havia muito mito em torno da doença de epilepsia, segundo o especialista, já que alguns consideravam como doença dos demónios, mas, actualmente, o preconceito tem diminuído.
Existem pessoas que dizem que esta doença não se cura nos hospitais, segundo o médico, não se pode apanhar injecção, e preferem recorrer às casas de tratamentos tradicionais. “Ainda existe estes mitos à volta da doença”, sustentou.
O médico neurologista disse que as crises epilépticas se manifestam de várias formas, há crise focal que se desencadeia numa só parte do cérebro, outras que são parciais ou simples, em que o doente só sente uma cãibra, só mexe um dedo, sente um mau cheiro ou uma dor de barriga.
“Teve medo de alguma coisa, isto também é diagnosticada como crise de epilepsia. Não necessariamente cair e convulsionar. O doente não perde consciência mas teve estes sintomas, e não cai”, disse.
Assim sendo, as crises generalizadas, aquelas que todo mundo conhece, em que a pessoa cai, vira os olhos, fica rígido começa a se rebater os braços, as pernas, pode morder a língua e sangrar.
Mas tem outras crises em que as pessoas estão sentadas e caiem, outros mexem os braços. “A epilepsia manifesta-se de várias formas, dependendo do tipo de crise e de lugar, de onde vem a crise no cérebro”, acrescentou.
A doença acarreta uma complicação que se chama de estado de mau epiléptico, relacionado com caso em que o doente tem convulsões repetidas de trinta a trinta minutos, e que não recupera a consciência.
Considera ainda complicado quando o doente convulsiona mais de cinco minutos, sem parar, podem ter paragem cardíaca, estes doentes em muitos casos podem ir a óbito por causa de alguns processos que se desencadeiam dentro do organismo.
“Na minha actividade como médico neurologista, ainda não registei nenhum caso que foi a óbito por causa da epilepsia”, rematou.