Angola é um país fundado em 1975, com a conquista e proclamação da independência nacional no dia 11 de Novembro, pelo saudoso Presidente Dr. António Agostinho Neto.
Com o fim da colonização Angola viu-se livre para se expressar culturalmente, devido um processo de opressão que inibia o seu mosaico cultural.
Sendo assim, os povos de Cabinda ao Cunene, se manifestaram com total abertura sobre os seus anseios culturais, derivados de um conjunto de tradições herdados da ancestralidade, onde ficou visível nas várias regiões e grupos étnicos do país, a valorização acentuada da música, dança, caça, pintura, escultura, escritura, alambamento, e um conjunto de rituais que fazem valer o respeito e os princípios fundamentais para uma convivência saudável que representa os hábitos e costumes do reino ou comunidade.
Estes e mais outros fenómenos culturais demonstram facilmente a potência cultural que Angola representa no mundo, com mais de 300 línguas nacionais, diversidade étnicas, com momentos importantes que marcam a história cultural do universo, com estruturas e peças raras, onde a Palanca Negra Gigante e Welwitcha Mirabilis não se encontram em nenhuma outra parte do mundo, fazendo cada vez mais da cultura angolana mais rica e mais valiosa.
Os três Presidentes da República de Angola, não ficaram de fora da construção do vasto mosaico cultural que Angola representa, participando activamente nos acontecimentos. Em 1975, quando Angola conquista a independência, António Agostinho Neto, assume o poder tornando-se o primeiro Presidente da República de Angola.
O Presidente Agostinho Neto tinha fortes laços com a cultura, exercendo por sua vez uma ligação directa com a literatura, onde aproveitava o ensejo para apresentar seus anseios culturais e políticos, que rondavam em torno da luta de libertação nacional e de outros povos oprimidos de África.
O Presidente Agostinho Neto escreveu várias obras literárias, nomeadamente, Sagrada Esperança, Renúncia Impossível, Amanhecer, e outras, que contêm poemas e escritos que serviu e serve de combustível para outros compositores, poemas como O Caminho do Mato, Adeus a Hora da Largada, Contratados, Havemos de Voltar, O Caminho das Estrelas, Kitandeira, Kinaxixi, Fogo e Ritmos, O Choro de África, Voz de Sangue, e muitos outros textos que inspiraram e aspiraram os caminhos para uma nova Angola.
Presidente Agostinho Neto, sempre se mostrou próximo do povo e da cultura angolana, resgatando o Carnaval, homenageando e reconhecendo o Conjunto Ngola Ritmos, como “Os Obreiros do Nacionalismo” angolano, no seu poema Içar da Bandeira, felicitando o seu amigo Liceu Vieira Dias.
Ao reinaugurar a Rádio Nacional de Angola, incentiva à promoção da música nacional, a criação de Centros de Concentração de Leituras, sendo igualmente membro fundador da União dos Escritores Angolanos, tendo mais tarde recebido várias homenagens, como o Centro Cultural Recreativo Kilamba, após a sua morte a cantora Belita Palma o elogia na canção com tema Nguxi, o Rey da Música Angolana Elias Dya Muezo, compõe a canção Agostinho Neto, o governo angolano referenciou seu nome numa das maiores centralidades do país, Kilamba.
De homenagens não é tudo, o Memorial Dr. António Agostinho Neto, um marco histórico e cultural, e recentemente uma homenagem bem merecida o Aeroporto Dr. António Agostinho Neto, por um conjunto de feitos políticos e culturais, onde ficou visível em fotografias Neto de arma nas costas e caneta na mão, representando sempre o seu amor pela escrita, contribuindo significativamente para o desenvolvimento da literatura angolana.
JES
Após morte do presidente Neto em 1979, toma posse o jovem José Eduardo dos Santos, como Presidente da República de Angola, com apenas 37 anos de Idade.
O Presidente José Eduardo dos Santos, já era um homem muito ligado a cultura, por via da música, pós fazia parte do Conjunto Kimbandas do Ritmo, com o camarada Brito Sozinho, e outros, e depois de deixar Leopoldiville, cria em Moscovo o famoso Conjunto Nzaji.
Conjunto Nzaji foi uma formação musical angolana composta com nomes como, Pedro de Castro Van Dunen Loy, Mário Santiago, Maria Mambo Café, Amélia Mingas, Ana Wilson, José Eduardo dos Santos, e outros.
José Eduardo dos Santos, se apresentava no Conjunto Nzaji como guitarrista, que se exibia no baixo e contrabaixo, intérprete, e compositor, tendo sido de sua autoria canções como, Caputu Mwangole, Deba, MPLA Invuluzi, Monangambé, Etu Tua Anangola, Dituminu, e outras, que para além de eternizarem o repertório da música angolana, serviram para motivar o povo angolano do processo colonial, deixando nas entrelinhas a possível vitória da luta.
Caputu Mwangole era mais uma denúncia do jovem Eduardo dos Santos, sobre os maus tratos que o colono governo português impunha ao povo angolano, a denúncia foi feita para a comunidade europeia numa fase em que as colonias já estavam a abandonar as terras colonizadas, e Portugal resistia em permanecer em Angola, e ficou fácil fazer chegar a denúncia porque os elementos do Conjunto Nzaji, residiam na então União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) e circulavam pela Europa, e mesmo sendo cantada na língua Kimbundu, a rádio Angola Combatente, fazia distribuir a canção por toda parte e por vezes com tradução.
As composições do Presidente Eduardo dos Santos serviram também de combustível para os militantes do partido MPLA, contribuindo na mobilização de membros, na angariação de fundos, e influenciando fortemente a participação activa da luta.
O Presidente José Eduardo dos Santos foi um exímio guitarrista, que apesar do seu pouco tempo devido as questões inerentes à governação, contribuiu bastante para o desenvolvimento da música e da cultura angolana… De si, sabe-se que sempre que tivesse algum espaço na sua agenda, deslocava-se do Palácio Presidencial, para acompanhar concertos musicais ou algum evento cultural, brindando com sua presença, que servia de incentivo para os artistas na contínua promoção do desenvolvimento cultural.
O Presidente José Eduardo dos Santos, também foi homenageado pela sua contribuição política e cultural. O governo angolano entregou o seu nome e data de nascimento a uma rede de mediatecas, um espaço onde se valoriza a literatura e a cultura.
JLo
Em 2017, Angola conhece o seu terceiro Presidente da República, Gen. João Manuel Gonçalves Lourenço. Com seis anos de governação fruto do seu segundo mandato, ainda não foi possível conhecer as suas aptidões culturais em tempos livres, que talvez teremos contacto mais lá pra frente.
Mas ficou registado na história da cultura angolana, representando a importância e a valorização, com a aprovação do Presidente João Lourenço, da elevação do Semba a Património Nacional, o que demonstra claramente uma ligação e preocupação do Presidente com a cultura, valorizando a música, em particular o Semba que se viu elevado ao mais alto nível dos padrões culturais.
Com a elevação do Semba a Património Nacional, ficou fácil para o povo perceber a especial atenção e o interesse do Presidente João Lourenço com os assuntos culturais, representando a realização dos anseios de muitos, que claramente defendiam este feito, porque o povo angolano é muito cultural, e o Semba expressa uma vontade histórica e importante do nosso país.
Outra demonstração cultural do Presidente João Lourenço, foi a sua participação activa nos processos de aprovação da Catedral de São Salvador do Kongo, mais conhecida como Catedral de Culumbibi, situada em Mbanza Congo, como Património Mundial, ou seja Património Histórico da Humanidade, uma obra edificada em 1491, e elevada a catedral em 1596, compondo uma das estruturas mais antigas do mundo, que concentra um conjunto de interesse de nacionais e estrangeiros.
A sua eleição a património mundial eleva o nome de Angola para os mais altos níveis culturais, provocando à promoção cultural e turística de Angola, contribuindo também para o desenvolvimento e o crescimento da diversidade económica.
De forma muito resumida ficou visível a participação dos três Presidentes de Angola, nos processos culturais, com seus engajamentos, activações e motivações, que no final resulta no crescimento da produção cultural e no seu desenvolvimento, porque em todas as nações, o Presidente da República, representa a principal figura, e seus incentivos são as de mais alta consideração.
Por: Pedro Rosa
*Investigador cultural