Passar pelos arredores da Cidadela Desportiva e dar de cara com aquela enchente diária defronte ao Instituto Oftalmológico Nacional de Angola (IONA) e não se questionar sobre as suas razões é quase difícil. Fosse num passado em que o estádio estivesse em funcionamento, claramente que se pensaria num aglomerado que estivesse em busca de bilhetes para um confronto entre as principais equipas do país.
Vezes houve em que me questionava se havia razões para que, quase todos os dias que aí passasse, aquelas pessoas, seguramente entre pacientes e seus familiares, tivessem necessidade de permanecer no local. São questões que nos surgem quando muitas vezes estamos à margem dos problemas que os demais vivem. Em cada lar, independente- mente da situação socioeconómica, cada um vive as suas vicissitudes. Umas maiores do que as outras. Algumas solucionáveis e outras quase que impossível. É assim em Angola e, provavelmente, noutras partes do mundo.
E é que há alguns dias acabei visitando de facto o referido hospital, uma unidade que existe há vários anos, tendo sido considerado por muitos como um dos maiores da sua especialidade no país. É por isso que, sendo do Estado angolano, embora conte com uma parceria de longa data com Cooperação Espanhola, como ainda se pode observar num dos dísticos afixados numa das paredes, o IONA tornou-se a única alternativa para os menos abastados sobretudo.
Não seria nenhum sacrilégio dizer que muitos dos angolanos enriquecidos ou com uma condição económica farta optem por serviços oftalmológicos noutras paragens do mundo. As estruturas actuais não suportam a demanda existente. Por mais milagres que os médicos possam fazer, um espaço melhor, em que os pacientes se sintam mais protegidos e acolhidos, seria o ponto de partida para se sanar os problemas que se vivem em relação à visão de muitos angolanos.
Numa fase em que Angola vê crescer de forma satisfatória o número de camas e de hospitais de referência, seria agradável se nos próximos tempos se pudesse passar pela Cidadela e olhar para aqueles portões quase sem gente porque muitos deles passaram a ser atendidos numa nova unidade, construída de raiz, à semelhança de muitas que o Presidente da República, João Lourenço, vai inaugurando por quase todo o país.