O município da Ganda desenvolve uma série de projectos agrícolas tendentes à produção de cereais, com o trigo a chamar as atenções das autoridades, na perspectiva de alimentar o PLANAGRÃ com 1800 toneladas. Em relação ao café, o administrador municipal, Francisco Prata, não tem dúvidas de que as acções em curso, sustentadas por 80 mil mudas já lançadas à terra, vão conferir ao país um estatuto internacional de produtor
Nos dias que correm, a comuna da Chicuma afigura-se como a capital da província na produção de cereais, destacando-se as culturas de milho e trigo. Conforme sublinha o administrador municipal, os níveis de produção ainda não satisfazem, daí se ter lançado o repto à classe empresarial nacional e internacional para investir na produção em grande escala e, com efeito, contribuir para que o PLANAGRÃO cumpra rigorosamente com os objectivos para os quais foi concebido.
Terras aráveis, clima e chuva são condições que a Ganda já dispõe, com o nível de precipitação a satisfazer quem lance regularmente a semente à terra. No ano agrícola 2022/2023, foram colhidas 600 toneladas de trigo num projecto sustentado por 500 famílias, chancelado pela Missão Católica da Cassipera, na comuna da Chicuma, que tem, neste momento, a província do Huambo como o único destino para o cereal, onde tem instalado indústrias de farinha e massa esparguete.
O padre Sabino Wahanhika, da referida missão, acredita que, com um pouquinho mais de abertura dos cordões às bolsas de bancos, se pode fornecer o produto a outras províncias do país. As indústrias para as quais se fornece o produto cultivado são as que financiam a cooperativa e põem à disposição dessa os insumos de que precisa para a produção. O nível de produção ainda não é o desejado, mas o sacerdote assegura estarem em curso acções para triplicar, porque “no ano agrícola 2022/2023 tivemos uma extensão de aproximadamente 700 hectares, com mais de 500 agricultores, entre pequenos e grandes”, sublinha.
O mentor do projecto pede aos bancos que ultrapassem as burocracias vigentes no acesso a créditos para pequenos agricultores, de modo a que a província de Benguela, por via da Ganda, possa produzir trigo em grande escala, uma vez que o país ainda importa parte considerável do produto. Aliás, sobre este tema, em se- de de discussão, na especialidade, do Orçamento Geral do Estado (OGE), o ministro de Estado para a Coordenação Económica, José de Lima Massano, afirmou que o país precisa de apostar seriamente na produção de alimentos. O governante deu conta que das reservas internacionais líquidas que o país tem, volta-e- meia, saem pouco mais de 400 milhões de dólares só para a importação de alimentos.
O padre Sabino adverte também para a necessidade de o Governo olhar com preocupação para as vias de acesso, que se afiguram como “calcanhar de Aquiles” no que ao escoamento de produtos do campo para a cidade diz respeito. O administrador municipal da Ganda, Francisco Prata, junta- se às lamentações do padre Sabino e sustenta que o escoamento de produtos ainda continua a ser um dos principais problemas com que os produtores locais se vêm debatendo. “A ligação das povoações às comunas ainda é muito deficiente”, reconhece e projecta a expansão da produção de trigo em toda extensão do município.
Não obstante as dificuldades apontadas, o governante apela aos empresários nacionais e estrangeiros que invistam no segmento da produção de alimentos na Ganda, acreditando que os investimentos do Estado vão inverter grande parte dos problemas vigentes. A par da produção de trigo, o município começou a desencadear, no presente ano agrícola, o processo de relançamento de café. Por via de uma cooperativa modelo, foram lançadas à terra pouco mais de 80 mil mudas, mas no stock administrativo há mais de 500 mil para entregar aos produtores e a quem quiser abraçar o projecto de relançamento de café. “Queremos que a Ganda reconquiste a sua divisa, que é o café”, reafirma, esperançado de que, daqui a três ou quatro anos, Ganda pode ter café até para exportar. Na época colonial, a Ganda foi um dos principais produtores na região centro-sul do país, predominando, na altura, a espécie café arábica.
“Fintar” a fome com produção nacional
Há, sensivelmente, três anos a Ganda constava na lista de localidades no país com níveis acentuados de fome, tendo, inclusive, registado mortes por falta de alimento e mánutrição. Face ao cenário de então, a Administração Municipal sentou à mesma mesa com os produtores (pequenos, médios e grandes) na perspectiva de encontrar a melhor a fórmula para se solucionar o problema. Na consulta mantida, “diagnosticou-se” a falta de imputes agrícolas como sementes, enxadas, catanas, multicultivadoras e moto-bombas para o fomento à agricultura e, deste modo, produzir alimento em grande escala. De acordo com o administrador, face ao problema diagnosticado, definiu-se um programa em sede do qual se previa todo o tipo de apoio para os produtores.
Galvanizados como estavam, em função dos recursos postos à disposição, os produtores lançaram-se ao desafio e colocaram na terra culturas como milho, feijão, massambala, trigo, mandioca, além de plantação de fruteiras, destacando-se mangueiras, laranjeiras, limoeiros e tangerineiros. Focados no combate à fome, usaram sementeiras de ginguba, batatas-rena e doce, hortícolas e outras culturas, capazes de acabar com a falta deste bem de primeira necessidade. “Nós, hoje, podemos dizer que não há problemas de fome aqui no município. Os camponeses, as co- operativas produziram o suficiente para alimentarem e, inclusive, para poderem vender”, gabou-se o governante.