O 22 de Novembro constitui uma efeméride importante entre os angolanos, já que é o dia reservado para o educador ou, mais precisamente, o professor, aquele elemento do sistema educativo que tem o papel de concretizar o desiderato previamente estabelecido e deixar claro a visão do Estado para com o seu povo.
E é assim considerado, como já sabemos, por ser neste dia, em 1977, que o primeiro Presidente de Angola, Dr. António Agostinho Neto, declarou aberta a campanha de alfabetização, na fábrica Textang II, em Luanda, tendo sido instituído como o Dia do Educador no ano subsequente, 1978.
Daí em diante, popularizou-se no seio dos angolanos como a data em que se procura reflectir sobre os principais desafios que esta classe enfrenta na sociedade.
Note-se que estes desafios são inúmeros, como as condições de trabalho, a questão dos subsídios e outros, entretanto, não é do nosso interesse, nesta reflexão, tornar como escopo a apresentação destes aspectos históricos e particulares, embora a data o seja, mas sim fazer uma viagem as diversas acepções e correspondências que a palavra professor tem nas diversas línguas, a começar pela sua origem etimológica.
Nesta senda, este texto trata-se de um estudo diacrónico e etimológico de algumas palavras que usamos nestas línguas para designar aquele profissional que tem grande parte da responsabilidade da transmissão de valores para as novas gerações, ou seja, aquele que permite concretizar o processo da tradição – à luz da acepção etimológica traditio de tradere significando transmitir ou passar, enviar, transferir.
Indo agora à vaca fria, e qual é a origem da palavra professor? Segundo o site brasileiro Origem da Palavra, o lexema professor deriva do latim professus “aquele que declarou em público” , que ,por sua vez, vem do verbo latino profitare “ declarar publicamente, afirmar perante todos” formado pelo morfema pro que dá a ideia de “ à frente” mais o radical fateri, que significa “reconhecer, confessar”.
Logo, trata-se de uma pessoa que se declara apta a fazer determinada coisa – no caso, ensinar, ou seja, o professor é aquele que assume a responsabilidade nobre de orientar, ensinar.
Por outra, veja-se que há várias palavras em português que possuem a mesma raiz e, portanto, significados contíguos por derivarem de um mesmo radical, é o caso do lexema profissão, que igualmente deriva do latim profiteri “ declarar em público” e aqui sempre com a presença do verbo latino fateri, que conforme já deixamos claro acima, dá-nos a ideia de reconhecer, confessar.
De acordo com esta acepção etimológica, pode-se, naturalmente, ter a ideia de que ambas as palavras, se bem que não muito usual neste âmbito, possuem um sentido que pertence a esfera do religioso e, assim, o professor ou o profissional é conforme aquele que se assume como adepto de uma religião, pronto a seguir escrupulosamente com os seus deveres.
Esta relação com o religioso torna-se mais clara com o verbo português professar, que surge deste mesmo radical, entretanto, neste caso, muito usado nas religiões; uma outra palavra que ,provavelmente, é cognata a estas, é o nome profeta.
Deste modo, entendemos que do ponto de vista etimológico, o professorado deve ser a profissão de que se deve professar (tentativa nossa de criação de aforismo).
Outra palavra muito usada em português é educador, que, segundo o site Ciberdúvidas, deriva do latim educator/is “ o que nutre, cria”, vindo do verbo educere, formado pelo prefixo ex, que significa “fora” mais o radical ducere “conduzir, guiar” em comparação com pedagogo, que nos chega do grego, junção de paidos, criança, mais agein, conduzir ou guiar, aquele que conduz as novas gerações.
Voltando ainda para o radical ducere, penso que é dele que surge outra palavra utilizada em português para denominar o professor, docente, parece ser o particípio presente daquele verbo, docens, docentis, significa ensinante, oriundo do indo-europeu dek, dak que dimanam nos verbos gregos dekomai, didasko, dokeo, daí didáctica de didaktike, a arte de ensinar.
Na língua latina, mãe do português, usava-se o significante magister “aquele que é maior” para designar o que chamamos hoje de professor, ela dá em português pela via popular em maestro ou ainda mestre e pela erudita origina o substantivo magistério, hodiernamente, lugar onde se forma aqueles que são enormes, os professores.
Repare-se que a palavra magister, segundo o mesmo site, é um comparativo a magnus “ grande”, basta ter como foco a sua raiz, que é formado pelo morfema magis “ mais”, logo o professor é aquele que é o mais, constituindo um antónimo de ministrum “ serviçal” que deriva da raiz mini “menos, pequeno”.
Destarte, apesar de actulmente a palavra ministro ser utilizada para denominar um alto cargo político, etimologicamente, o ministro é inferior ao magister, o professor.
No caso das línguas novilatinas, saiba-se que algumas continuam com o vocábulo, é o caso do castelhano que se traduz em maestro, mas também em muitos casos os falantes utilizam a palavra profesor , diferente do português em que maestro tem um significado distinto, já em italiano, comummente, segundo o infopédia.pt , há preferência pela palavra insignante “ ensinante” do verbo latino signare “ colocar dentro, alimentar”mas também usa-se as palavras professore e maestro, como o espanhol; em francês, não acontece o contrário, visto que se prefere professeur, pedagougue, enseignant, com o mesmo significado, por fim, outro idioma latino, mas com muita influência das línguas eslavas, sem muito efeito, no caso, é o romeno em que se dá o destaque a expressão profesor.
Se nas línguas românicas há estas similitudes, o mesmo não se pode dizer das germânicas, uma vez que o inglês usa a palavra teacher, derivado do verbo to teache, ensinar, enquanto que em alemão, usase a palavra Lehrerin, já em neerlandês leraar.
Vê-se, assim, uma certa diferença entre estas palavras, para terminar, saindo do quadro das línguas indo-europeias, foquemo-nos, na língua bantu da nação ovimbundu, em que se usa a palavra ulongisi “ aquele que ensina”, trata-se de uma espécie de derivação regressiva do verbo okulonga “ ensinar” homógrafo de okulongisa que significa aprofundar.
Tal como se pode ver, há muitas palavras que se usam para se referir ao professor e, pelo que se vê, todas com a ideia de transmitir, orientar, conduzir.
Por: FERNANDO TCHAKUPOMBA
*professor