Nos últimos anos, vai aumentando cada vez mais o número de pessoas que aderem a rede facebook, tanto que a partir do estrangeirismo (substantivo) facebook criou-se o verbo facebookar para referir que as pessoas estão no “face” o que é um aspecto muito interessante da língua, demonstrando outra vez que ela não é uma realidade estática.
Se analisarmos bem o comportamento das pessoas que possuem um smarthphone, verificaremos, provavelmente, que a cada momento que pegam no telemóvel, dão uma “olhadinha” nas actualizações nas redes sociais sobre o próprio bairro, província, país ou mesmo o mundo, nos diversos âmbitos ( religião, política, desporto, cultura etc.).
São muitos os motivos para se acessar o facebook, no entanto, há quem diga até que a rede social criada por Mark Zuckerberg deixou de servir como elemento facilitador de troca de mensagem entre os utentes e prefere-se, para a comunicação do género, o Whatsapp por causa das diversificadas formas de comunicação que apresenta.
Há um fenómeno no facebook que é chamado de meme de tal modo que esta rede social é vista como a rede dos memes, tanto que muitas pessoas que se encontram activas – ou se quisermos usar o anglicismo, em online – estão a navegar, na maioria das vezes, pelo mar das publicações (textos, frases, imagens e vídeos engraçados) do que conversar, o mais incrível é que existem internautas que se dedicam apenas na criação de memes de tal maneira que se criou um termo específico para estes indivíduos (memeiros).
O fenómeno meme não se reduz em Angola, é uma realidade global, pois, nestes tempos, com a famosa aldeia global, e, portanto, com a existência do espaço cibernético, há memeiros nos quatro cantos do mundo.
Não se pode negar que a radicalização do meme, entre os internautas angolanos, achou uma sumidade, um certo ambiente favorável, por conta de haver entre os mesmos um senso cômico muito forte.
Por isso, neste texto, importa aqui entender afinal o que é o meme? Qual origem da palavra meme? Que relação possui com o fenómeno educativo? Para responder as duas primeiras perguntas, recorremos ao Dicionário Online Priberam que entende esta palavra como um anglicismo (chega-nos do inglês meme) e é a redução do termo grego mimema, -atos, que significa imitação ou cópia.
Um argumento semelhante também é sustentado pelo site Origem da Palavra que acrescenta «é um encurtamento do Grego MÍMEMA, “algo copiado, imitado”, de MIMESTHAI, “imitar”» parece que afinal a origem desta palavra tem a ver com a ideia de mimesis, um termo criado por Aristóteles para definir a arte como imitação da realidade.
Para todos efeitos, o termo meme ( segundo o site online Significados) teria sido criado pelo zoólogo e escritor Richard Dawkins, em 1976, no seu livro “The Selfish Gene” (O Gene Egoísta) comparando a ideia de gene ao meme como “uma unidade de informação com capacidade de se multiplicar, através das ideias e informações que se propagam de indivíduo para indivíduo”.
Meme é, na verdade, um fenômeno que consiste na viralização de uma informação, ou seja, qualquer vídeo, imagem, frase, ideia, música e outros, que se espalhe entre inúmeros internautas de forma rápida, alcançando muita popularidade, logo, são informações virais que pela força da internet atingem milhões de pessoas.
A ideia de meme está intimamente ligada a algo copiado ou imitado e que se espalha com rapidez entre as pessoas.
Ainda segundo o mesmo site (significados), o primeiro meme a ser utilizado na internet foi provavelmente criado em 1998, por Joshua Schachter.
Eles são usados em várias redes sociais, entretanto, popularizaram-se mesmo no facebook, possivelmente, por causa da facilidade de acesso a esta rede e permitir um alcance enorme; diz-se isto, principalmente, no caso de Angola em que há uns anos era gratuito.
Como sabemos, o fenómeno educativo ocorre em todo lugar em que o ser racional se encontra, mormente, quando se trata de relações sociais e esta(s) rede(s) foi/foram criada(s) para permitir uma comunicação fácil e eficaz entre as pessoas.
Nesta perspectiva, é importante reconhecer o enorme papel e holístico desta(s) nova(s) tecnologia(s) para sociedade actual, precisamente, quando se fala do processo de partilha de informações ou conhecimentos, que com o advento desta(s) passaram a ser realizados de uma forma mais célere.
Por outra, na hodiernidade, as pessoas/angolanos fazem com alguma frequência o uso do facebook o que torna esta rede um espaço propício para educar as pessoas, visto que “se perde” muito tempo neste espaço cibernético.
E é neste sentido que o meme se torna um elemento precioso, porquanto permite, pela sua característica viral, chegar a um número elevado de pessoas/angolanos.
Ademais, amíude o meme possui um grande pendor burlesco, tornando a troca de informações mais jocosa e , assim, levar os internautas a aprenderem de forma mais descontraída.
Destarte, o facebook torna todos utentes na posição de um pedagogo, principalmente, os ditos memeiros, logo, surge aqui a necessidade de formar, no plano formal, um cidadão crítico o suficente que é capaz de não ajudar a propagar memes que vão contra os nossos valores culturais e éticos e usar este recurso cibernético viral da melhor forma possível.
Assim, entendemos o meme como um instrumento pedagógico eficaz nas mãos de um cidadão ( também internauta ou facebookador) consciencializado destes valores, já que estes podem o apartar de possível alienação.
Ainda sobre a pedagogia dos memes, no nosso caso, pode-se referir o grande papel, que têm desempenhado, no plano político, em despertar a consciência do cidadão, uma vez que existe, em Angola, uma espécie de democracia “onírica”, na medida em que há uma certa restrição do exercício de algumas liberdades como “ a de expressão”.
O “face”(na verdade as redes sociais) e os memes permitiram um exercício de cidadania mais consciente, trazendo nas abordagens assaz teor político, contrariando aquela famosa frase cantada pelo grande músico angolano Waldemar Bastos “Xé, menino, não fala política” que antigamente foi padrão, ou melhor, os memes ”desdogmatizaram” os assuntos políticos, passando estes a ser falados por qualquer cidadão angolano.
Tal como afirmámos acima, o meme é frequentemente hilário e muitas vezes é usado para fazer uma piada, ou melhor, de uma forma engraçada falar de alguém ou de si mesmo, são as muito populares , em Angola, as “ indirectas” o que se vê com frequência no seio dos internautas mais jovens.
Noutros casos, acontece uma certa mixórdia com as estigas, que são alquelas frases curtas e provocadoras com as quais se faz troças e ironiza-se alguém.
E normalmente, estas estigas-memes são publicadas, sendo repondidas por quem a carapuça servir.
Com efeito, há , com os memes, um forte processo de ironização e satirização realizadas por meio destas estigas, piadas e outros géneros, sobretudo quando se quer falar de um assunto que num dado momento foi tratado como se sagrado, a política.
Pode-se dar aqui como exemplo a famosa frase que se popularizou entre os internaustas angolanos antes das legislativas e executivas de 2022, “ 2022, vais gostar” ou as frequentes imagens de João Lourenço, no primeiro mandato, em que a sua cabeça foi colocada no corpo do actor norte-americano Arnold Schwarzenegger com a seguinte frase “ Jlo, o Exonerador Implacável”.
Outra mixórdia é com as famosas charges, usadas, frequentemente, para retratar uma injustiça e desigualdade social, direcionada não só ao Governo, mas também ao clero, particularmente, protestantes e neopentecostais, que apresentam uma vida bastante desproporcional, no quesito bem estar, em relação aos crentes; o meme-charges é usado para criticar a realidade social, o quotidiano sempre com aquela carcterística burlesca.
Ao fim e ao cabo, há várias formas mixórdicas de memes no facebook, entretanto o que interessa é usar esse recurso viral como instrumento para moralização do usuário, visto que este é também um cidadão e o facebook deve ser entendido como uma sala de aula maior com diversos pedagógos em que cada um dispõe de um recurso poderoso para educar, o meme.
Por: Fernando Tchacupomba