A organização terrorista Estado Islâmico reivindicou, através dos seus canais de propaganda, ter executado 11 cristãos em Moçambique, no distrito de Mocímboa da Praia, província de Cabo Delgado
O grupo terrorista, que actua na província de Cabo Delgado há praticamente seis anos, refere, igualmente, que atacou à bomba elementos das Forças Armadas moçambicanas.
Fontes locais ouvidas, ontem, pela Lusa avançam que o ataque terá ocorrido por volta das 15:00 de Sexta-feira (14:00 de Lisboa) em Naquitenge, uma aldeia do interior do distrito de Mocímboa da Praia, mas não confirmam a incursão contra elementos do exército moçambicano. “Quando eles chegaram ali convocaram uma reunião.
As pessoas da aldeia não sabiam que eles eram terroristas e, depois disso, começaram a separar os cristãos de muçulmanos, com base nos nomes.
Depois disso, abriram fogo contra os cristãos”, disse à Lusa uma fonte que perdeu o sobrinho durante o ataque.
Embora o Estado Islâmico reivindique a morte de 11 pessoas, fontes ouvidas pela Lusa falam de pelo menos 12 mortos no local e vários feridos.
“Eles praticamente ‘regaram’ as pessoas com tiros. Algumas pessoas ficaram feridas e fugiram para as matas. É um dos ataques mais cruéis de que já ouvimos falar”, avançou à Lusa outra fonte de Mocímboa da Praia que tem um familiar que conseguiu escapar de Naquitenge durante o ataque.
O distrito de Mocímboa da Praia foi aquele em que grupos armados protagonizaram o seu primeiro ataque em Outubro de 2017, tendo sido, por muito tempo, descrito como a “base” dos rebeldes.
Mocímboa da Praia está situada 70 quilómetros a Sul da área de construção do projeto de exploração de gás natural em Afungi, Palma, liderado pela TotalEnergies.
O Ministério da Defesa de Moçambique ainda não se pronunciou sobre o ataque. Esta incursão ocorre menos de um mês depois do anúncio, em 25 de Agosto, pelo chefe do EstadoMaior General das Forças Armadas de Moçambique, Joaquim Rivas Mangrasse, da eliminação do líder do terrorismo no país, o moçambicano Bonomade Machude Omar, juntamente com outros elementos da liderança do grupo terrorista.
Bonomade Machude Omar, considerado o líder do grupo radical Estado Islâmico em Moçambique, foi visado pela segunda fase da denominada operação “Golpe Duro II” do exército moçambicano.
O líder extremista era descrito por vários especialistas como “uma simbiose entre brutalidade e justiceiro”, constando na lista de “terroristas globais” dos Estados Unidos e alvo de sanções da União Europeia.
Em Agosto de 2021, os Estados Unidos da América incluíram Bonomade Machude Omar, também conhecido como Abu Sulayfa Muhammad e Ibn Omar, na lista de “Terroristas Globais Especialmente Designados” (SDGT).
A província de Cabo Delgado enfrenta há quase seis anos a insurgência armada com alguns ataques reclamados pelo grupo extremista Estado Islâmico.
No terreno, em Cabo Delgado, combatem o terrorismo – em ataques que se verificam desde outubro de 2017 e que condicionam o avanço de projectos de produção de gás natural na região – as Forças Armadas de Defesa de Moçambique, desde Julho de 2021 com apoio do Ruanda e da Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADC).
O conflito no Norte de Moçambique já fez um milhão de deslocados, de acordo com o Alto-Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), e cerca de 4 mil mortes, segundo o projecto de registo de conflitos ACLED, enquanto o Presidente moçambicano admitiu esta semana “mais de 2.000” vítimas mortais.