Apesar de aguardarem pelo fim do período de graça para avaliarem a actuação do novo Executivo, a Oposição defende a passagem da teoria à prática.
POR: Norberto Sateco
A questão do aprofundamento do diálogo e a participação activa da sociedade civil foi, para o maior partido na Oposição (UNITA) um dos pontos marcantes da mensagem de Ano Novo dirigida à Nação pelo Chefe de Estado angolano, João Lourenço. Em declarações a este jornal, o porta-voz do ‘Galo Negro’, Alcides Sakala, disse que apesar de pecar pelo atraso, faz todo sentido reforçar este diálogo com vista a dar soluções a questões estruturantes e mal resolvidas tendentes a construir uma sociedade mais justa e democrática.
“O diálogo deve ser aberto e profundo sobre grandes temas adiados, como o da Reforma do Estado, dos ex-militares, as autarquias e os processos eleitorais”, afirmou o político. Alcides Sakala acrescentou que o discurso continua a ser o de ‘intenções’ em que se coloca o benefício da dúvida, enquanto não forem demonstradas acções práticas. “Ainda está no seu período de graça, mas que já termina dentro de alguns dias. É preciso passar do discurso teórico à prática para que se possa fazer uma avaliação política mais assertiva”, finalizou o também deputado da UNITA, Alcides Sakala.
Já o líder do Partido de Renovação Social (PRS) afirmou ontem, em Luanda, que o discurso de fim-de- ano do Presidente da República, João Lourenço, são animadores embora não tragam nada diferente do que já tem prometido e encorajam- no a implementar na prática as medidas. Segundo Benedito Daniel, o mesmo “não foi para além do reiterar do programa de governação proposto nas últimas eleições de 23 de Agosto, em que ressalta o combate à corrupção”.
Aquele político entende que as mudanças e os indicadores sublinhados na actual governação são animadores, para a consolidação de um Estado “verdadeiramente democrático”, mas alerta ser necessário a colaboração de outras instituições do Estado, assim como das estruturas do partido que formou governo para a concretização das metas preconizadas. “Não basta fazer exonerações. É preciso passar do discurso à prática. E nisto o Bureau Político e Comité Central do MPLA devem colaborar”, sublinhou.
O líder dos renovadores sociais encorajou o Chefe de Estado angolano a prosseguir com as mudanças tendentes ao restabelecimento da legalidade das instituições do Estado e também ao combater às assimetrias regionais. “Queremos encorajá-lo a dar os passos firmes alinhando à prática o discurso que tem vindo a proferir”, referiu. A Frente Nacional de Libertação Nacional (FNLA) alinha no mesmo diapasão, considerando as mudanças e projecções do novo Governo serem encorajadoras, mas que espera que haja alguma participação das forças vivas da Nação. Apesar do voto de confiança, Lucas Bengui Ngonda levanta algum receio quanto à efectivação do programa de governo, sobretudo ao combate à corrupção alegadamente pelo facto de estar-se diante de uma governação bicéfala.
“Este é o grande problema, de saber se o Bureau Político do partido que governa está alinhado às intenções do Chefe de Estado para a concretização destas metas?”, questionou. O líder do partido “dos irmãos” esperava ver no discurso de João Lourenço, alusão à questão da Unidade Nacional, uma vez que continua a representar aquilo que chamou de “forte barreira” para o desenvolvimento de Angola. “Queremos que o angolano seja valorizado sem que se olhe para a cor partidária a que pertence, muito menos a sua região de origem. Precisamos de apostar na meritocracia”, afirmou Ngonda, tendo acrescido não significar que o actual Governo inclua necessariamente os membros da Oposição política, mas que pelo menos da sociedade civil organizada.