Durante a sua passagem por Angola, em 2009, Bento XVI deixou uma mensagem de paz, de união e de fé, mostrando aos líderes políticos e religiosos de que as questões humanas não podem ser mera- mente relaciona- das com as questões políticas
Foi, ontem, sepultado, um dos “gigantes” da Igreja Católica, Papa Emérito Bento XVI. A sua morte, aos 95 anos de idade, gerou comoção mundial devido ao seu carisma e a forma sabia e singular como conduziu a Igreja Católica de 2005 e 2013, tendo granjeado simpatia mundial. Angola, país que visitou em 2009, não ficou indiferente a sua morte que abalou a Igreja Católica e o mundo inteiro que, ontem, parou para assistir ao seu sepultamento a meio a um cenário de tristeza.
Quer a nível dos órgãos do Executivo como da sociedade civil angolana foram muitas as mensagens de pesar endereçada ao Vaticano pela morte de Bento XVI. O Presidente da República, João Lourenço, consta das personalidades que se manifestou triste pelo passamento físico de Bento XVI, tendo apresentado ao Papa Francisco e aos católicos as condolências e sentimento de pesar. A Vice-Presidente da República, Esperança da Costa, e a presidente da Assembleia Nacional, Carolina Cerqueira, perfilam, igualmente, a lista de figuras que “choraram” a morte de Ben- to XVI, que consideram ser um “humanista e defensor da fé, guardião e homem de amor”.
A Vice-Presidente da República lembrou o carinho especial que o Papa emérito demonstrou durante a visita efectuada a Angola, em 2009, durante a qual incentivou a juventude à busca permanente para o desenvolvimento do país. A governante relembrou o apelo feito pelo religioso aos angola- nos no sentido de manter a paz e a reconciliação nacional.
Maior legado
Ainda durante a sua passagem por Angola, Bento XVI deixou uma mensagem de paz, de união e de fé, mostrando aos líderes políticos e religiosos, de que as questões humanas não podem ser meramente relacionadas com as questões políticas O especialista em políticas lo- cais, Osvaldo João, disse que o Papa Bento XVI deixou aos angolanos o legado da verticalidade, quer na questão religiosa como na questão política, em que apelou aos líderes políticos e aos líderes religiosos a olharem para a necessidade de separar a religião da política.
Para Osvaldo João, o legado que o Papa Bento XVI queria deixar, quer na questão religiosa como na questão política, dentro do território angolano, é que os dirigentes têm que fazer política mas não persuadindo os cidadãos com a vertente religiosa, e, da mesma forma, os líderes religiosos têm que entender a necessidade de moldar a população no que toca aos aspectos pura e simplesmente religiosos, evitando ter contacto com a política.
O especialista afirmou que o Papa Emérito Bento XVI queria mostrar, em sua mensagem, a necessidade de separar as duas áreas para não haver choques e interesses particulares. Alegou que, actualmente, os dirigentes políticos têm interferi- do muito nas questões religiosas, rompendo as barreiras e tentando juntar o útil ao agradável, com o objectivo de obterem benefícios ainda maiores, o que considerou errado, defendendo que a religião não pode tocar com aspectos políticos. “Eu acredito que o Papa deixou essa mensagem, porque no mundo, em geral, tem-se notado uma febre em que as pessoas que estão a fazer política têm a tendência de combinar a questão religiosa, para facilmente persuadir e fazer uma lavagem cerebral aos munícipes, à população e aos militantes”, disse.
Interesses pessoais têm falado mais alto
Osvaldo João criticou a forma como os líderes religiosos têm passado a mensagem de Deus aos outros. Sublinhou que, actualmente, as pessoas que estão encarregues de passar a mensagem de Deus para os outros, muita das vezes, esquecem-se da sua responsabilidade e já não a fazem com genuinidade, por causa de interesses pessoais. “Os dirigentes da igreja Católica, especificamente em Angola, têm demonstrado um défice muito grande no que tange a esse aspecto, porque muitos deles, ultimamente, já não movem a igreja Católica, relacionando a população com interesses e a mensagem divina que deviam passar”, avançou.
Disse que tem havido uma interferência muito grande por parte desses líderes e algumas posições políticas, rompendo as barreiras que separem ou que de- vem separar um do outro. “Maior parte dos líderes da igreja Católica sabe da necessidade de ter um contacto com o Governo por causa da questão do poder político que é muito fundamental para esse tipo de questões, mas não com base à questão de Deus e sim porque eles acham que tendo uma aproximação de poder político estão salvaguardados, politicamente no país e estão praticamente salvaguardados em questões financeiras”, salientou. Por outro lado, o especialista defendeu a necessidade de os líderes religiosos reverem as suas normas, as suas políticas e os seus interesses para recomporem e fazerem o trabalho de Deus como se deve.