Também chamada “doença psicogénica de massas”, é uma das mais intrigantes situações psicológicas que se podem desenvolver na mente humana, porém tal situação não se aplica à onda de desfalecimentos que se tem desencadeado um pouco por todo o país.
POR: Alberto Bambi
Alguns psicólogos clínicos que deram voz a este jornal declinaram as alegações segundo as quais a histeria colectiva seria a causa da onda de desmaios que se regista nas escolas do ensino geral de Angola, tendo adiantado que tal evocação só faria sentido caso se fizesse um estudo minucioso de um fenómeno que já “grassa” por quase todo o território nacional.
Luís Bernardino, ex-director do Hospital Pediátrico, havia mesmo comparado o caso aos relatos de pessoas que “terão visto o sol ou o céu a mudar de cor, há 100 anos, em Fátima, Portugal”, tendo-se em seguida interrogado, por que razão a experiência nunca se repetiu e não foi possível comprovar, com factos ou provas materiais, como isso teria ocorrido.
O médico chegou mesmo a apelar por esforços para a desdramatização do fenómeno. O facto de a histeria colectiva ser um estado emocional teoricamente não controlado, ao ponto de ser classificado como um transtorno sem causa real, asseguram os especialistas de psicologia, alguns dos quais sob anonimato, que tais invocações podem dificultar ainda mais a solução do problema.
“O grande problema deste fenómeno é que o Governo não está a tomar decisões de resolução viáveis, porque, até ao momento, ainda não se constituiu uma equipa de especialistas ligados às áreas de Psicologia, Sociologia, Assistência Social, técnicos de saúde e de laboratórios, para se dedicarem a um estudo pormenorizado sobre os indicativos dos desfalecimentos”, reagiu, Suzana Mafuta, para quem este processo deveria merecer um acompanhamento mais sério.
À psicóloga clínica preocupa ainda o indicador que aponta para um número maioritário de vítimas constituídos por adolescentes, jovens e adultos do sexo feminino, uma situação que, segundo ela, pode comprometer o desempenho normal do género humano determinante na preservação e continuidade das gerações.
Trabalhos de investigação, como a auscultação das vítimas, caso a caso, das suas família e do meio em que vivem, além dos grupos de que fazem parte, como as turmas das escolas, grupos e demais estruturas de relacionamento e de amizades, são apontados por Suzana Mafuta como ferramentas essenciais conducentes a soluções plausíveis.
“Todos os meios de recolha de informações possíveis são importantes para o diagnóstico, de tal forma que os olvidados aspectos culturais também devem constar na lista dos objectos de estudo”, advogou a académica. Relativamente às propaladas sequelas que os desmaios poderão deixar nas raparigas, a psicóloga clínica reagiu dizendo que as sequelas constituem casos particulares de vítima a vítima, porquanto o organismo de cada uma e as suas capacidades é que vão definir as possíveis consequências.