Os filhos do casal, de 9, 7 e dois anos de idade, presenciaram a morte da mãe e passaram a noite de Sábado sozinhos em casa, com o cadáver, esperançados de que a mãe viesse a levantar-se ao amanhecer.
POR: Paulo Sérgio
Vanda Francisco Tchipuku, 28 anos, foi barbaramente espancada até à morte, por volta das 19 horas de Sábado, pelo próprio marido, identificado apenas por Manequim, 32 anos, com quem vivia há 13 anos, no bairro dos Cajueiros, distrito Urbano da Estalagem, município de Viana.
O ambiente de prenúncio de quadra festiva que se vivia no bairro, com alguns cristãos ansiosos pelo nascimento do “menino Jesus”, foi quebrado no momento em que Manequim, ladeado por seis amigos, surpreendeu os moradores ao espancar gratuitamente a sua esposa, em plena via pública, por alegadamente o ter traído.
Segundo uma das testemunhas oculares, que falou à nossa reportagem sob anonimato, o acusado terá sido falsamente persuadido por um amigo que lhe informara de que a sua esposa estava a traí-lo. Quando, na verdade, estava próximo de casa a conviver na companhia de algumas vizinhas. Chegado ao referido local, em companhia de amigos, entre os quais um parente seu, aparentemente drogados, Manequim partiu logo para a agressão à mulher que dizia amar.
Vanda, que se encontrava sob efeito de álcool, não consentiu, tentou defender-se como pôde, porém sem sucesso. O seu destino já havia sido traçado minutos antes. Os vizinhos tentaram conter os ânimos, porém, ele não aceitou. Tal era a sua fúria que empurrou um deles à parede, e ameaçou espancar as amigas da sua esposa, que bem conhecia, caso tentassem impedí-lo de concretizar os seus intentos.
Os seus acompanhantes fizeram barreira para impedi-los e o incentivaram o agressor a prosseguir. Sem meios para ajudar, pois, o posto de Polícia que está a menos de 100 metros, erguido pelos moradores para acolher os agentes da Ordem, para travar a onda de criminalidade que assola a localidade, há mais de dois anos aguarda pela ordem de ocupação do Comando Provincial de Luanda. Aos gritos, limitaram-se a implorar-lhe que parasse com as agressões. “Os amigos dele diziam: mate-a, mate-a”, recordou J.P com tristeza.
A testemunha ocular, vizinho de porta do casal, encontrava-se na varanda de casa quando Manequim levantou um bloco de cimento e atirou-o às costas da mãe dos seus três filhos, de 9, 7 e dois anos de idade. Ao vê-la inanimada, junto à porta de casa, revela o nosso interlocutor, o agressor advertiu-a que caso não se levantasse, havia de matá-la.
Acto contínuo, voltou a apanhar o bloco e atirou-lhe à cabeça. Consciente de que os vizinhos e os filhos presenciavam a cena, sem dó nem piedade, arrastou-a ao quintal de casa (T1), partiu-lhe os membros superiores e inferiores, furou-lhe um dos olhos, feriu-lhe os dois lados da face e desferiu-lhe vários golpes no órgão genital com a ajuda de um caco de garrafa.
Satisfeito com o feito, conduziu a vítima à sala e tapou-lhe o corpo com um lençol. Seguidamente, como se não tivesse feito nada de errado, saiu de casa, deixando os filhos entregues à sua sorte. E em companhia dos amigos, aussentou- se. “De manhã, encontramos já morta, ao lado dos filhos. Não sabiam que já estava morta”, contou. Minutos depois, no local, apareceu a mãe de Manequim acompanhada por um parente, que levou as crianças e informou aos vizinhos que iriam à busca de um carro para remover a vítima. Tal não Aconteceu.
Um lar “recheado” de violência doméstica
Adelina Raimundo, avó paterna de Vanda, confessou a OPAÍS que as brigas eram frequentes entre o casal, e que várias vezes ela se refugiara em sua casa. No princípio da segunda gestação, ela foi espancada pelo marido e refugiou-se na casa dos seus parentes, onde permaneceu até ao dia do parto. Mesmo com os conselhos da família de que deveria terminar a relação, Vanda acreditou nas promessas de Manequim de que mudaria de comportamento e viveriam muitos e longos anos felizes.
Quinze dias após o parto, decidiu esquecer tudo e regressou à casa com os dois filhos. “Não demorou muito tempo, fomos informados de que ela fora espancada novamente e tinha algumas partes do corpo inflamadas. Fomos à busca dela e viveu connosco algum tempo”, revelou Adelina Raimundo. O amor pelo Manequim falou mais alto e Vanda, que era órfã de mãe, informou ao seu progenitor que voltariam a viver juntos. O caso encontra-se sob alçada da Polícia.