Vendedores e armadores de peixe desesperados em meio ao encerramento do mercado da Mabunda

Para além de ser uma reconhecida fonte de peixe em Luanda, o mercado da Mabunda é também uma fonte de renda para muitos citadinos residentes no município da Samba e não só. O seu encerramento mudou o destino de armadores e vendedores de peixe que tinham o mercado como a única fonte de sustento para as famílias

O comunicado que dava conta do encerramento do mercado da Mabunda, publicado no dia 28 de Fevereiro do ano em curso, fez-se acompanhar de um apelo aos vendedores do mercado para que, assim que a medida entrasse em vigor, acorressem a outros mercados a fim de passarem a exercer as actividades nestes.

Entretanto, os vendedores da Mabunda mostram-se descontentes e indignados pelo facto de tal medida romper um ciclo que dura anos e deixar famílias a passar fome, pais endividados e pessoas desempregadas sem terem o que fazer para reverter a situação em que se encontram. Segundo contam, receberam, na última sexta-feira (07), ordens da Administração para se deslocarem à Praia Amélia e lá venderem o peixe, pelo que, no dia seguinte, cumpriram tal ordem.

No entanto, um dia depois, foram surpreendidos por agentes da Polícia Nacional a proibir que vendessem no local indicado pela Administração, porque este, tal como o mercado da Mabunda, não acolhia condições de higiene para os vendedores e tratadores de peixe. Num universo de centenas de armadores e vendedores de peixe, encontram-se pais de família e jovens sem alternativa que não conseguem fazer frente à fome. Alberto Dias, 32 anos, é um jovem armador de peixe e um dos afectados.

O jovem, morador do Caxixiba, município da Samba, é pai de três filhos e diz que estão a ser postos a correr pelos agentes da Polícia que se encontram no mercado. “A Administração está a atrapalhar nossas vendas, há uma semana que está complicado para mim sustentar os meus filhos, porque nós dependemos do peixe. Há quatro anos que sou armador e nunca tinha vivido isso, mas agora o governo vem em cima de nós, e até de senhoras mais velhas”.

Surpresa desagradável

Para os vendedores, a informação de que o mercado seria fechado para realização de obras de organização caiu como um balde de água fria e dizem que tal informação surgiu em má altura e devia ser de conhecimento público com mais tempo de antecedência, para permitir que se organizassem e arranjassem soluções viáveis ou que o Executivo criasse as mesmas condições.

“Ficámos tristes, e pelo que tínhamos em mente e nos foi dito pelo vice-governador, a limpeza duraria dois dias. Depois dessa informação, a administradora, com o responsável pela área da saúde, disse que o mercado vai fechar por um longo período de tempo, que podia ir até seis meses”, afirma Cipriano Wipi, armador no mercado.

Cipriano aponta a forma como a medida do executivo “afectou drasticamente” a vida dos processadores, principalmente a dos rapazes. Depois de tirar as chatas do mar, o jovem recebia um peixe e vendia por 500 ou 700 kwanzas, que servia para comprar um quilo de fuba e tomate, que servia de refeição do dia para a família.

Nos dias mais rentáveis, o jovem podia levar até 5000 kwanzas para a casa. Até às 14 horas do dia da entrevista, Cipriano dizia que, desde manhã, não tinha conseguido sequer um tostão para levar para casa, e horas depois tinha de voltar para a casa, localizada no Zango. Seria, tal como diz, mais um dia “normal” em que chegaria a casa e não teria como responder às súplicas dos dois filhos que clamariam ao progenitor que saciasse a sua fome, sem contar com a mais velha que se encontra doente.

“Agora, eu pergunto-me, se são ordens superiores, por que não nos mostram um lugar certo para fazermos as nossas atividades? Para além da Praia Amélia, não fomos indicados a vender num outro local. Por seu turno, Isabel Soares é vendedora no mercado da Mabunda há 39 anos. Com 50 anos de idade, a veterana tem três filhos, incluindo uma filha na faculdade e um filho autista. Estes filhos são sustentados apenas por ela que se encontra viúva há 11 anos. No mercado, Isabel vendia sal, carvão e peixe (seco e fresco).

Segundo a vendedora, no dia em que tomou conhecimento da medida de encerramento, tinha comprado muito negócio, e isso gerou enormes prejuízos incalculáveis. Por cada bancada, a Administração cobra(va) 1000 kwanzas, ao passo que, para as lonas, recebia, diariamente, 3000 kwanzas de cada comerciante. Isabel diz não entender aonde este dinheiro é investido, se não é usado para a limpeza do mercado.

Apesar de reconhecer o estado crítico em que se encontrava o mercado, a vendedora considera a higiene do(s) mercado(s) responsabilidade da Administração. “A higiene é problema de todos, mas a Administração, por receber dinheiro dos vendedores diariamente, não devia poupar esforços para garantir que o mercado esteja limpo e organizado”.

“Hoje, não tenho dinheiro, não sei onde vou arranjar dinheiro para sustentar a universidade da minha filha e a mensalidade do meu filho autista custa 50.000 kwanzas. Eu sou o pai e mãe em casa e agora não consigo pensar o que vou fazer para dar resposta a essa situação caótica que não sabemos quando se vai resolver.

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