Os alunos matriculados, sobretudo no ensino primário, no município do Quipungo, província da Huíla, esta abandonar as escolas por conta da fome, para se dedicarem na recolha de frutos silvestres, com destaque para o nonhandi
Nonhandi é um fruto silvestre que se assemelha à néspera, com um sabor doce, abundante na província da Huíla, concretamente nos municípios do Quipungo e Matala, bem como na província do Cunene.
A fase de amadurecimento e colheita ocorre nos meses de Agosto, Setembro e Outubro, envolvendo sobretudo mulheres e crianças em idade escolar, para a sua comercialização na sede municipal.
As famílias que habitam no interior do município de Quipungo usam este e outros frutos silvestres para sobreviverem da fome que as assola, por conta da seca que ciclicamente afecta aquela parcela da província da Huíla.
Depois de recolhidos, os frutos são vendidos aos preços que variam entre 50 e 200 Kwanzas. No período matinal, as ruas da sede municipal de Quipungo e as bermas ao longo da Estrada Nacional 220 são “pintadas” por crianças, entre meninas e meninos, com bacias de aproximadamente 5 quilogramas com os frutos para a sua comercialização, no advento de adquirirem algum valor monetário para a satisfação das necessidades familiares.
Pedro Kambinda, de 14 anos de idade, é aluno da 5.ª classe, e disse que desde o início das aulas ainda não foi à escola na qual foi matriculado, porque tem de aproveitar a época para a colheita do nonhandi e consequente venda, com vista a ajudar a mãe zungueira que trabalha para uma outra pessoa na venda de peixe do rio.
“Estamos no tempo seco e é nesta altura que aparece mais o nonhandi. Eu estudo de manhã, mas tive de ir no mato apanhar os frutos para vir vender aqui na vila e ajudar a minha mãe a comprar comida e sabão”, disse.
Um outro menor, que falou à nossa reportagem, é Francisco Kapalala, de 12 anos de idade, aluno da 4.ª classe, que também estuda no período da manhã, mas que à altura desta reportagem não tinha ido à escola, porque tinha sido dispensado pelo professor, por estar acamado.
Em meio à timidez, o nosso interlocutor disse que, para rentabilizar o tempo dispensado pelo seu professor, prefere dedicar-se à colheita e venda dos frutos para ajudar os seus pais no provimento de alimentos. “Eu estou a 4.ª classe. O meu professor está doente, por isso aproveitei ir ao mato colher o nonhandi, porque estamos a passar fome.
Os meus pais não cultivaram bem para não passar fome, estamos a vender este fruto, uma bacia de 5 quilogramas vendemos a 1500 ou a 2000 Kwanzas e um copo vendemos a 50 Kwanzas.
Depois de vender, entrego o dinheiro à minha mãe, para comprar tudo o que precisamos, sobretudo comida e sabão”, revelou.
Mariana Caquinda, de 16 anos de idade, disse que vive na localidade de Nongalafa, arredores da sede municipal de Quipungo, é aluna da 6.ª classe, mas teve de abandonar as aulas para vender o fruto, porque vive com a sua avó, já de idade muito avançada, o que a impede de fazer trabalhos forçados.
“Eu apanho estas frutas para vender e comprar comida e caderno para mim. Quando eu conseguir um dinheiro que possa dar para comprar estas coisas, aí sim, poderei ir para a escola e começar a estudar”, garantiu.
A recolha de frutos silvestres no município de Quipungo, com destaque para o nonhandi e o maboque, já constitui um hábito entre as famílias, sobretudo as mais vulneráveis, para garantir a sua subsistência, ante à crescente onda de subida de preços da cesta básica, que se assiste um pouco por todo o país.
POR:João Katombela, na Huíla