A médica veterinária e especialista em segurança alimentar, Carla Fernandes, encoraja as autoridades do país a criarem um plano eficiente de controlo da transumância do gado, a fim de se evitarem doenças que possam comprometer a população animal. “Entendo que seja uma questão cultural, mas é necessário tomar atenção, porque há riscos.
Vamos imaginar que haja uma doença de carácter infecto-contagiosa no Cunene, região de Angola que não chove muito, e os animais estão a ir para Huíla, Huambo e Bié. Já estarão a deixar rastos e a contaminar por onde passam”, exemplificou a médica veterinária.
Carla Fernandes detalhou que, na maior parte dos casos, se tratarão de doenças de declaração obrigatória, razão pela qual ela considera urgente a necessidade de se modernizarem os procedimentos. “Entendemos que não seja automaticamente para agora.
O que é urgente é mesmo começar, porque, se nós não tivermos um elemento que fale com as instituições que integram os serviços veterinários e o instituto de desenvolvimento agrário, será mais difícil.
Se não tivermos médicos veterinários que falem a língua dos produtores, vai ser mais complexo mudar o comportamento desses povos. A especialista, que reiterou o respeito aos aspectos culturais, adiantou que a situação se torna mais preocupante quando os produtores têm pouco conhecimento, uma vez que a produção animal está, cada vez mais, ligada à produção agrícola, sobretudo na vertente da produção de comida, tal como na ensilagem de produtos de origem animal e na produção de milho e ração.
Ela defende que, para a adopção de boas práticas, é necessário que o profissional esteja próximo da comunidade que produz. Segundo explicou, a movimentação dentro e fora de Angola tem a ver com a necessidade de se regulamentar melhor, porque depois condiciona o aparecimento de focos de doenças da febre afectosa, que, por sua vez, tem grande im- pacto ao nível da produtividade.
Quanto a campanhas de vaci- nas, Carla Fernandes reconheceu que tem havido alguma iniciativa para a criação de fábricas de me- dicamentos, mas alertou que ainda há muito para trilhar. “Eu sou de opinião que se continue a ter parcerias internacionais, capacitar e dar empregabilidade aos médicos veterinários.
Porque manter uma fábrica ou um laboratório de vacinas é uma opção a ter-se em conta, entretanto, ainda pode ser muito complicado. Vamos acreditar, porque está em curso um projecto da criação da fábrica de vacinas”, exortou.
Essa criação tem uma grande vantagem, de acordo com Carla Fernandes, que chamou atenção para o facto de uma mesma bactéria poder ter várias estirpes. “Quando trabalhamos em laboratório, para todo procedimento, designadamente como limpar, como fazer a pesquisa de salmonela, como fazer o controlo da qualidade de alimentos, da qualidade da água ou como vestir, as coisas andam bem no que toca à saúde humana”, declarou.
Quanto à investigação, disse que vai haver uma necessidade de se fazer um grande trabalho da situação serológica do país, o que também pode resultar na empregabilidade dos especialistas em medicina veterinária.
Regularidade na campanha de vacinação Carla Fernandes recordou que o timing da vacinação do gado depende também dos objectivos. No caso do gado bovino, referiu que se tem a produção intensiva e a extensiva, sendo a primeira a que se baseia no reforço com a ração para terem um indicador de peso mais rápido.
“Mas, como esses animais estão a maior parte do tempo confinados, também estão mais susceptíveis a doenças. Por isso, neste contexto, o plano de vacinas é diferente aos animais num plano extensivo”, esclareceu a médica veterinária, tendo relevado a necessidade de os engenheiros agrónomos e médicos veterinários poderem estar na comunidade para ajudarem os produtores a diminuírem esses procedimentos da transumância.
A entrevistada adianta que deve ser o profissional a planificar a quantidade, o espaço e ambiente que o vão guiar para a escolha do plano de exploração intensivo ou extensivo, de mo- do que, depois, opte para o melhor programa de sanidade referente às doenças de declaração obrigatória, que, por sinal, estão contempladas na lei da sanidade animal.