Jornalistas da Ecclésia, nas províncias de Benguela e Huambo, com os quais este jornal privou, acusam as respectivas dioceses, de que as emissoras dependem, de falta de vontade para a inversão do actual quadro.
Eles socorrem-se da história para sustentar a tese de que a Igreja tem sido a primeira a denunciar casos de injustiça social praticados pelo Governo e não é capaz de praticar um salário que, pelo menos, se aproxime aos 100 mil kwanzas por mês.
O que mais entristece grande parte de profissionais, que, entretanto, pedem para não serem identificados, por temerem represálias, é o facto de, em muitos casos, a Igreja Católica só exigir trabalhos sem ter em conta se existem ou não condições para os executar.
“Nós temos problemas técnicos, mas a Igreja Católica não quer saber, o que importa mesmo é que se transmitam as missas na íntegra e mais nada”, confessa um jornalista da rádio Ecclésia no Huambo, ao sinalizar que a rádio quase nada ganha em publicidades, porque empresários há que sofreram represálias por publicitar os seus negócios na estação radiofónica.
“Temem a acção de alguns membros do partido governante, deixandonos numa posição de mendicidade” – assinala – “Muitos empresários que tentam publicitar são boicotados e isso complica”, acrescenta.
Em rigor, sublinha o jornalista, não há salário na Ecclésia, o que existe, sim, são subsídios, que variam entre 30 e 35 mil kz, dados pela direcção da rádio, ao sustentar que a Igreja Católica tem várias fontes de receitas que, caso existisse vontade, se praticaria um salário distante dos mais de 30 mil kz.
O quadro vivido por profissionais no Huambo não fica longe dos de Benguela, onde jornalistas também reclamam de falta de salário no verdadeiro sentido da palavra.
Eles referem que o subsídio de 30 mil varia de acordo com a função que se exerça, havendo quem receba um pouco mais, mas que não vai para lá dos 40 mil. “Não temos salário, mas sim subsídio de comunicação e transporte.
A depender do cargo, mas posso garantir-te, não passa de trinta mil. Cada um pode levar, pelo menos, 30 mil Kz”, lamenta um profissional com vários anos de casa.
Levantamentos feitos por este jornal apontam que o quadro actual tem obrigado a que uma boa parte de profissionais se ocupe de outras actividades, sendo o professorado uma das saídas para o sustento de famílias. “Senão, meu irmão, é complicado depender da rádio. Aqui nós estamos mal”, elucida um outro jornalista, que, assim como os outros, pede para não ser identificado.
Católica acena para Governo
A Igreja Católica está ciente dessa realidade e manifesta-se incapaz para resolver o problema e acena para o Governo e parceiros. “É só saber que a rádio, em países normais vive de publicidade, vive daquilo que produz.
E nosso país é um país com alguma dificuldade”, começa por dizer o bispo da Diocese de Benguela, Dom António Jaka, em declarações ao jornal O PAÍS, à margem da cerimónia da passação de pastas do antigo para o novo governador.
Neste diapasão, o prelado católico justifica que a Igreja Católica não se beneficia de orçamento por parte do Estado para a gestão da rádio.
“O Governo sim tem orçamento para ajudar a comunicação social. Nós desenvolvemos um serviço público”, atira o ministro sagrado.
O sacerdote salienta, neste particular, que “ninguém dá o que não tem. Portanto, não é falta de vontade, mas é falta de meios, porque sabe que a Igreja vive de doação dos fiéis”, avisa o bispo de Benguela, que, na CEAST, já se ocupou da pasta da comunicação.
Para Dom Jaka, se os fiéis, que são as fontes de receita não dispõem de recursos, então a vida financeira da Igreja fica, em certa medida, comprometida.
Porém, esse quadro deixa a instituição religiosa bastante apreensiva e, em virtude disso, promete vir a fazer tudo para melhorar a vida dos seus trabalhadores.
“Já estamos a alinhar alguma estratégia para aquilo que é básico, para que todos tenham o mínimo necessário, para que possam desenvolver bem as suas actividades”, promete.
Por: Constantino Eduardo