Habitantes do Tômbwa clamam por mais serviços sociais para melhoria da qualidade de vida

O município do Tômbwa, que dista a 93 quilómetros da cidade de Moçâmedes, capital da província do Namibe, possui uma população estimada em 187 mil e 573 habitantes, que se dedica principalmente à pesca, à agricultura e à criação de gado. A falta de alguns serviços sociais básicos, como saúde e educação, tem vindo a preocupar os moradores daquele município piscatório do litoral Sul de Angola

A exiguidade de salas de aula, unidades sanitárias e postos policiais, no interior do município do Tômbwa, é apontada pelos seus habitantes como sendo as principais dificuldades que travam o desenvolvimento humano neste município da província do Namibe.

Os habitantes de alguns bairros e comunidades do então Porto Alexandre, que falaram à nossa reportagem, dizem viver momentos difíceis, sobretudo no que diz respeito à assistência médica e medicamentosa e ao acesso às salas de aulas por crianças em idade escolar.

Júlia Hóssi, moradora da povoação do Paiva, disse que, para que as crianças tenham aulas, foi necessário adaptar uma estrutura que antes funcionava como estufa para servir de escola, abrigando os alunos daquela localidade.

Os moradores da povoação do Paiva, cuja vida depende fortemente da pesca artesanal, solicitam a intervenção urgente das autoridades administrativas do município e da província para que o quadro seja invertido e melhore a qualidade de vida dos habitantes daquela municipalidade. “Temos um posto médico, não temos um posto policial, não temos um hospital, por isso temos tido muitas dificuldades, por isso queria que aumentassem o número de escolas, as salas não são suficientes. Por isso, os nossos filhos são obrigados a estudar na Estufa.

Queremos também que o Governo amplie o nosso Posto de Saúde, para que deixemos de percorrer longas distâncias à procura dos serviços médicos”, desabafou. Por sua vez, Carlos Quessongo, morador da sede municipal do Tômbwa, disse que a sua preocupação reside na falta de uma recolha de lixo mais eficaz, sobretudo ao longo da orla marítima, onde igualmente é comercializado o pescado que vai para as demais províncias do país.

Em seu entender, a falta de saneamento básico pode contribuir para o surgimento de diversas doenças, sobretudo numa fase em que o país está abraçado por um surto de cólera que já afecta algumas províncias.

O nosso interlocutor falou igualmente da falta de emprego que assola principalmente os cidadãos em idade activa no município do Tômbwa. Segundo disse, a maior parte dos jovens tem o seu sustento na pesca artesanal, que, de um tempo a esta parte, tem vindo a ser proibida pelo governo local.

“A nossa vida aqui no Tômbwa é daquelas como a dos demais do município, que se caracteriza por algumas actividades, sobretudo na pesca e na agricultura. Infelizmente, assistimos ao encerrar de muitas empresas, deixando assim centenas de jovens no desemprego.”, explicou, acrescentando que “ esta é uma realidade que, como munícipes, gostaríamos que fosse alterada aqui na nossa municipalidade.

Gostaríamos igualmente que fosse encontrado um modelo mais sustentável de re- colha de resíduos sólidos, sobretudo ao longo da orla marítima”. E rematou: “como podem ver, o peixe é vendido nesta zona com todo o lixo à volta, o que constitui uma ameaça à saúde pública”. Já Juliana Jamba, outra moradora da localidade do Paiva, arredores do município do Tômbwa, disse que faltam alguns equipamentos de recreação para a juventude e escola para o ensi- no médio, com vista a aumentar o nível académico da juventude.

“Viver aqui no Tômbwa é mui- to bom, apesar de não termos muitas oportunidades, as condições são razoáveis para a nos- sa sobrevivência, mas, ainda assim, há muita coisa por ser feita, sobretudo no que diz respeito a escolas de nível médio para elevar o nível académico dos jovens da nossa comunidade, criar espaços para a recreação dos jovens, porque aqui na nossa localidade os jovens estão mergulhados no alcoolismo, tudo porque não têm como ocupar os seus tempos livres”, afirmou.

Tômbwa necessita 300 professores

Omunicípio do Tômbwa, a 93 quilómetros da cidade de Moçâmedes, vai registando alguns avanços nos sectores da educação, saúde, fornecimento de energia eléctrica. Ainda assim, a falta de professores constitui uma das preocupações das autoridades administrativas da municipalidade.

De acordo com o director municipal da Educação, Edner Paiva, os avanços que se re- gistam no sector da educação traduzem-se na existência de um total de 339 salas de aulas, contra as 170 do ano de 2017, o que resulta no acréscimo de mais de 62 salas, num universo de 26 escolas, sendo que 80 por cento destas são do ensino primário.

“O sector da educação no município do Tômbwa goza de boa saúde, se nós fizermos uma comparação no período que vai desde 2017 até os dias de hoje, temos claros avanços, mas em contrapartida este sector tem desafios, em termos de força de trabalho, éramos 470 colaboradores entre professores e auxiliares de limpeza e hoje somos 784, muito embora, claro, ainda precisemos de pelo menos três centenas de professores para reforçar o sector”, informou.

Por outro lado, o responsável informou que a merenda escolar tem vindo a contribuir para a redução dos casos de absentismo nas escolas da parte dos alunos, sobretudo do ensino primário, que beneficia um total de 1302 crianças.

O director municipal da Educação disse que, em função do valor disponibilizado pela Administração Municipal do Tômbwa, o número de crianças beneficiadas ainda é ínfimo, tendo em conta a cifra de alunos do ensino primário naquele município.

“Antes servíamos uma merenda fria na base das guloseimas, fruto de uma concertação com o CACS, evoluímos para uma merenda quente, o critério é privilegiar aquelas escolas que estão muito distantes do casco urbano, estamos a falar de 1302 crianças”, garantiu o responsável.

Edner Paiva realçou que ainda “ estamos muito longe da meta, porque, como dizia, grande parte das escolas do município do Tômbwa são do ensino primário, o que equivale a mais de 13 mil alunos, por conta das limitações financeiras, conseguimos servir a merenda escolar quente e diversificada apenas a quase 10 por cento do número de alunos”.

Administração Municipal garante alterar o quadro

A Administração Municipal do Tômbwa garante inverter o actual quadro da vida social que preocupa os seus habitantes, nomeadamente nos sectores da educação, saúde, segurança, saneamento básico e a falta de emprego para a juventude local.

Esta garantia foi dada em exclusivo pelo administrador municipal do Tômbwa, Adilson Hachi, que está a dirigir os destinos daquele município piscatório da costa sul de Angola há dois meses, tendo dito que já foram definidas algumas linhas de actuação para o seu mandato.

Entre as linhas de força definidas pelo administrador municipal, o destaque recai sobre a recolha de lixo, construção de mais equipamentos sociais e criação de um bom ambiente de negócio com vista a atrair investidores nacionais e internacionais para a criação de empregos.

“O Tômbwa é um município riquíssimo, é conhecido pela actividade pesqueira que domina a sua economia em todos os segmentos, quer industrial, semi-industrial e artesanal. O governante salientou que o município vem despontando nos últimos tempos no sector agrícola, sobretudo na cultura do tomate e estão a ver também um crescimento exponencial no sector do turismo.

“Nós elegemos trabalhar com as pessoas, mas no detalhe, nós queremos essencialmente para além das atribuições que são tradicionais às estruturas do Estado, apostar fortemente na actividade empresarial, trabalhar com as empresas porque entendemos que, paralelamente ao Estado que absorve em termos de empregabilidade maior parte da população, é preciso que as iniciativas privadas vão cada vez mais e consoante o tempo, absorvendo outra parte da população, mas ainda não existe propriamente uma cultura empresarial, não é apenas uma realidade do Tômbwa”.

“Eu vejo isso em outros municípios também, mas é preciso começar a fazer perceber que temos que andar com outros parceiros institucionais, quanto mais forem empresas melhor, porque empregam pessoa, fazem circular a economia, dinamizam o ambiente de negócio e nós precisamos começar a fortalecer e estabelecer de facto uma cultura empresarial a nível do município em todos os sectores”, assegurou.

Relativamente ao saneamento básico, Adilson Hachi revelou que já estão em curso estudos de viabilidade para se encontrar um modelo de recolha de lixo, que constitui igualmente uma das preocupações dos habitantes do Tômbwa. Segundo o administrador municipal, é necessário envolver a comunidade na recolha do lixo, sobretudo nesta época em que o país encontra-se abraçado pelo surto de cólera, que já faz vítimas mortais em algumas províncias, com realce para Luanda.

“A questão do saneamento nos preocupa, nós somos responsáveis pela recolha do lixo, mas há aqui a necessidade de envolvermos a população no tratamento de resíduos. Primeiro porque a saúde dos munícipes funciona de forma preventiva com a contenção do lixo, mas isso tem que ser feito de forma sistemática, começar com os cidadãos e terminar então com as estruturas do Estado”, garantiu.

Acrescentando que, “nesta altura, o que nós estamos a fazer é uma recolha massiva dos pontos de lixo, encontramos cerca de 10 focos de lixo e estamos a recolher para depois partirmos para outra fase, que tem a ver com a acomodação do lixo, a criação de uma taxa e outras”.

O nosso interlocutor adiantou que, ainda assim, a falta de meios de recolha de lixo, com realce para camiões especializados, tem estado a contribuir para o fracasso deste projecto no município do Tômbwa.

POR:João Katombela, no Namibe

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